Coisas do mau perder
Perdoe-se-me que comece por referir-me um poucochinho à minha experiência pessoal ao longo da semana passada: é que por azar meu ou por força das circunstâncias passei algum do meu tempo, em diversos lugares públicos (cafetarias, salas de espera, transportes colectivos, até farmácias) a ouvir dizer que o referendo que se iria realizar na Venezuela se destinava a entregar a Hugo Chavez a presidência venezuelana enquanto ele quisesse e sem quaisquer obstáculos. Na maior parte dos casos, e só nem sempre porque até a minha paciência tem limites, ouvi e calei, fazendo de conta que aquilo não era nada comigo. Mas tinha. Porque a mentira injectada na cabecinha das gentes pela direita sem princípios mas com fins, hoje acerca de Chavez, ontem acerca de Fidel, sempre acerca do PCP ou da autêntica Esquerda em qualquer lugar do mundo, tem a ver com qualquer cidadão honrado que nem pelo silêncio se quer cumpliciar com imposturas, calúnias e infâmias correlativas. No caso do referendo Venezuelano era óbvio para qualquer sujeito minimamente atento e informado que a Direita, não apenas a local mas também a de todo o mundo autodesignado como «democrático», na fácil previsão de que o povo da Venezuela iria permitir que Hugo Chavez pudesse perguntar-lhe, de tantos em tantos anos, se queria continuar a vê-lo a liderar o país, iria espalhar no boato mentiroso de que o objectivo da consulta referendária seria a concessão de um mandato sem nenhum termo fixado. Essa impostura foi, entre nós, amorosamente implantada pelos grandes media portugueses nos crédulos consumidores da sua desinformação com resultados bem visíveis, ou mais exactamente, bem audíveis, em cafés, salas de espera, transportes colectivos, até farmácias, nos vários cantos e recantos onde os portugueses se juntam. E o que é um pouco espantoso, não muito porque maravilhas destas são frequentes entre nós, é que a mentira sobreviveu até depois de serem conhecidos e divulgados os resultados do referendo venezuelano e, pelo menos às vezes, as consequências dele.
O caso do intruso malcriado
Já em vésperas do referendo, a extrema-direita europarlamentar europeia montou um «incidente» com o objectivo de tentar o descrédito da sua democraticidade. Entende-se: se os amigos são para as ocasiões, as cumplicidades também o são. Assim, um eurodeputado espanhol do chamado Partido Popular Europeu, desembarcado em Caracas alegadamente para ver como as coisas corriam e verificando talvez que as coisas não lhe corriam nada bem, atreveu-se a fazer objectiva campanha pelo «não» e a chamar «ditador» ao presidente que no quadro da América Latina é sem dúvida o que mais vezes se submeteu ao voto do seu povo. Como o governo de Hugo Chavez não confunde regras diplomáticas com salamaleques subservientes, o intruso foi rapidamente metido num avião e devolvido à procedência. Logo por cá a televisão se apressou a noticiar o caso com o óbvio fito de apoiar a provocação. Mas não se ficou por aí. Já conhecida a derrota da direita, esmerou-se a entreter-nos com supostos indícios de irregularidades que, de qualquer modo, seriam sempre de uma ridícula pequenez. Ele seria uma máquina de voto que funcionava mal, ele seria uma outra que até cometia o prodígio de registar votos ao contrário, sempre coisas evidentemente distantes dos factos comprovados e significativos. Era a Direita da nossa terra, conhecidamente dominadora dos grandes aparelhos informativos, a arrotar o seu mau perder, a querer semear dúvidas de dimensão irrisória que pudessem tornar plausíveis as imposturas com que havia ornamentado o período anterior ao referendo. Aparentemente, ela, a Direita, a da nossa terra como a de outros lugares, ainda não percebeu, ou pelo menos ainda não aceitou, que a América Latina já não é a que Washington podia dominar com golpes de estado executados por generais comprados a preço baixo porque era abundante a oferta. Decerto ainda os haverá, essa é uma fauna sobrevivente embora em vias de extinção, mas as condições concretas é que já não são as mesmas. E, como se viu, o recurso à infiltração temporária de eurodeputados provocadores também não é eficaz. Está visto que pelo menos na América Latina a Direita não está em bons lençóis, embora lhe restem (atenção!) alguns trunfos e todo o seu tradicional inescrúpulo. Não será mau, de qualquer modo, que comece a abandonar pelo menos os mais evidentes sinais do seu mau perder. Ficam-lhe mal.
O caso do intruso malcriado
Já em vésperas do referendo, a extrema-direita europarlamentar europeia montou um «incidente» com o objectivo de tentar o descrédito da sua democraticidade. Entende-se: se os amigos são para as ocasiões, as cumplicidades também o são. Assim, um eurodeputado espanhol do chamado Partido Popular Europeu, desembarcado em Caracas alegadamente para ver como as coisas corriam e verificando talvez que as coisas não lhe corriam nada bem, atreveu-se a fazer objectiva campanha pelo «não» e a chamar «ditador» ao presidente que no quadro da América Latina é sem dúvida o que mais vezes se submeteu ao voto do seu povo. Como o governo de Hugo Chavez não confunde regras diplomáticas com salamaleques subservientes, o intruso foi rapidamente metido num avião e devolvido à procedência. Logo por cá a televisão se apressou a noticiar o caso com o óbvio fito de apoiar a provocação. Mas não se ficou por aí. Já conhecida a derrota da direita, esmerou-se a entreter-nos com supostos indícios de irregularidades que, de qualquer modo, seriam sempre de uma ridícula pequenez. Ele seria uma máquina de voto que funcionava mal, ele seria uma outra que até cometia o prodígio de registar votos ao contrário, sempre coisas evidentemente distantes dos factos comprovados e significativos. Era a Direita da nossa terra, conhecidamente dominadora dos grandes aparelhos informativos, a arrotar o seu mau perder, a querer semear dúvidas de dimensão irrisória que pudessem tornar plausíveis as imposturas com que havia ornamentado o período anterior ao referendo. Aparentemente, ela, a Direita, a da nossa terra como a de outros lugares, ainda não percebeu, ou pelo menos ainda não aceitou, que a América Latina já não é a que Washington podia dominar com golpes de estado executados por generais comprados a preço baixo porque era abundante a oferta. Decerto ainda os haverá, essa é uma fauna sobrevivente embora em vias de extinção, mas as condições concretas é que já não são as mesmas. E, como se viu, o recurso à infiltração temporária de eurodeputados provocadores também não é eficaz. Está visto que pelo menos na América Latina a Direita não está em bons lençóis, embora lhe restem (atenção!) alguns trunfos e todo o seu tradicional inescrúpulo. Não será mau, de qualquer modo, que comece a abandonar pelo menos os mais evidentes sinais do seu mau perder. Ficam-lhe mal.