Trabalhadores alemães enfrentam exploração

Capital ataca salários

Um em cada cinco trabalhadores germânicos trabalha em sectores de baixa remuneração. Na maior economia da Europa, a tendência para a desvalorização dos salários cresce e a precariedade é usada pelo capital para aumentar a exploração.

«Os trabalhadores com baixos salários aumentaram 50 por cento»

De acordo com um estudo divulgado a semana passada pelo Instituto de Trabalho e Qualificação da Universidade de Duisburg-Essen (IAQ), 6,5 milhões de trabalhadores, mais de um quinto do total, trabalham em sectores que pagam baixos salários, isto é, 9,62 euros brutos/hora na Alemanha Ocidental, e 7,18 euros brutos/hora na parcela Leste do território.
Ainda segundo a pesquisa do IAQ, citada pela Lusa, a tendência para a descida da média salarial tem vindo a agravar-se, apresentando o mercado de trabalho um leque de remunerações muito mais amplo do que antes. «O espectro salarial tem tido uma curva descendente, e isto não seria possível noutros países onde existem salários mínimos», afirma Claudia Weinkopf, uma das autoras do estudo divulgado pela agência de notícias portuguesa.
Na Alemanha não existe salário mínimo e as forças conservadoras recusam instituí-lo alegando que a medida impediria a criação de emprego. Os democrata-cristãos da chanceler Angela Merkel admitem fixar um salário mínimo, mas apenas para alguns sectores.
De 1995 a 2007, o total de trabalhadores que auferiam baixos salários cresceu quase 50 por cento (mais de 2 milhões de indivíduos), diz ainda o IAQ, que frisa também que os salários reais na Alemanha Oriental não só não aumentaram nos últimos 12 anos, como aconteceu na Alemanha Ocidental, como ainda desceram.
O IAQ adiantou igualmente que um terço dos trabalhadores dos sectores de mais baixos salários ganha menos de seis euros brutos/hora e que, há dois anos, cerca de 1,2 milhões auferiam mesmo menos de cinco euros brutos/hora. Entre estes últimos, 25 por cento ganha menos de 800 euros por mês, isto apesar de fazerem horário completo.
As baixas qualificações não são argumento para a actual situação, diz o IAQ, uma vez que mais de 70 por cento dos trabalhadores dos sectores onde o custo do factor trabalho é menor tem um curso profissional certificado.

A arma dos patrões

Antes da publicação do estudo do IAQ, o Instituto de Ciências Económicas e Sociais (WSI) alemão veio dizer que «matematicamente» os salários reais na Alemanha vão crescer este ano na ordem dos 3 por cento para pouco menos de um terço dos trabalhadores.
«Matematicamente», admite o WSI, porque na prática, diz o organismo, o crescimento dos rendimentos «será claramente inferior», uma vez que os patrões estão a recorrer a empresas de trabalho temporário e ao regime de jornada parcial para contornarem os acordos alcançados com os sindicatos no primeiro semestre de 2009.
O WSI sublinha ainda que as negociações mais recentes divergem muito quanto à percentagem dos aumentos entre ramos de actividade.

Desemprego e pobreza

Entretanto, previsões oficiais indicam que o Estado vai precisar de cerca de mais 100 mil milhões de euros para responder ao crescimento imparável do desemprego no país. Mais de 52 mil milhões serão canalizados para o pagamento de subsídios e mais de 46 mil milhões para a atribuição do rendimento mínimo garantido.
Berlim estima em 8,1 por cento (3,4 milhões) o número de desempregados, e perspectiva que o total de desempregados possa ultrapassar os 4,6 milhões já em 2010.
Acrescem às dificuldades da Alemanha, motor económico da UE, a queda para metade, em Junho, das receitas com a tributação sobre os lucros do capital, e a descida das receitas provenientes dos impostos sobre os salários de 1,5 milhões de trabalhadores, colocados em regime de meio-tempo e subsidiados pelo Estado para que as empresas não os ponham imediatamente na rua.


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