Obama quer apagar o passado
Tribunal obriga Pentágono a divulgar fotos que mostram as torturas infringidas a presos à ordem dos EUA, mas Obama não quer julgar os responsáveis.
«Numa palavra, todos os responsáveis sabiam e aprovaram a tortura»
O Departamento de Defesa aprovou que essas fotos sejam divulgadas antes de 28 de Maio, na sequência de uma acção judicial intentada pela Associação norte-americana de Defesa das Liberdades (ACLU), em 2004. Trata-se, segundo o perito jurídico da ACLU, Amrit Singh, citado pela Lusa, de provar publicamente que a prática de tortura não era uma caso isolado, mas antes muito comum e «bem para lá dos muros da prisão de Abu Ghraib», a prisão iraquiana que ficou tristemente célebre justamente pelas sevícias e humilhações infringidas aos prisioneiros pelos guardas norte-americanos.
A questão vem dominando as atenções e gerando acesa polémica nos EUA, desde que em meados do mês o presidente Barack Obama autorizou a divulgação de quatro memorandos confidenciais que dão conta dos métodos empregues pela CIA na administração Bush para obter confissões de alegados terroristas, mas garantindo desde logo que os funcionários da Agência implicados nos interrogatórios não seriam processados.
Numa mensagem aos agentes da CIA, a 20 de Abril, Obama explica que a Casa Branca decidiu publicar os memorandos a pedido de um tribunal e após ter concluído que seria «muito difícil» levar a cabo uma defesa legal se optasse por não o fazer.
«Actuei fundamentalmente em função das circunstâncias excepcionais que rodearam esses relatórios», refere Obama, acrescentando que grande parte da informação neles contida «já era pública».
O presidente dos EUA fez no entanto questão de sublinhar que no futuro protegerá a informação classificada e a identidade dos agentes da CIA: «serei tão enérgico na hora de os proteger como vocês o são na hora de proteger o povo norte-americano», disse.
A terminar, o presidente declara: «Este é um momento de reflexão e não de castigo (…) não ganharemos nada gastando o nosso tempo e energias a procurar culpas pelo passado. A nossa grandeza nacional está intimamente ligada à capacidade dos EUA para corrigir o seu curso em sintonia com os nossos valores fundamentais e avançar com confiança. É por isso que devemos resistir às forças que nos dividem e caminhar juntos em nome do nosso futuro».
Amnistia é inaceitável
A mensagem presidencial é clara. Depois de decretar que a nova administração não sanciona a tortura, Obama – que recorre a todos os eufemismos para não chamar tortura às práticas levadas a cabo pela CIA para obter «confissões» durante o mandato de Bush – quer que se esqueça o passado e se olhe para o futuro, deixando implícito que quem o não fizer estará a dividir os EUA.
A ACLU protestou de imediato contra esta tentativa de «passar uma esponja» pelo passado e excluir o julgamento dos responsáveis pela tortura. Anthony Romero, Director Executivo da ACLU, disse que os memorandos «proporcionam provas mais do que irrefutáveis de que também os funcionários da administração Bush, ao mais alto nível do governo, autorizaram e deram cobertura legal a actos de tortura que violam tanto o direito internacional como o norte-americano».
A questão parece residir justamente nesse envolvimento «ao mais alto nível». Segundo declarou o director da CIA Leon Panetta, um ex-congressista democrata e ex-chefe de gabinete da Casa Branca na administração Clinton, a CIA «pediu repetidamente e recebeu repetidamente garantias escritas por parte do Departamento de Justiça de que as suas práticas estavam totalmente conformes com as leis e as obrigações legais dos Estados Unidos. Essas operações foram também aprovadas pelo presidente [Bush] e pelos responsáveis do Conselho de Segurança Nacional e das mesmas se deu conhecimento aos representantes do Congresso».
Numa palavra, todos os responsáveis sabiam e aprovaram a tortura, incluindo os dirigentes do Partido Democrata. O que, diga-se em abono da verdade, não chega sequer a ser novidade. Afinal, a CIA não é nem nunca foi um «menino de coro», como prova a sua longa história de participação e fomento de atentados, guerras e golpes de Estado. Só Obama parece não saber, ou fingir que não sabe.
A questão vem dominando as atenções e gerando acesa polémica nos EUA, desde que em meados do mês o presidente Barack Obama autorizou a divulgação de quatro memorandos confidenciais que dão conta dos métodos empregues pela CIA na administração Bush para obter confissões de alegados terroristas, mas garantindo desde logo que os funcionários da Agência implicados nos interrogatórios não seriam processados.
Numa mensagem aos agentes da CIA, a 20 de Abril, Obama explica que a Casa Branca decidiu publicar os memorandos a pedido de um tribunal e após ter concluído que seria «muito difícil» levar a cabo uma defesa legal se optasse por não o fazer.
«Actuei fundamentalmente em função das circunstâncias excepcionais que rodearam esses relatórios», refere Obama, acrescentando que grande parte da informação neles contida «já era pública».
O presidente dos EUA fez no entanto questão de sublinhar que no futuro protegerá a informação classificada e a identidade dos agentes da CIA: «serei tão enérgico na hora de os proteger como vocês o são na hora de proteger o povo norte-americano», disse.
A terminar, o presidente declara: «Este é um momento de reflexão e não de castigo (…) não ganharemos nada gastando o nosso tempo e energias a procurar culpas pelo passado. A nossa grandeza nacional está intimamente ligada à capacidade dos EUA para corrigir o seu curso em sintonia com os nossos valores fundamentais e avançar com confiança. É por isso que devemos resistir às forças que nos dividem e caminhar juntos em nome do nosso futuro».
Amnistia é inaceitável
A mensagem presidencial é clara. Depois de decretar que a nova administração não sanciona a tortura, Obama – que recorre a todos os eufemismos para não chamar tortura às práticas levadas a cabo pela CIA para obter «confissões» durante o mandato de Bush – quer que se esqueça o passado e se olhe para o futuro, deixando implícito que quem o não fizer estará a dividir os EUA.
A ACLU protestou de imediato contra esta tentativa de «passar uma esponja» pelo passado e excluir o julgamento dos responsáveis pela tortura. Anthony Romero, Director Executivo da ACLU, disse que os memorandos «proporcionam provas mais do que irrefutáveis de que também os funcionários da administração Bush, ao mais alto nível do governo, autorizaram e deram cobertura legal a actos de tortura que violam tanto o direito internacional como o norte-americano».
A questão parece residir justamente nesse envolvimento «ao mais alto nível». Segundo declarou o director da CIA Leon Panetta, um ex-congressista democrata e ex-chefe de gabinete da Casa Branca na administração Clinton, a CIA «pediu repetidamente e recebeu repetidamente garantias escritas por parte do Departamento de Justiça de que as suas práticas estavam totalmente conformes com as leis e as obrigações legais dos Estados Unidos. Essas operações foram também aprovadas pelo presidente [Bush] e pelos responsáveis do Conselho de Segurança Nacional e das mesmas se deu conhecimento aos representantes do Congresso».
Numa palavra, todos os responsáveis sabiam e aprovaram a tortura, incluindo os dirigentes do Partido Democrata. O que, diga-se em abono da verdade, não chega sequer a ser novidade. Afinal, a CIA não é nem nunca foi um «menino de coro», como prova a sua longa história de participação e fomento de atentados, guerras e golpes de Estado. Só Obama parece não saber, ou fingir que não sabe.