Guisado

Leandro Martins
Havia uma proposta, a votar na Assembleia da República, para que fosse suspenso o actual processo de avaliação dos professores. Naturalmente que, por força da força com que tal avaliação é contestada, nas escolas e nas ruas, pela esmagadora maioria dos docentes, tal proposta mereceria, por parte de toda a oposição, um voto favorável, viesse donde viesse tal proposta (desde que não fosse do PCP...) Voto ao qual seria de esperar que se juntassem, envergonhadamente embora, alguns elementos da bancada socialista – ou que, pelo menos, se registasse alguma abstenção que fizesse romper a maioria PS que apoia cegamente a política de Sócrates.
Assim não aconteceu. A proposta foi derrotada, a maioria manteve-se. À custa da larga ausência de deputados na sala, trinta e cinco, segundo consta. Mas, sobretudo, à custa da dezena de parlamentares do PSD que já haviam assinado o ponto e se pisgaram.
Vai daí, os media de serviço aproveitaram logo para meter no mesmo saco todos os deputados e declararem o escândalo. Era impossível esconder o número avantajado de votos assim «recolhidos» no PSD, numa contagem que acabou por ser favorável ao Governo. Mas poucos se detiveram a especular sobre as razões de tais e tão oportunas ausências. Por nossa parte, que gostamos pouco de especulações, não deixaremos de assinalar o facto. A avaliação da ministra Rodrigues, amparada na política de Sócrates, mantém-se com este favor concedido pelo PSD...
Um favor, é certo, concedido por baixo da mesa, mas mesmo assim um favor de monta, tão pesado como um pontapé de Yannick Jaló, que deu uns milhões ao Sporting, ou os disparos do Benfica nas redes do Marítimo, que o fizeram aceder ao primeiro lugar. Não nos parece que uma dezena de deputados dessem à sola só porque são irresponsáveis e tenham mais que fazer.
Num momento em que a política nacional embarcou na veloz nave das eleições, esta votação, que dá ao adversário o que ele pretende, revela-se como uma profissão de fé na política de direita, que vem em primeiro lugar, muito antes das rivalidades partidárias que sobem de tom assim que se avistam as urnas. Quem mostra mais sensatez, nesta direita que começa onde a esquerda acaba, é o CDS, que já avalizou a candidatura de Santana Lopes à Câmara de Lisboa e que acaba de se mostrar disponível para apoiar quem lho peça – PS ou PSD, tanto dá. O guisado eleitoralista começa a ferver. É que o tacho está ao lume.


Mais artigos de: Opinião

Os inocentes

O mundo capitalista está em crise, mas Portugal safa-se. Esta é a mensagem que o Governo tem vindo a dar aos portugueses entre um magalhães e outro, com o próprio primeiro-ministro Sócrates a afirmar que em 2009 as famílias vão ter mais poder de compra, graças à descida da taxa de juro para a habitação e à quebra do...

<i>É na luta…</i>

O XVIII Congresso do PCP foi, pela sua dimensão, conclusões, participação e impacto político um grande êxito. Um êxito tal, que mesmo a própria Comunicação Social não conseguiu «filtrar» por completo a mensagem de esperança, de convicções e de força que emanaram do Campo Pequeno naqueles dias. Mas não se pense que houve...

A violência das margens gregas

Sobre os acontecimentos na Grécia, lemos as mesmas linhas mestras em todo o lado: a morte do jovem como acto isolado; o Governo já abriu um inquérito e o polícia já foi preso; a condenação e criminalização do protesto popular. O hipócrita apelo do Governo grego é massificado: «Nestas horas cruciais, o mundo político deve...

Preferências …

O XVIII Congresso do PCP constituiu um acontecimento internacionalista de inegável projecção internacional. Se a maior contribuição que o PCP pode dar à causa libertadora dos trabalhadores e dos povos é o desenvolvimento da luta em Portugal, o XVIII Congresso, confirmando o PCP como grande força enraizada nos...