A recorrente questão da produtividade

Francisco Silva
Aí estão os resultados do estudo sobre a produtividade da nossa economia efectuado pela credenciada consultora internacional - global - contratada pelo governo de Durão Barroso. E aí estão para confirmarem aquilo que aqueles que, não pertencendo ao bloco de interesses dos detentores do poder, vêm dizendo e redizendo. Dizendo e redizendo, até à exaustão? Pois é. Uma cassete agora confirmada por autoridades científicas e tecnocráticas do Império. E autoridades do mais alto nível de credibilidade. Pois não têm servido elas, também, para receitarem o emagrecimento a parte importante das empresas?
Em acreditados órgãos de comunicação social: Não, a questão (a produtividade da economia) não é da responsabilidade - culpa - dos trabalhadores, nem sequer se resolve com mais horas de trabalho. Até parecia a CGTP a falar. Ou ainda o PCP e os textos do Avante. A responsabilidade principal estará, antes de tudo, na economia informal, na informalidade (eufemismo para a parte do «tecido empresarial» que não paga IRC nem as devidas contribuições para a Segurança Social).
Pois é (pois é, outra vez a mesma expressão; bem sei). Com custos tão baixos - e não são apenas as poupanças em IRC e nas contribuições para a Segurança Social, nem sequer os salários em atraso, é sobretudo o baixo nível dos salários que são efectivamente pagos aos trabalhadores -, com eles não se pode ir a lado nenhum em termos de aumento de produtividade.
Portanto - concluo -, se quereis uma produtividade aumentada é necessário que as empresas tenham custos «normais». Então é isso? Que as empresas sejam obrigadas a cumprir as suas obrigações fiscais e sociais e que o nível destas seja o suficiente para que elas sejam competitivas? Então, além disso, as empresas devem remunerar de acordo com o preço de mercado adequado ao nível de produtividade elevado que se «pretende» atingir, incluindo no caso dos trabalhadores quadros técnicos (quem falou em falta de Educação?), actualmente superexplorados? Então a ideia é que, para poder suportar tais custos - sobreviver -, as empresas serão obrigadas a ser eficientes, portanto melhor organizadas e dispondo de processos de produção de bens e serviços adequados a superiores níveis de produtividade? A criarem os novos bens e serviços que, espera-se, sejam demandados?
A, para tal, estarem a par dos necessários conhecimentos científicos & tecnológicos - e a não mais se desculparem, que não têm obrigação disso? A não dizerem que tais competências são só do Estado e das suas universidades, e que estas não compreendem as necessidades do tecido empresarial?
A não poderem desculpar-se com os organismos estatais quando acontecem as broncas? Como foi o caso dos nitrofuranos e seus frangos, quando por essa altura vi uma empresária na televisão (ou um empresário? para o efeito tanto dá) a dizer que não tinha que saber daquelas complicações da composição das rações, que não era especialista? Então quem tem de saber, se ela não sabia? Não seria responsável por dispor de um técnico que lhe explicasse tais coisas (talvez encontrasse algum desempregado)? E não era de todos os modos ela - os donos da exploração - a responsável? A fazer-se coitadinha diante de um país de apiedados. Ou, os coitadinhos, são só donos para explorarem os trabalhadores e arrecadarem «com quanto suor» os lucros? Ah! E neste caso eles são ainda beneméritos do povo que pouco ganha e precisa de alimentos baratos como os frangos!... Vão mas é para o Bugio - membros destas inextricáveis redes de interesses particulares, amoralidades e incompetências.
Já toda a gente conhecia o que estes inovadores resultados apresentados pela tal credenciada consultora internacional nos disseram agora. Inovadores, como parece que afirmou o primeiro ministro na sessão da sua apresentação, onde não faltou o ministro Bagão Félix, responsável pela área do Trabalho e pelo infamoso novo Código do Trabalho. Mas se, pelos vistos, os trabalhadores, à sua parte, até não ficaram tão mal cotados quanto isso - é certo todos podemos sempre progredir e o nosso País, não sendo famoso nas áreas da gestão da Educação nem da formação profissional, poderá ainda melhorar bastante -, e sendo mesmo assim a área do Trabalho uma das menos sensíveis para a melhoria da produtividade, porque é que os do governo fizeram desta, durante mais de um ano, o seu principal cavalo de batalha? E porque não reconhecem agora explicitamente terem estado errados na sua sanha de controlo cá do pessoal?


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