A tragédia colombiana
As denúncias de execuções extra-judiciais não param de crescer
Literalmente sinistro, é como pode ser qualificado o registo colombiano em matéria de direitos humanos. Isto é, da sua extensa, sistemática e ignominiosa violação. Um rol de atrocidades que não quedou obra do passado, às mãos dos sucessivos governos de direita de substância oligárquica e serventuários do imperialismo norte-americano, mas que prosseguiu na mesma linha com o actual governo, marcadamente proto-fascista, de Uribe. Dos tempos mais recentes, basta mencionar a história tenebrosa das execuções de civis – a maioria jovens indigentes colombianos raptados, assassinados e colocados em valas comuns – cometidas por militares sob a falsa alegação de «guerrilheiros mortos em combate». Mas o «escândalo» que levou à demissão do comandante do Exército e obrigou o Governo a destituir, desde Outubro, mais de 30 oficiais do ramo constitui apenas uma gota no oceano. As denúncias de execuções extra-judiciais não param de crescer. Desde a primeira tomada de posse do presidente Uribe, em 2002, centenas de sindicalistas colombianos foram assassinados. No século XXI, comunistas, dirigentes políticos de esquerda e activistas sociais colombianos continuam a ser sistematicamente liquidados por um dos mais sanguinários regimes de terrorismo de Estado engendrado pelo capitalismo e a dominação imperialista.
Não estranha, como tal, o quase permanente bloqueio e boicote informativos por parte da comunicação social dominante em torno da tragédia na Colômbia e das raízes do complexo «conflito social armado» existente naquele país sul-americano. Na zona de sombra do foco informativo permanece o massacre da União Patriótica, perpetrado há cerca de duas décadas. Ínvios critérios [de classe] concorrem para a menorização ou desvirtuamento da realidade dos inúmeros casos de tortura nas prisões colombianas ou da existência de centenas ou, mesmo, milhares de presos políticos. O facto de mais de quatro dezenas de deputados e políticos aliados de Uribe estarem judicialmente imputados por ligações ao paramilitarismo não faz, provavelmente, manchete nos jornais de referência. Nem tão pouco ainda se viu que as tentativas institucionais de branqueamento dos crimes dos paramilitares, o roubo de terras e a expulsão forçada de milhões de camponeses colombianos – o próprio governo reconhece a existência no país de mais de 2,5 milhões de refugiados –, em benefício da propriedade latifundiária e dos monopólios multinacionais, nomeadamente no sector dos agro-combustíveis, tenham constituido motivo suficiente para agitar uma dessas campanhas internacionais «cívico-humanitárias» tão selectiva e não-inocentemente em voga. É claro que não se esperaria – sendo mesmo altamente indesejável – que Bush ou Solana desatassem a exigir a saída de Uribe... Se as múltiplas expressões do regime repressivo e terrorista colombiano são dominantemente tratadas nas margens do silêncio e da omissão, o contrário se passa no que diz repeito à criminalização das múltiplas formas de resistência e a todas as acções para legitimar a política de terra-queimada empreendida por Bogotá - sintonizada com a imperiosa necessidade dos EUA em aplacar a dinâmica emancipadora na América Latina.
A verdade, porém, acabará por impor-se, não havendo luta que não dê os seus frutos. No seio do complexo e agudizado processo de luta de classes colombiano cresce a mobilização do movimento sindical e de amplos sectores sociais em torno da exigência de profundas transformações democráticas e progressistas. Como se afirma na declaração do XX congresso do PCC, realizado no passado mês, a «necessidade de um intercambio humanitário e de uma saída política negociada para o conflito social e armado representam uma urgência histórica e tarefa inadiável».
Não estranha, como tal, o quase permanente bloqueio e boicote informativos por parte da comunicação social dominante em torno da tragédia na Colômbia e das raízes do complexo «conflito social armado» existente naquele país sul-americano. Na zona de sombra do foco informativo permanece o massacre da União Patriótica, perpetrado há cerca de duas décadas. Ínvios critérios [de classe] concorrem para a menorização ou desvirtuamento da realidade dos inúmeros casos de tortura nas prisões colombianas ou da existência de centenas ou, mesmo, milhares de presos políticos. O facto de mais de quatro dezenas de deputados e políticos aliados de Uribe estarem judicialmente imputados por ligações ao paramilitarismo não faz, provavelmente, manchete nos jornais de referência. Nem tão pouco ainda se viu que as tentativas institucionais de branqueamento dos crimes dos paramilitares, o roubo de terras e a expulsão forçada de milhões de camponeses colombianos – o próprio governo reconhece a existência no país de mais de 2,5 milhões de refugiados –, em benefício da propriedade latifundiária e dos monopólios multinacionais, nomeadamente no sector dos agro-combustíveis, tenham constituido motivo suficiente para agitar uma dessas campanhas internacionais «cívico-humanitárias» tão selectiva e não-inocentemente em voga. É claro que não se esperaria – sendo mesmo altamente indesejável – que Bush ou Solana desatassem a exigir a saída de Uribe... Se as múltiplas expressões do regime repressivo e terrorista colombiano são dominantemente tratadas nas margens do silêncio e da omissão, o contrário se passa no que diz repeito à criminalização das múltiplas formas de resistência e a todas as acções para legitimar a política de terra-queimada empreendida por Bogotá - sintonizada com a imperiosa necessidade dos EUA em aplacar a dinâmica emancipadora na América Latina.
A verdade, porém, acabará por impor-se, não havendo luta que não dê os seus frutos. No seio do complexo e agudizado processo de luta de classes colombiano cresce a mobilização do movimento sindical e de amplos sectores sociais em torno da exigência de profundas transformações democráticas e progressistas. Como se afirma na declaração do XX congresso do PCC, realizado no passado mês, a «necessidade de um intercambio humanitário e de uma saída política negociada para o conflito social e armado representam uma urgência histórica e tarefa inadiável».