Municípios alentejanos defendem água pública

José Catalino (Membro da Comissão Política)
Mais de uma vintena de municípios do Alentejo chegaram a acordo com a empresa pública Águas de Portugal para a criação de um sistema destinado a melhorar o abastecimento de água «em alta» e o saneamento básico em vastas áreas.

«A solução encontrada é diferente dos sistemas multimunicipais»

Agora, vai ser assinado um contrato de parceria pública entre o Estado e aqueles municípios (23 ao todo, 14 do distrito de Beja, cinco de Évora e quatro do Litoral Alentejano). A parceria assegura a natureza pública da empresa gestora a constituir, a manutenção da propriedade dos municípios sobre os investimentos e preços da água socialmente justos.
Desde o tempo de José Sócrates como ministro do Ambiente que os sucessivos governos – desde o de Guterres até ao actual, passando pelos de Durão e Santana – boicotaram a candidatura a fundos comunitários do projecto elaborado por municípios alentejanos com vista a resolver o problema do abastecimento de água «em alta» e do saneamento às populações. Ao longo de quase uma década, o projecto foi reformulado 11 vezes (!) mas esbarrou sempre com argumentos «técnicos», que escondiam a verdadeira causa de os governos não encaminharem para Bruxelas a proposta dos municípios do Alentejo, ao contrário do que fizeram em relação a outras regiões mais «dóceis» que aceitaram a imposição dos sistemas multimunicipais (com transferência de competências dos municípios para as empresas, com a possibilidade da sua privatização, com os instrumentos de gestão nas suas mãos e com preços de água mais elevados). A verdade é que os governos do PS e do PSD nunca aceitaram que autarcas alentejanos tivessem optado por sistemas intermunicipais de abastecimento de água «em alta», com garantias de uma gestão pública.

As diferenças

Para desbloquear o impasse, decorreram nos últimos meses conversações entre os municípios envolvidos e a Águas de Portugal, caracterizando-se o acordo agora alcançado para a celebração de uma parceria pública pelos seguintes aspectos:
– os municípios encontraram na empresa pública Águas de Portugal um parceiro tecnológico e financeiro;
– a solução adoptada baseou-se no princípio da delegação de competências dos municípios no Estado, que por sua vez as delega na entidade gestora. No caso de a entidade sair da esfera do sector empresarial do Estado a parceria caduca;
– foi garantido o carácter integralmente público da entidade a constituir. O contrato tem como objecto o estabelecimento de um Sistema Público de Parceria Integrado de Águas do Alentejo, que caduca caso a Águas de Portugal seja privatizada;
– foi assegurada a concepção dos investimentos a promover, bem como a candidatura para financiamento do sistema por fundos comunitários;
– foi garantida a manutenção da propriedade dos municípios sobre os investimentos;
– foi garantida a sustentabilidade do sistema a preços socialmente justos e incluídos mecanismos determinando que a tarifa não é o critério principal para o equilíbrio económico-financeiro. O prazo acordado de 50 anos e a amplitude do serviço a prestar colocaram o valor tarifário abaixo dos praticados nas Águas do Centro Alentejo e das Águas do Norte Alentejano, os sistemas multimunicipais em funcionamento na região.
– foi garantida uma dinâmica societária que salvaguarde para os municípios a transferência das participações a valor patrimonial deduzida dos fundos comunitários.
– tendo em conta que a empresa a criar ficará com capital maioritário da Águas de Portugal (51%), foi assegurada no processo de tomada de decisões a necessidade de maioria de dois terços nos planos de actividade, de investimento e financeiros, nos projectos tarifários e nos projectos de reequilíbrio económico-financeiro.
Em suma, a solução encontrada é diferente dos sistemas multimunicipais, designadamente nas competências dos municípios – delegadas e não retiradas, na dinâmica societária, na garantia de parceria pública e na forma como são tomadas as principais decisões.

Opção justa

Os municípios alentejanos envolvidos neste acordo – da CDU e de outras forças políticas – optaram, e bem, por um sistema de abastecimento de água «em alta» que garante a natureza pública da entidade que vai gerir o processo, assegura a manutenção da propriedade dos municípios sobre os investimentos e salvaguarda preços socialmente justos. Tudo isto deliberado de forma democrática e transparente, tendo em conta os interesses das respectivas populações. Por isso, bem podem os habituais pescadores de águas turvas tentar sacar dividendos eleiçoeiros com uma campanha de grosseiras falsidades: os democratas, os trabalhadores e outros sectores e camadas sociais do Alentejo sabem desde há muito quem nas autarquias trabalha pelo desenvolvimento da sua terra e defende os interesses das populações com honestidade, competência e dedicação.


Mais artigos de: Opinião

Golpe «<i>Made in USA</i>»

Quem por momentos possa ter imaginado que no Mundo, e em particular na América Latina, os «tradicionais» golpes de Estado fascistas, típicos da criminosa ofensiva do imperialismo no subcontinente durante o Século XX, descritos e profusamente explicados nos manuais da CIA, tinham terminado, enganou-se. A situação nas...

A «nova CP»

O Ferroviário, boletim do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário (SNTSF), consultou as fontes da própria CP (designadas «Balanços Sociais da CP, REFER e EMEF») e apresentou resultados comparados entre 1992 (último ano da existência da CP como empresa pública) e 2008 (onde a CP está desmembrada e...

Parole … parole …

O título da canção italiana traduz a crítica às palavras sem consistência das forças da política de direita e do oportunismo dos «cucos». E verbera o «vale tudo» de uma forma de estar na política que expressa interesses contrários aos trabalhadores.A campanha eleitoral evidenciou que há forças políticas que copiam, sem...

Duas notícias sobre cultura

1 - Antes e no decurso da guerra de ocupação do Iraque a UNESCO forneceu às forças militares dos EUA informação e mapas indicando lugares históricos. Foram úteis: no sítio arqueológico da milenar Babilónia foi instalada, entre 2003 e 2004, uma base militar das tropas ocupantes (primeiro dos EUA, depois da Polónia)....

Orgulho PS

Maria de Lurdes Rodrigues afirmou há dias que os resultados dos exames nacionais do 9.º ano devem «encher de orgulho» o País, considerando ser «muito positivo e muito bom» o facto de a maioria dos alunos ter tido «nota positiva» a Português e a Matemática. Postas as coisas desta forma até parece que a ministra tem razão,...