Como credores do futuro

Aurélio Santos
«Actual» é, nesta semana, o Congresso do PCP.
Em percurso de grande mosaico nacional, ali apareceram descritas situações concretas e reflexões, procura de causas e soluções para os problemas sentidos no País. Sem posição hierática nem discurso académico, o fluir de intervenções traduziu mais aquele sabor camoniano de um saber todo de experiências feito.
Tendo como cenário de fundo um país em que, por arrepiante marcha atrás, os horizontes de Abril vão ficando mais longe, foram ali dadas a conhecer aspirações e perspectivas que nos animam, e também angústias, perigos e injustiças a vencer para restituir ao povo a alegria de ser português de pleno direito.
Mas no Congresso sentiu-se também o perpassar de três correntes temporais: passado, presente e futuro.
Com natural orgulho do seu passado, os comunistas sentem-se continuadores de um partido submetido a constantes provas, mas também herdeiros de uma vasta experiência histórica dos que souberam escolher um ideal e arriscar as formas mais coerentes e audaciosas de luta pela sua realização. Assumem como sua a memória colectiva de outros povos cujas experiências históricas, boas e más, de sucesso ou derrota, constituem contributo indispensável de análise do passado e de valoração para formulações de projecção futura.
Confundir este valioso património com «passadismo» é dar à História o tratamento que na Roma antiga foi conhecido como «danação da memória», isto é, o simples apagamento físico do antigo já não oficialmente aprovado.
Quanto ao presente, o sentido de modernidade dos comunistas confirma-se ao
diferenciarem-se do vulgar deslumbramento pela modernice, na sua abordagem da realidade actual, que pretendem tanto mais rigorosa quanto ela se apresente de maior complexidade.
Mas o PCP é também portador de um futuro de progresso, não um progresso limitado a um êxtase estaticamente assaloiado perante o último brinquedo tecnológico, mas um progresso integrado, cada vez mais avançado no campo científico e técnico – mas também no terreno político, económico, social e cultural.
Se há quem tente limitar estas ondas de ressonância a «passadismo», «imobilismo» ou «unanimismo», só resta recomendar-lhes outro ângulo mais aconselhável de visão: o da ruptura saudável com... o anticomunismo.


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