Uma imensa obra colectiva
Num almoço convívio da CDU em Sines, no domingo, que reuniu centenas de apoiantes, Jerónimo de Sousa destacou que a obra feita no concelho ao longo de mais de 30 anos deve-se a centenas de eleitos da CDU e ao seu projecto autárquico.
A CDU foi a força mais votada no Litoral Alentejano a 7 de Junho
O dia estava quente, mas à sombra dos pinheiros do Parque de Merendas de Sines reinava a descontracção e a boa disposição. À uma da tarde, a fila para as sardinhas parecia interminável, mas ninguém parecia preocupar-se verdadeiramente com isso: a espera era aproveitada para pôr conversas em dia e ninguém pretendia apressar os camaradas que, de forma voluntária, assavam o peixe e preparavam os pratos.
Pelo ambiente fraterno e descontraído que se vivia no local não era fácil adivinhar o sobressalto por que passaram recentemente, em Sines, os comunistas e os seus aliados: no início deste ano, o presidente da Câmara Municipal e alguns vereadores romperam com o Partido e com a CDU, apresentando-se às eleições autárquicas de 11 de Outubro como candidatos independentes.
«Não tinham esse direito», afirmaria, após o almoço, Francisco do Ó Pacheco, actual presidente da Assembleia Municipal e candidato da CDU à Câmara de Sines. Apresentando o comício, o candidato recordou as tradições democráticas e revolucionárias daquela terra, que os comunistas e os seus aliados «moldaram à sua imagem» nos últimos 33 anos. Desde as primeiras eleições autárquicas, realizadas em 1976, que a APU, primeiro, e a CDU, depois, merecem a confiança do povo de Sines.
Considerando que esta situação só serve aos adversários do desenvolvimento do concelho, Francisco Pacheco manifestou a sua confiança numa «boa resposta» nas eleições autárquicas. A unidade alcançada no interior do Partido e da coligação, que o convívio de domingo tão bem revelou, é seguramente um bom presságio. E os resultados das eleições europeias de 7 de Junho – em que a CDU foi a força mais votada em Sines, mas também em Alcácer do Sal, Grândola e Santiago do Cacém – são um estímulo adicional.
Momentos antes, tinham sido chamados ao palco os primeiros candidatos às restantes câmaras da região: António Balona, de Alcácer do Sal; Rafael Rodrigues, de Grândola; Cláudio Peixeiro, de Odemira; e Vítor Proença, de Santiago do Cacém.
Dever cumprido!
Em seguida, coube a Francisco Lopes, primeiro candidato da CDU pelo distrito de Setúbal, tomar da palavra para acusar o Governo e a sua política de prejudicarem os trabalhadores e as populações do concelho de Sines e da região. A sua conivência com a intenção da Repsol de passar para a Segurança Social e para os trabalhadores (reduzindo-lhes o vencimento) as responsabilidades salariais nos momentos de paragens técnicas é um exemplo. Como também o é o envio da GNR para reprimir os trabalhadores da ETAR de Ribeira de Moinhos, que lutavam pelos seus direitos, ao mesmo tempo que faltam efectivos para zelar pela segurança das populações.
Continuando, o deputado e dirigente do PCP realçou que a política do Governo tem vivido de «promessas, enganos e adiamentos». Em Sines isso foi claro, «com o anúncio feito com toda a pompa e circunstância pelo primeiro-ministro de novas unidades produtivas que já deviam estar a funcionar e que nunca chegaram a passar do papel, ou cujas obras se arrastam não se sabendo verdadeiramente se vão chegar a produzir». O corte no investimento público da administração central no distrito de Setúbal – de 73 por cento, entre 2004 e 2008 – teve também «consequências muito negativas».
Valorizando a actividade dos deputados comunistas eleitos pelo distrito, «que não tem paralelo com a de qualquer outra força», Francisco Lopes realçou a apresentação, pelo grupo parlamentar do PCP, do Plano de Desenvolvimento Integrado do Alentejo Litoral. Que seria chumbado por PS e PSD, à primeira, e pelo PS sozinho, à segunda. No quadro dos orçamentos de Estado, os comunistas propuseram a inscrição ou reforço de verbas em diversas áreas, como a salvaguarda do aparelho produtivo, o apoio aos pescadores, comerciantes e agricultores e a defesa dos serviços públicos. Não teriam melhor sorte…
Salientando que esta acção se projectará para o futuro mandato, o candidato comunista assumiu: «dirigimo-nos aos trabalhadores e à população com a consciência do dever cumprido».
Francisco Pacheco
Voltar a trabalhar com as pessoas
Francisco do Ó Pacheco é o primeiro candidato da CDU à Câmara Municipal de Sines nas eleições autárquicas de 11 de Outubro. Profundo conhecedor da realidade do concelho (ou não tivesse sido presidente da Câmara entre 1976 e 1997 e, desde então, presidente da Assembleia Municipal), falou ao Avante! da obra da CDU e dos desafios do futuro.
Avante! – Vive-se, em Sines, uma situação complicada, na sequência da ruptura do actual presidente da Câmara e de alguns vereadores com a CDU. Como é que a CDU se vai apresentar a estas eleições? Que obra tem para mostrar?
Francisco Pacheco – Estamos a preparar um documento onde vamos demonstrar todo o trabalho realizado pela CDU em Sines nestes mais de trinta anos: da construção dos portos de pesca de Sines e Porto Covo às mais de mil habitações, passando pelos mercados. O programa que está em curso é o que a CDU apresentou em 2005 e todos os equipamentos existentes são obra da CDU e devem ser mostrados como tal.
Quanto a essa ruptura, era previsível, pois os nossos princípios eram frequentemente desrespeitados e algumas orientações completamente esquecidas. O que veio a «entornar» isto tudo foi a assinatura, em Setembro do ano passado, do protocolo com o Ministério da Educação para a transferência de competências. A discussão foi profunda e a oposição do Partido era conhecida. Ainda assim, a Câmara assinou o protocolo.
Que avaliação fazes da gestão autárquica da Câmara de Sines, nestes últimos anos?
Nos últimos dois ou três anos, as coisas não correram tão bem e lamentamos o desfecho que tudo isto teve. Por exemplo, no que respeita ao desporto, o actual presidente pensa que o futuro dos equipamentos desportivos passa por uma nova «Cidade Desportiva». Ao mesmo tempo, a requalificação dos equipamentos existentes foi-se perdendo. Temos andado a falar com as colectividades desportivas e o panorama é lamentável. Há sedes de importantes colectividades que estão degradadas e campos sem condições. Tudo em nome da ideia mirífica da «Cidade Desportiva».
A que áreas vai a CDU dar prioridade?
Queremos reatar um relacionamento de proximidade com as pessoas, que se foi perdendo. Por exemplo, as nossas comunidades de produção de cultura passaram a ser mal tratadas. Os grupos e associações deixaram de ter apoios. Em nome de uma política «oficial» municipal, que se centralizou no Festival Músicas do Mundo. A nossa função de dirigentes políticos de um concelho é trabalhar com as comunidades e incentivá-las a fazerem elas próprias.
Pensamos ainda que as pescas necessitam de uma «intromissão» da autarquia. Os nossos pescadores pescam muito, mas demasiadas vezes peixe sem valor comercial e que acaba por ser lançado fora. Há todas as condições para que se possa fazer em Sines unidades de conserva ou de farinha de peixe, com o incentivo da Câmara.
Sines é um grande pólo industrial. Que ideias tem a CDU para essa área?
Não tem havido controlo e fiscalização à componente poluidora das grandes unidades industriais, como a Petrogal ou a Repsol. Não havendo uma autarquia reivindicativa que faça pressão sobre as entidades fiscalizadoras elas não vêem. Entendemos que uma nova unidade industrial deste género só se deve instalar depois de se fazer uma avaliação dos impactes ambientais, acumulados com os das que já cá estão, coisa que não se faz. Esta plataforma industrial precisa de ter limites de lei.
A marca da diferença
Coube a Jerónimo de Sousa encerrar os discursos no almoço de Sines. Perante centenas de apoiantes, o Secretário-geral do PCP destacou a «forma diferente de estar na política» por parte dos eleitos, candidatos e activistas da CDU: «Estamos na política para defender os interesses dos trabalhadores e do povo e não para nos servirmos a nós próprios.»
Chamando a atenção para o projecto da CDU, Jerónimo de Sousa exemplificou com o caso de Sines. «Esta obra que vemos não se deve a nenhum fulano entendido individualmente. Deve-se, sim, ao projecto da CDU e a todas as contribuições individuais que se uniram para a sua concretização.»
Para destacar ainda mais esta diferença, o dirigente do PCP contou que quando ali chegou, antes do almoço, foi cumprimentar os camaradas que assavam o peixe. Entre eles, relatou, estava um «camarada pescador, que foi deputado à Assembleia da República». «É isto que é a marca da diferença.»
Referindo-se às «sugestões» de entendimento com o PS, Jerónimo de Sousa afirmou: «não contem com o PCP para ratificar uma política contrária aos interesses do povo e dos trabalhadores.» A CDU, acredita, pode ser a «novidade destas eleições». É a força que, «a ganhar mais força, pode interromper este caminho e levar a uma mudança».
O Secretário-geral do Partido lembrou ainda que nenhuma das principais promessas eleitorais do PS foi cumprida. Entre as promessas mais notáveis, contava-se a criação de 150 mil postos de trabalho, o não aumento dos impostos ou a garantia de que nenhum reformado ficaria com menos de 300 euros.
Jerónimo de Sousa rejeitou ainda a ideia de que o Primeiro-ministro seja um «homem de coragem». «Não tem coragem nenhuma quando não toca nos grandes interesses e no poder económico e ataca aqueles que são mais frágeis.»
Pelo ambiente fraterno e descontraído que se vivia no local não era fácil adivinhar o sobressalto por que passaram recentemente, em Sines, os comunistas e os seus aliados: no início deste ano, o presidente da Câmara Municipal e alguns vereadores romperam com o Partido e com a CDU, apresentando-se às eleições autárquicas de 11 de Outubro como candidatos independentes.
«Não tinham esse direito», afirmaria, após o almoço, Francisco do Ó Pacheco, actual presidente da Assembleia Municipal e candidato da CDU à Câmara de Sines. Apresentando o comício, o candidato recordou as tradições democráticas e revolucionárias daquela terra, que os comunistas e os seus aliados «moldaram à sua imagem» nos últimos 33 anos. Desde as primeiras eleições autárquicas, realizadas em 1976, que a APU, primeiro, e a CDU, depois, merecem a confiança do povo de Sines.
Considerando que esta situação só serve aos adversários do desenvolvimento do concelho, Francisco Pacheco manifestou a sua confiança numa «boa resposta» nas eleições autárquicas. A unidade alcançada no interior do Partido e da coligação, que o convívio de domingo tão bem revelou, é seguramente um bom presságio. E os resultados das eleições europeias de 7 de Junho – em que a CDU foi a força mais votada em Sines, mas também em Alcácer do Sal, Grândola e Santiago do Cacém – são um estímulo adicional.
Momentos antes, tinham sido chamados ao palco os primeiros candidatos às restantes câmaras da região: António Balona, de Alcácer do Sal; Rafael Rodrigues, de Grândola; Cláudio Peixeiro, de Odemira; e Vítor Proença, de Santiago do Cacém.
Dever cumprido!
Em seguida, coube a Francisco Lopes, primeiro candidato da CDU pelo distrito de Setúbal, tomar da palavra para acusar o Governo e a sua política de prejudicarem os trabalhadores e as populações do concelho de Sines e da região. A sua conivência com a intenção da Repsol de passar para a Segurança Social e para os trabalhadores (reduzindo-lhes o vencimento) as responsabilidades salariais nos momentos de paragens técnicas é um exemplo. Como também o é o envio da GNR para reprimir os trabalhadores da ETAR de Ribeira de Moinhos, que lutavam pelos seus direitos, ao mesmo tempo que faltam efectivos para zelar pela segurança das populações.
Continuando, o deputado e dirigente do PCP realçou que a política do Governo tem vivido de «promessas, enganos e adiamentos». Em Sines isso foi claro, «com o anúncio feito com toda a pompa e circunstância pelo primeiro-ministro de novas unidades produtivas que já deviam estar a funcionar e que nunca chegaram a passar do papel, ou cujas obras se arrastam não se sabendo verdadeiramente se vão chegar a produzir». O corte no investimento público da administração central no distrito de Setúbal – de 73 por cento, entre 2004 e 2008 – teve também «consequências muito negativas».
Valorizando a actividade dos deputados comunistas eleitos pelo distrito, «que não tem paralelo com a de qualquer outra força», Francisco Lopes realçou a apresentação, pelo grupo parlamentar do PCP, do Plano de Desenvolvimento Integrado do Alentejo Litoral. Que seria chumbado por PS e PSD, à primeira, e pelo PS sozinho, à segunda. No quadro dos orçamentos de Estado, os comunistas propuseram a inscrição ou reforço de verbas em diversas áreas, como a salvaguarda do aparelho produtivo, o apoio aos pescadores, comerciantes e agricultores e a defesa dos serviços públicos. Não teriam melhor sorte…
Salientando que esta acção se projectará para o futuro mandato, o candidato comunista assumiu: «dirigimo-nos aos trabalhadores e à população com a consciência do dever cumprido».
Francisco Pacheco
Voltar a trabalhar com as pessoas
Francisco do Ó Pacheco é o primeiro candidato da CDU à Câmara Municipal de Sines nas eleições autárquicas de 11 de Outubro. Profundo conhecedor da realidade do concelho (ou não tivesse sido presidente da Câmara entre 1976 e 1997 e, desde então, presidente da Assembleia Municipal), falou ao Avante! da obra da CDU e dos desafios do futuro.
Avante! – Vive-se, em Sines, uma situação complicada, na sequência da ruptura do actual presidente da Câmara e de alguns vereadores com a CDU. Como é que a CDU se vai apresentar a estas eleições? Que obra tem para mostrar?
Francisco Pacheco – Estamos a preparar um documento onde vamos demonstrar todo o trabalho realizado pela CDU em Sines nestes mais de trinta anos: da construção dos portos de pesca de Sines e Porto Covo às mais de mil habitações, passando pelos mercados. O programa que está em curso é o que a CDU apresentou em 2005 e todos os equipamentos existentes são obra da CDU e devem ser mostrados como tal.
Quanto a essa ruptura, era previsível, pois os nossos princípios eram frequentemente desrespeitados e algumas orientações completamente esquecidas. O que veio a «entornar» isto tudo foi a assinatura, em Setembro do ano passado, do protocolo com o Ministério da Educação para a transferência de competências. A discussão foi profunda e a oposição do Partido era conhecida. Ainda assim, a Câmara assinou o protocolo.
Que avaliação fazes da gestão autárquica da Câmara de Sines, nestes últimos anos?
Nos últimos dois ou três anos, as coisas não correram tão bem e lamentamos o desfecho que tudo isto teve. Por exemplo, no que respeita ao desporto, o actual presidente pensa que o futuro dos equipamentos desportivos passa por uma nova «Cidade Desportiva». Ao mesmo tempo, a requalificação dos equipamentos existentes foi-se perdendo. Temos andado a falar com as colectividades desportivas e o panorama é lamentável. Há sedes de importantes colectividades que estão degradadas e campos sem condições. Tudo em nome da ideia mirífica da «Cidade Desportiva».
A que áreas vai a CDU dar prioridade?
Queremos reatar um relacionamento de proximidade com as pessoas, que se foi perdendo. Por exemplo, as nossas comunidades de produção de cultura passaram a ser mal tratadas. Os grupos e associações deixaram de ter apoios. Em nome de uma política «oficial» municipal, que se centralizou no Festival Músicas do Mundo. A nossa função de dirigentes políticos de um concelho é trabalhar com as comunidades e incentivá-las a fazerem elas próprias.
Pensamos ainda que as pescas necessitam de uma «intromissão» da autarquia. Os nossos pescadores pescam muito, mas demasiadas vezes peixe sem valor comercial e que acaba por ser lançado fora. Há todas as condições para que se possa fazer em Sines unidades de conserva ou de farinha de peixe, com o incentivo da Câmara.
Sines é um grande pólo industrial. Que ideias tem a CDU para essa área?
Não tem havido controlo e fiscalização à componente poluidora das grandes unidades industriais, como a Petrogal ou a Repsol. Não havendo uma autarquia reivindicativa que faça pressão sobre as entidades fiscalizadoras elas não vêem. Entendemos que uma nova unidade industrial deste género só se deve instalar depois de se fazer uma avaliação dos impactes ambientais, acumulados com os das que já cá estão, coisa que não se faz. Esta plataforma industrial precisa de ter limites de lei.
A marca da diferença
Coube a Jerónimo de Sousa encerrar os discursos no almoço de Sines. Perante centenas de apoiantes, o Secretário-geral do PCP destacou a «forma diferente de estar na política» por parte dos eleitos, candidatos e activistas da CDU: «Estamos na política para defender os interesses dos trabalhadores e do povo e não para nos servirmos a nós próprios.»
Chamando a atenção para o projecto da CDU, Jerónimo de Sousa exemplificou com o caso de Sines. «Esta obra que vemos não se deve a nenhum fulano entendido individualmente. Deve-se, sim, ao projecto da CDU e a todas as contribuições individuais que se uniram para a sua concretização.»
Para destacar ainda mais esta diferença, o dirigente do PCP contou que quando ali chegou, antes do almoço, foi cumprimentar os camaradas que assavam o peixe. Entre eles, relatou, estava um «camarada pescador, que foi deputado à Assembleia da República». «É isto que é a marca da diferença.»
Referindo-se às «sugestões» de entendimento com o PS, Jerónimo de Sousa afirmou: «não contem com o PCP para ratificar uma política contrária aos interesses do povo e dos trabalhadores.» A CDU, acredita, pode ser a «novidade destas eleições». É a força que, «a ganhar mais força, pode interromper este caminho e levar a uma mudança».
O Secretário-geral do Partido lembrou ainda que nenhuma das principais promessas eleitorais do PS foi cumprida. Entre as promessas mais notáveis, contava-se a criação de 150 mil postos de trabalho, o não aumento dos impostos ou a garantia de que nenhum reformado ficaria com menos de 300 euros.
Jerónimo de Sousa rejeitou ainda a ideia de que o Primeiro-ministro seja um «homem de coragem». «Não tem coragem nenhuma quando não toca nos grandes interesses e no poder económico e ataca aqueles que são mais frágeis.»