Venezuela: as «justificações» do império

Pedro Campos
A América Latina, tradicional quintal das traseiras de Washington, já não é tão dócil como o era e o império não gosta das últimas mudanças na correlação de forças. Vai daí começa a tratar de pôr as coisas em «ordem». Honduras foi a primeira vítima, mas a verdadeira grande pedra no sapato é Hugo Chávez e a revolução bolivariana, talvez o «pior» exemplo de governo para a América Latina depois de Cuba.
Washington, com George Bush e com Barack Obama – que as diferenças são só de estilo porque os fins imperialistas são os mesmos – já ensaiou várias «justificações» para uma eventual intervenção que ponha ponto final ao governo de Caracas. Em 2002 passou à acção directa com um golpe de Estado tão grotescamente encenado como o das Honduras, mas saiu-se mal. Entretanto, não pára de conspirar com a cumplicidade da oligarquia local e do poder avassalador dos meios de comunicação social. Neste momento, a «justificação» mais falada é a de que a Venezuela estaria a ponto de ser um narco-Estado, precisamente aquilo que é a Colômbia, hoje convertida em porta-aviões militar de Washington com novas bases gringas absolutamente à revelia da Constituição do país.

A Venezuela é «permissiva» com o narcotráfico?

Um relatório da GAO, agência do governo norte-americano, afirma isso mesmo, contrariando um estudo das Nações Unidas sobre o qual escreveremos noutra oportunidade. «Enquanto a Venezuela – diz o documento – tem as suas próprias iniciativas antinarcóticos e diz que não necessita da assistência dos Estados Unidos [Caracas correu com a DEA há vários anos], a informação disponível indica que o tráfico de drogas através da Venezuela aumentou...». Sem nenhuma base real, a mesma fonte adianta que o trânsito da cocaína multiplicou por quatro... desde que foi suspensa a colaboração com a DEA. Esta é a acusação. Vejamos alguns factos que não abonam esta tese-provocação.
Recentemente, as autoridades de Caracas interceptaram uma carga de 1400 quilos de marijuana na zona andina do Estado Mérida. A droga provinha da... Colômbia. Com esta acção ascende a 38 toneladas o total de drogas confiscadas pelo governo de Caracas. E a Colômbia, que faz para evitar a passagem da droga através da fronteira? Ao que parece não muito... e antes pelo contrário!
Dias antes sucedeu o seguinte. A Guarda Nacional Bolivariana apreendeu mais de três toneladas de marijuana – exactamente 3148 quilos – mesmo em cima da linha fronteiriça e logo no primeiro posto policial do Estado Táchira.
A droga provinha da... Colômbia! Só que neste caso, existe a evidência de que o camião era colombiano. O condutor e o ajudante eram colombianos. E a droga tinha passado por três postos de vigilância colombianos. Duas perguntas são evidentes: o regime de Uribe está a controlar mal a droga que sai do seu país ou está a enviá-la deliberadamente para Caracas para «justificar» a acusação de que a Venezuela é um narco-Estado?

Plano Colômbia e drogas

Apesar dos 5550 milhões de dólares em nove anos do Plano Colômbia, ou talvez precisamente porque ele existe, a Colômbia é o primeiro exportador de cocaína para os Estados Unidos, por sua vez o principal consumidor da droga. Quem afirma isto? Hugo Chávez? Não. A revelação vem no relatório mais recente da Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes (JIFE) e aparece no portal do El Tiempo, jornal colombiano. O representante neogranadino na JIFE, Camilo Uribe, disse à publicação que «em geral, da quantidade de cocaína que sai dos países andinos, a Colômbia lamentavelmente continua a ser o primeiro produtor e exportador de cocaína para a Europa e os Estados Unidos». Uribe, que faz parte da JIFE por decisão do governo colombiano, reconhece os sucessos dos seus vizinhos venezuelanos na luta contra a droga: «Há um aumento das apreensões de cocaína por parte do governo venezuelano».
Por certo, recordemos que há uma semana o governo bolivariano, sem a «ajuda da DEA», deportou para a Colômbia Carlos Javier Blanco Parra, conhecido como «o comerciante», que se especializava, entre outras actividades, na lavagem de activos resultantes do negócio do narcotráfico.
Só no que se refere a este ano, a Venezuela já deportou dez capos e apreendeu 26 aviões, 162 carros, 21 motos, oito herdades, outros tantos barcos, 33 prédios e cinco empresas. Tudo vinculado às drogas.


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