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Albano Nunes

É como se as propostas políticas do partido dos trabalhadores não merecesse divulgação

O XVIII Congresso do PCP constituiu um acontecimento internacionalista de inegável projecção internacional. Se a maior contribuição que o PCP pode dar à causa libertadora dos trabalhadores e dos povos é o desenvolvimento da luta em Portugal, o XVIII Congresso, confirmando o PCP como grande força enraizada nos trabalhadores e no povo português, constitui um facto político relevante não apenas para o movimento comunista mas para todas as forças do progresso social. O PCP conta muito no plano nacional como no plano europeu e mundial.
Entretanto.... Primeira página do Público de 2.12.08. Na véspera encerrara o XVIII Congresso. Culminando três dias de trabalho intenso a sessão de encerramento era um mar de alegria, entusiasmo e confiança. Cerca de 1500 delegados, mais de 4 000 convidados e um mar de bandeiras vermelhas, saudavam o novo Comité Central e a intervenção de encerramento do camarada Jerónimo de Sousa, reeleito Secretário geral do Partido. Com a alegria do dever cumprido e a consciência de uma coesão reforçada, os comunistas portugueses afirmavam com convicção a sua determinação em levar à prática as orientações contidas na Resolução Política, construídas ao longo de meses de debate democrático. Foi o culminar de um grande Congresso de um grande Partido.

Mas na primeira página do Público, como aliás de todos os jornais diários desse dia, nada, o Congresso não existiu. Nem uma chamada para as paginas interiores, nem uma linha noticiosa, muito menos uma foto. É como se as propostas políticas do partido dos trabalhadores não merecesse divulgação. E a demonstração de força, confiança e convicção que foi o XVIII Congresso, e que tanto perturba a grande burguesia, ainda menos. Afinal o PCP não só não desapareceu como se apresenta de boa saúde, em crescimento e posicionado como força determinante da política alternativa que permita recolocar o país nos trilhos de Abril e no rumo do socialismo. E isso não pode ser mostrado pela imprensa burguesa aos portugueses, não vão eles finalmente decidir-se por dar ao PCP a força necessária para a ruptura que se impõe com mais de trinta anos de políticas de direita.

Seguindo a voz do dono, coerente com a sua posição de classe e a sua bem conhecida subserviência ao imperialismo norte-americano, o Público do dia seguinte ao Congresso do PCP prefere dar continuidade à sua activissima participação na poderosa campanha de propaganda visando o branqueamento da imagem dos EUA e da sua política agressiva. «Estados Unidos. Hillary vai liderar a diplomacia numa equipe de personalidades fortes» titula o jornal a acompanhar uma foto de meia página da senhora que se bateu pela guerra do Iraque e se prepara agora para a escalada de destruição e morte no Afeganistão, cada vez mais alargada ao Pakistão. Mas nem tudo é negativo. Ficamos mais esclarecidos quanto aos caminhos de (falsa) «mudança» que o novo Presidente dos EUA se propõe trilhar em matéria de política externa. Depois de tanta (falsa quanto ao fundo) disputa nas «primárias», Obama cede à sr.ª Clinton uma posição chave na sua administração, ao mesmo tempo que confirma que o Secretário da Defesa de Bush vai continuar em funções. Trata-se nada mais nada menos que de Robert Gates, o ministro da guerra do imperialismo norte-americano, aquele que reclama mais investimento em armas, mais tropas no Afeganistão, maior empenho dos EUA na sua cruzada por uma «nova ordem» contra os trabalhadores e contra os povos.

Ao serviço dos interesses do grande capital é natural que o Público prefira dar voz aos estrategas de Washington a divulgar com objectividade as posições do PCP. Pela nossa parte, valorizando muito o nosso XVIII Congresso e a sua dimensão internacional, não daremos tréguas nem às políticas de direita nem ao imperialismo, qualquer que seja a face com que se apresente.


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