«Sim, é possível uma vida melhor!»

A campanha do PCP e a defesa dos direitos das mulheres

Fernanda Mateus (Membro da Comissão Política)
Enfrentar os graves problemas com que a grande maioria das mulheres portuguesas está confrontada tem uma profunda ligação com os objectivos que dão corpo à campanha que o PCP tem em curso, e que coloca na ordem do dia a necessidade do desenvolvimento da luta por melhores salários e pensões, contra a precariedade laboral e o desemprego.

As comemorações do 8 de Março devem constituir momentos de esclarecimento

Porque os problemas com que a grande maioria das mulheres se confronta tem ligação profunda com a exigência de aumento de salários e das pensões, aumento que reponha o poder de compra perdido ao longo dos últimos anos. A verdade é que a evolução do estatuto remuneratório das mulheres nas últimas décadas demonstra que o seu trabalho tem sido usado como mais um instrumento de exploração e desvalorização do trabalho humano, e de imposição, designadamente pelo actual Governo PS/Sócrates, de políticas públicas assentes numa injusta distribuição do rendimento nacional em detrimento de quem vive do seu salário ou da sua pensão para, deste modo, beneficiar a acumulação privada da riqueza por parte dos grandes grupos económicos e do capital financeiro.
Este conteúdo de classe que penaliza fortemente as mulheres na distribuição do rendimento, por via do salário ou das pensões, tem sido aprofundado pelo actual Governo do PS/Sócrates, e num quadro em que só nos nove primeiros meses do ano de 2008 os lucros dos nove principais grupos económicos foram superiores a 4000 milhões de euros e em que só os principais bancos alcançaram mais de 1500 milhões de lucros.
Igualmente os problemas com que a grande maioria das mulheres está confrontada – e com fortes incidências nas jovens – exigem a concretização da proposta do PCP de um Programa Nacional de combate à precariedade, com a realização de uma política que defenda o emprego com direitos, onde cada posto de trabalho permanente corresponda a um vínculo de trabalho efectivo.
É, por isso, necessário que a luta das mulheres seja mais forte e determinada em defesa do direito ao trabalho com direitos, do direito a ser mãe e trabalhadora com direitos. Esta é uma exigência que interessa e deve unir a larga maioria das mulheres portuguesas oriundas do sector privado ou público, das operárias às trabalhadoras intelectuais, de diversas idades e de diferentes regiões do continente ou ilhas.

Tornar mais forte a luta das mulheres

Os problemas com que as mulheres estão confrontadas não têm como origem uma suposta pertença a uma classe ou categoria social e biológica que a todas uniria contra uma «cultura» dominada por outra classe ou categoria biológica e social – os homens –, que explicaria a situação de desigualdade e de discriminações das mulheres. Estas concepções visam desviar as atenções das mulheres das causas e dos responsáveis pela sua situação e pretendem conduzir a luta das mulheres para caminhos que não dão resposta aos seus problemas e reivindicações específicas, antes pretendem manter inalterável o sistema de dominação e exploração das mulheres inerente ao sistema capitalista, que tem sido protagonizado pelo actual Governo PS, na senda dos anteriores do PSD.
Enfrentar as desigualdades e discriminações das mulheres e as falsas promessas de sucessivos governos de promoção de «políticas de igualdade» impõe que a luta das mulheres seja mais forte e determinada contra as causas e responsáveis – a política de direita dos últimos 30 anos e na qual o actual Governo PS/Sócrates assume especiais responsabilidades, como está patente com as alterações ainda mais gravosas ao Código de Trabalho, na reforma da segurança social, que está a penalizar as mulheres na situação de desemprego e no seu direito à reforma e a uma pensão digna, nas falsas promessas de apoio à maternidade e paternidade, na privatização da rede de equipamentos e serviços sociais e no ataque ao direito à saúde das mulheres ao longo do seu ciclo de vida.
É preciso que a luta das mulheres seja mais forte e determinada em defesa dos seus direitos específicos, rejeitando a resignação e a passividade que, em nome da «crise», o Governo PS/Sócrates pretende instalar na sociedade portuguesa e que, a não ser interrompida, terá graves impactos no agravamento da situação das mulheres e na perpetuação das desigualdades e discriminações no trabalho, na família, na vida social e política.
As comemorações do 8 de Março – Dia Internacional das Mulheres – devem ser um ponto alto no esclarecimento e mobilização de amplos sectores femininos profundamente afectados pela acção do actual Governo PS/Sócrates, exigindo o direito a uma vida melhor, com respeito pelo direito à igualdade das mulheres em todas as esferas da vida.
Este é o caminho para enfrentar as desigualdades e discriminações que pesam sobre as mulheres nas últimas décadas – no trabalho, na família, na vida social e política – e os impactos da actual crise na degradação e violação dos seus direitos, exigindo o reforço da sua luta organizada, fazendo convergir as suas razões de protesto e as suas reivindicações específicas com as razões de protesto e as reivindicações comuns ao conjunto dos trabalhadores, dos reformados, dos jovens e das populações.
É na união que reside a força desta luta, que combina especificidades e a comunhão de razões de luta por reivindicações comuns, devendo por isso a Jornada da CGTP-IN, convocada para 13 de Março, ser o confluir de todas as razões de protesto.
Com a campanha em curso, o PCP afirma a confiança de que é possível e necessário uma ruptura com a política de direita e a importância de dar mais força ao PCP como o caminho mais sólido para a garantia de mudança que o País precisa.
«Este é o tempo e o momento em que proclamamos às trabalhadoras e às mulheres portuguesas que a luta pela emancipação da mulher, pelos seus direitos à igualdade, é indissociável da luta por uma ruptura com as políticas que têm sido desenvolvidas e que essa ruptura é necessária, é possível, é urgente, através do reforço da sua luta organizada, do apoio ao movimento das mulheres e fortalecendo o Partido Comunista Português. Estas são as premissas para que o sonho se transforme em vida.»(1)

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(1) Encontro do PCP sobre os Direitos das Mulheres, Apelo final, pág. 143.


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