As «almofadas» do capitalismo
Apesar das promessas palavrosas o défice público português galopa, ninguém sabe ao certo quantos desempregados há no País e toda a economia nacional bate no fundo. Alastra a corrupção pública e, embora relutante na informação dos factos, a investigação criminal traça o panorama de uma nação que rapidamente mergulha num lameiro de fraudes e de escândalos. É o percurso normal do capitalismo. Lá fora, no mundo político e empresarial, a situação não é mais risonha. Do pé para a mão, as tão badaladas economias «de sucesso» - como é o caso da americana, da alemã ou da japonesa – declaram-se impotentes para evitar ou atenuar a sucessão das falências, dos despedimentos ou o crime organizado. De globalização já nem sequer se fala.
Contudo a crise não é igual para todos. Se cria milhões de novos pobres e lança na miséria os que bem pouco já tinham, permite que a riqueza se concentre nas mãos de um reduzido número de multimilionários. Só como exemplo veja-se o fenómeno das fusões de grupos económicos em plena crise ou o caso exemplar do império Carlyle que atravessa, impávido e sereno, as ruínas da economia capitalista e «confessa» que o seu capital financeiro cresce ao ritmo dos «paraísos fiscais». Domina 57 investimentos mundiais gigantescos na ordem dos 81.100 milhões de dólares ! É um motor do capitalismo mundial. Mas não é caso único, como ainda há pouco se viu no «Encontro de Davos» ou nos negócios do misterioso Citibank.
Assim, a sociedade moderna continua dividida em duas grandes classes de interesses antagónicos: os que nada têm e os que devoram tudo quanto existe. Marx tinha razão.
A luta de classes
Todos se apercebem que a derrocada capitalista ainda mal começou. E também é evidente que serão os trabalhadores a pagar os custos e as tentativas de recuperação capitalista. Por seu lado, os grandes financeiros e os seus mandatários também estão conscientes dos riscos que podem ser desencadeados pela ira de multidões de famintos. A crise vai ser longa. Que fazer?
É neste ponto que se abrem em Portugal excelentes perspectivas para a Igreja Católica. Nenhuma outra formação caritativa poderá oferecer ao Estado alternativas que lhe permitam defender os ricos e mitigar a ira dos pobres. A Igreja dispõe de uma extensa rede de instituições sociais instaladas em áreas vitais da «sociedade civil» tais como as da saúde, da educação, do trabalho, da segurança social, etc. Em muitos casos, a força de trabalho necessária a esta intrincada teia é fornecida pelo voluntariado católico. Haverá, portanto, no preço a cobrar pela oferta final uma forte atenuação dos custos. Cabe ao Estado laico financiar o projecto e recolher-se ao anonimato.
Para já, começam a desenhar-se os contornos deste enlace Igreja/Estado. O Estado afirma ir avançar com o combate ao desemprego com uma verba inicial de 580 milhões de euros. E entre outras medidas complementares que projecta a curto prazo, há uma com um interesse que convém sublinhar. É a que perfilha a tese de que «beneficiários de subsídio de desemprego podem desenvolver trabalho socialmente necessário em entidades sem fins lucrativos ou autarquias». Poderia observar-se que se trata aqui de «gato escondido com o rabo de fora»! O Estado paga, penetra na Igreja e esta no Estado. E os desempregados, os trabalhadores precários ou com salários em atraso, caso o esquema venha a ser realmente implantado, poderão contar com um caldo e um naco de pão.
Ainda mais transparentes foram as palavras de Mário Lino, presidente do IV Congresso da Confederação Nacional das IPSS, ao revelar, em Fátima, que «as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) vão ser uma almofada e um amortecedor da crise social que o País enfrenta...». Ou então a intervenção do padre Lino Maia acerca dos problemas do Ensino: «As instituições de solidariedade devem apostar na educação ao longo da vida, logo a partir da creche, como via única da inclusão social...». Os objectivos a atingir ficam bem à vista!
Todo este plano tresanda a jesuitismo. Mas é importante constatar-se, uma vez mais, que a hierarquia da Igreja se cola, pele com pele, às oligarquias políticas e financeiras, nos momentos dolorosos das crises mais profundas, nas «horas da verdade» que, todavia, constituem igualmente porta aberta à sofreguidão dos poderosos.
Contudo a crise não é igual para todos. Se cria milhões de novos pobres e lança na miséria os que bem pouco já tinham, permite que a riqueza se concentre nas mãos de um reduzido número de multimilionários. Só como exemplo veja-se o fenómeno das fusões de grupos económicos em plena crise ou o caso exemplar do império Carlyle que atravessa, impávido e sereno, as ruínas da economia capitalista e «confessa» que o seu capital financeiro cresce ao ritmo dos «paraísos fiscais». Domina 57 investimentos mundiais gigantescos na ordem dos 81.100 milhões de dólares ! É um motor do capitalismo mundial. Mas não é caso único, como ainda há pouco se viu no «Encontro de Davos» ou nos negócios do misterioso Citibank.
Assim, a sociedade moderna continua dividida em duas grandes classes de interesses antagónicos: os que nada têm e os que devoram tudo quanto existe. Marx tinha razão.
A luta de classes
Todos se apercebem que a derrocada capitalista ainda mal começou. E também é evidente que serão os trabalhadores a pagar os custos e as tentativas de recuperação capitalista. Por seu lado, os grandes financeiros e os seus mandatários também estão conscientes dos riscos que podem ser desencadeados pela ira de multidões de famintos. A crise vai ser longa. Que fazer?
É neste ponto que se abrem em Portugal excelentes perspectivas para a Igreja Católica. Nenhuma outra formação caritativa poderá oferecer ao Estado alternativas que lhe permitam defender os ricos e mitigar a ira dos pobres. A Igreja dispõe de uma extensa rede de instituições sociais instaladas em áreas vitais da «sociedade civil» tais como as da saúde, da educação, do trabalho, da segurança social, etc. Em muitos casos, a força de trabalho necessária a esta intrincada teia é fornecida pelo voluntariado católico. Haverá, portanto, no preço a cobrar pela oferta final uma forte atenuação dos custos. Cabe ao Estado laico financiar o projecto e recolher-se ao anonimato.
Para já, começam a desenhar-se os contornos deste enlace Igreja/Estado. O Estado afirma ir avançar com o combate ao desemprego com uma verba inicial de 580 milhões de euros. E entre outras medidas complementares que projecta a curto prazo, há uma com um interesse que convém sublinhar. É a que perfilha a tese de que «beneficiários de subsídio de desemprego podem desenvolver trabalho socialmente necessário em entidades sem fins lucrativos ou autarquias». Poderia observar-se que se trata aqui de «gato escondido com o rabo de fora»! O Estado paga, penetra na Igreja e esta no Estado. E os desempregados, os trabalhadores precários ou com salários em atraso, caso o esquema venha a ser realmente implantado, poderão contar com um caldo e um naco de pão.
Ainda mais transparentes foram as palavras de Mário Lino, presidente do IV Congresso da Confederação Nacional das IPSS, ao revelar, em Fátima, que «as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) vão ser uma almofada e um amortecedor da crise social que o País enfrenta...». Ou então a intervenção do padre Lino Maia acerca dos problemas do Ensino: «As instituições de solidariedade devem apostar na educação ao longo da vida, logo a partir da creche, como via única da inclusão social...». Os objectivos a atingir ficam bem à vista!
Todo este plano tresanda a jesuitismo. Mas é importante constatar-se, uma vez mais, que a hierarquia da Igreja se cola, pele com pele, às oligarquias políticas e financeiras, nos momentos dolorosos das crises mais profundas, nas «horas da verdade» que, todavia, constituem igualmente porta aberta à sofreguidão dos poderosos.