O compadrio...
O PS, o Governo, que nada mais é do que uma extensão de um partido, e a Igreja fundamentalista e de mercado deram esta semana um importante passo em frente nos caminhos da instrumentalização do Poder e do regresso ao matrimónio Igreja/Estado que caracterizou todo o longo período do fascismo. Com a rendição total do Governo às imposições eclesiásticas (ainda não se conhece bem toda a extensão dessas cedências ) pode desde já afirmar-se que o princípio da laicidade e independência do Estado foi oferecido num cofre doirado à Cátedra de S. Pedro que Bento XVI tão sabiamente ocupa.
Tão nítida é esta evidência que ainda há poucos dias - ainda não eram publicamente conhecidos os termos do novo acordo - o prof. João César das Neves, figura grada da Igreja e do Opus Dei - teve este desabafo na resposta que deu à pergunta se considerava que a Igreja portuguesa dependia do Estado: «O Estado é o intermediário, através dos impostos, dos pagamentos às misericórdias e às IPSS. Portanto, sim, a Igreja também depende do Estado». Em resumo: ao Estado compete cobrar os impostos que depois transfere para a Igreja; em seguida, recuar em todas as áreas que a Igreja reclama como suas e permitir que muitas das suas competências institucionais sejam transferidas para estruturas católicas obedientes a Roma. É este o sentido das alterações de fundo introduzidas na revisão do texto concordatário.
Uma outra face oculta deste enlace do poder, do capital e da cruz, é a de que também o Estado depende da Igreja. Veja-se, só, como este baixar de braços de Sócrates se deu nas vésperas dos actos eleitorais que se aproximam. Sobre as contrapartidas nada se diz.
Uma vergonhosa rendição
É claro que tudo isto irá fazer correr muita tinta. E não nos passa pela cabeça dizer aqui «da missa a metade». É tema para ter um longo tratamento, há medida que os factos que aí vêm sejam conhecidos. Só duas ou três notas a propósito das grandes manobras que se desenrolam no silêncio dos deuses.
O Governo deve andar depressa. A Igreja tem metas prioritárias a atingir, mesmo antes das eleições. E Sócrates não deve tentar enganar os cardeais. Promessas são promessas, negócios são negócios. O alto clero exige acção imediata na segurança social, no trabalho, na saúde, no ensino, nas cadeias, nas forças armadas e nas polícias. Só depois Deus será restaurado e o Governo «socialista» também.
Ainda o Conselho de Ministros não ratificou a nova concordata e já o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, anunciou a transferência para as IPPSS, as Ongs, as Misericórdias e outras estruturas católicas de mais um milhão e 400 mil euros de fundos do Estado, como incentivo à acção social da Igreja. Algumas «fugas» da imprensa revelam ainda que os capelães católicos dos hospitais, prisões, quartéis, forças de segurança e outros serviços públicos vão ser pagos a «recibos verdes», através do Orçamento Geral do Estado. A «sociedade civil» terá livre pulso no ensino, no «combate à pobreza», nas áreas do desemprego e da «solidariedade social», etc. Todas as suas acções contarão com um «voluntariado católico» parcial ou inteiramente pago pelo Estado.
Será interessante analisar-se o texto do acordo logo após este ser divulgado. Por enquanto, o episcopado português declara-se moderadamente satisfeito com os progressos alcançados e continua a queixar-se de «asfixia democrática». Quer mais.
Mais, no controlo da assistência espiritual. Mais, no monopólio da rede dos cuidados continuados, na Saúde. Mais, na articulação das funções das escolas públicas e das misericórdias. Mais, no plano do emprego, dos bancos alimentares, das fundações humanitárias, do ensino religioso e do universo prisional. É uma autêntica «bola de neve» que só se deterá quando alguem a detiver. O que, de momento, é totalmente improvável. A «sagrada aliança» continua a funcionar. Por tanto tempo quanto o que for consentido à sobrevivência do «eixo sagrado» do capitalismo e da religião.
Tão nítida é esta evidência que ainda há poucos dias - ainda não eram publicamente conhecidos os termos do novo acordo - o prof. João César das Neves, figura grada da Igreja e do Opus Dei - teve este desabafo na resposta que deu à pergunta se considerava que a Igreja portuguesa dependia do Estado: «O Estado é o intermediário, através dos impostos, dos pagamentos às misericórdias e às IPSS. Portanto, sim, a Igreja também depende do Estado». Em resumo: ao Estado compete cobrar os impostos que depois transfere para a Igreja; em seguida, recuar em todas as áreas que a Igreja reclama como suas e permitir que muitas das suas competências institucionais sejam transferidas para estruturas católicas obedientes a Roma. É este o sentido das alterações de fundo introduzidas na revisão do texto concordatário.
Uma outra face oculta deste enlace do poder, do capital e da cruz, é a de que também o Estado depende da Igreja. Veja-se, só, como este baixar de braços de Sócrates se deu nas vésperas dos actos eleitorais que se aproximam. Sobre as contrapartidas nada se diz.
Uma vergonhosa rendição
É claro que tudo isto irá fazer correr muita tinta. E não nos passa pela cabeça dizer aqui «da missa a metade». É tema para ter um longo tratamento, há medida que os factos que aí vêm sejam conhecidos. Só duas ou três notas a propósito das grandes manobras que se desenrolam no silêncio dos deuses.
O Governo deve andar depressa. A Igreja tem metas prioritárias a atingir, mesmo antes das eleições. E Sócrates não deve tentar enganar os cardeais. Promessas são promessas, negócios são negócios. O alto clero exige acção imediata na segurança social, no trabalho, na saúde, no ensino, nas cadeias, nas forças armadas e nas polícias. Só depois Deus será restaurado e o Governo «socialista» também.
Ainda o Conselho de Ministros não ratificou a nova concordata e já o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, anunciou a transferência para as IPPSS, as Ongs, as Misericórdias e outras estruturas católicas de mais um milhão e 400 mil euros de fundos do Estado, como incentivo à acção social da Igreja. Algumas «fugas» da imprensa revelam ainda que os capelães católicos dos hospitais, prisões, quartéis, forças de segurança e outros serviços públicos vão ser pagos a «recibos verdes», através do Orçamento Geral do Estado. A «sociedade civil» terá livre pulso no ensino, no «combate à pobreza», nas áreas do desemprego e da «solidariedade social», etc. Todas as suas acções contarão com um «voluntariado católico» parcial ou inteiramente pago pelo Estado.
Será interessante analisar-se o texto do acordo logo após este ser divulgado. Por enquanto, o episcopado português declara-se moderadamente satisfeito com os progressos alcançados e continua a queixar-se de «asfixia democrática». Quer mais.
Mais, no controlo da assistência espiritual. Mais, no monopólio da rede dos cuidados continuados, na Saúde. Mais, na articulação das funções das escolas públicas e das misericórdias. Mais, no plano do emprego, dos bancos alimentares, das fundações humanitárias, do ensino religioso e do universo prisional. É uma autêntica «bola de neve» que só se deterá quando alguem a detiver. O que, de momento, é totalmente improvável. A «sagrada aliança» continua a funcionar. Por tanto tempo quanto o que for consentido à sobrevivência do «eixo sagrado» do capitalismo e da religião.