A crise financeira e o sagrado
Na velha sabedoria das nações é universalmente consagrado o ditado «o segredo é a alma do negócio». Não é só português esse registo. Por isso, não será de espantar que o Vaticano e o papa Ratzinger, sabendo como sabem de negócios, se mantenham mudos perante a crise económica e financeira do capitalismo mundial e do seu sujo cortejo de escândalos e falcatruas. Não é inédito mas, de qualquer modo, a mudez do sagrado perante o anúncio do caos é de estranhar. Uma igreja poderosa – como é a católica – grande senhora no mundo das finanças e, simultaneamente, líder das cruzadas contra a pobreza, observa sem reagir as operações que movimentam milhões de milhões de dólares, vê os governos reduzirem as verbas sociais, reconhece existirem no mundo multidões de famintos e de desempregados e por aí se fica... pelo reconhecimento da evidência e pela contemplação.
Materialmente ganhará o Vaticano, com a crise financeira, valor acrescentado? As contas das crises cíclicas do passado confirmam que sim. Nas guerras, com as ameaças de guerra ou nas incertezas financeiras e nos pavores, as fortunas procuram sempre locais de asilo seguros. Habitualmente, recolhiam-se aos muros do Vaticano (a que agora se juntam os off-shores, também chamados paraísos fiscais). Mas no mundo actual, com tanto alarido da comunicação social e com tanta escandaleira, os paraísos ameaçam tornar-se lugares de alto risco. Melhor será pois para as grandes fortunas acolherem-se à experiência paternal do IOR (Instituto das Obras Religiosas), o banco pontifício.
Fortuna atrai fortuna e talvez esteja aí o segredo da mudez papal perante a crise.
O milagre da multiplicação dos pães
A verdadeira confiança exclui o imobilismo. Ter dinheiro alheio e acções à sua guarda implica que o banqueiro os valorize e os aplique em investimentos seguros. Esta é uma das razões que levam a alta finança a confiar na Igreja que também confia nos banqueiros. Tente encontrar-se, então, um exemplo actualizado dessa confiança mútua que invariavelmente termina na acumulação de lucros, como se se tratasse de nova parábola da multiplicação dos pães.
O «Grupo Santander», cujas origens entroncam na Companhia de Jesus e na Ordem dos Dominicanos, está profundamente enraizado no mundo financeiro e eclesiástico. O banco tem relações preferenciais com importantes instituições financeiras ligadas ao Vaticano, tais como o J.P. Morgan, o Bank of América, a RAR suíça, o inglês Bank of Scotia, a norte-americana Camper especializada na gestão de fundos de pensões, os franceses do Crédit Lyonnais ou os porto-riquenhos do Bayamond Saving, ligado ao universo dos off-shores. O Santander, quando entrou em Portugal, ainda na década de 80, logo se distinguiu por revelar uma elevada taxa de crescimento e por introduzir na área financeira a chamada «guerra das supercontas» garantindo aos seus depositantes juros entre 8% e l2%. Tinha vistas largas acerca da concessão de créditos e da filosofia dos seguros de alto risco. Logo em seguida, através de contrapartidas não totalmente esclarecidas, comprou o BCI – Banco do Comércio e Indústria – e consolidou definitivamente a sua presença no nosso país e em Espanha. É grupo de topo no esquema financeiro do país vizinho.
Segundo rezam os noticiários, vamos agora encontrar o Santander nos safaris que se realizam, em roda livre, nos terrenos do neoliberalismo moribundo. Compra, vende e revende, recolhe os benefícios das falsas privatizações e não cessa de investir noutros mercados de conveniência. Adquire redes de balcões e joga forte nos ramos dos seguros, pensões e valores hipotecários. Simultaneamente, vira-se para África, liga-se à Caixa Geral de Depósitos (Estado português) e à Sonangol (Estado angolano) e forma em Luanda uma poderosa holding bancária destinada a «gerir participações sociais». Se juntarmos todos os bocadinhos do que se passa na Wall Stret e na Angola do petróleo, teremos a leitura directa do exemplo do que é a gestação de uma super-estrutura capitalista à escala mundial do futuro, vinda dos escombros da crise financeira e com a bênção do FMI e de uma Igreja que tanto diz interessar-se pela questão social mas nada faz. O FMI conta histórias de embalar e a Igreja enriquece.
Evidentemente que nem só o Santander e o Vaticano caçam nas coutadas da desgraça. Os tiros certeiros partem dos quatro cantos da selva. E é curioso notar-se, uma vez mais, como os grupos financeiros de capital eclesiástico se compram e vendem uns aos outros ou, nos negócios, se escondem atrás de siglas anónimas e secundárias das suas formações financeiras. Com palavras finas falam em «subprime», aventureirismo, ética, solidariedade, etc. Discursos falsos e vãos. Eles bem sabem que a sua missão histórica consiste em dominar, enriquecer e falsear a verdade.
Os pobres que paguem a crise.
Materialmente ganhará o Vaticano, com a crise financeira, valor acrescentado? As contas das crises cíclicas do passado confirmam que sim. Nas guerras, com as ameaças de guerra ou nas incertezas financeiras e nos pavores, as fortunas procuram sempre locais de asilo seguros. Habitualmente, recolhiam-se aos muros do Vaticano (a que agora se juntam os off-shores, também chamados paraísos fiscais). Mas no mundo actual, com tanto alarido da comunicação social e com tanta escandaleira, os paraísos ameaçam tornar-se lugares de alto risco. Melhor será pois para as grandes fortunas acolherem-se à experiência paternal do IOR (Instituto das Obras Religiosas), o banco pontifício.
Fortuna atrai fortuna e talvez esteja aí o segredo da mudez papal perante a crise.
O milagre da multiplicação dos pães
A verdadeira confiança exclui o imobilismo. Ter dinheiro alheio e acções à sua guarda implica que o banqueiro os valorize e os aplique em investimentos seguros. Esta é uma das razões que levam a alta finança a confiar na Igreja que também confia nos banqueiros. Tente encontrar-se, então, um exemplo actualizado dessa confiança mútua que invariavelmente termina na acumulação de lucros, como se se tratasse de nova parábola da multiplicação dos pães.
O «Grupo Santander», cujas origens entroncam na Companhia de Jesus e na Ordem dos Dominicanos, está profundamente enraizado no mundo financeiro e eclesiástico. O banco tem relações preferenciais com importantes instituições financeiras ligadas ao Vaticano, tais como o J.P. Morgan, o Bank of América, a RAR suíça, o inglês Bank of Scotia, a norte-americana Camper especializada na gestão de fundos de pensões, os franceses do Crédit Lyonnais ou os porto-riquenhos do Bayamond Saving, ligado ao universo dos off-shores. O Santander, quando entrou em Portugal, ainda na década de 80, logo se distinguiu por revelar uma elevada taxa de crescimento e por introduzir na área financeira a chamada «guerra das supercontas» garantindo aos seus depositantes juros entre 8% e l2%. Tinha vistas largas acerca da concessão de créditos e da filosofia dos seguros de alto risco. Logo em seguida, através de contrapartidas não totalmente esclarecidas, comprou o BCI – Banco do Comércio e Indústria – e consolidou definitivamente a sua presença no nosso país e em Espanha. É grupo de topo no esquema financeiro do país vizinho.
Segundo rezam os noticiários, vamos agora encontrar o Santander nos safaris que se realizam, em roda livre, nos terrenos do neoliberalismo moribundo. Compra, vende e revende, recolhe os benefícios das falsas privatizações e não cessa de investir noutros mercados de conveniência. Adquire redes de balcões e joga forte nos ramos dos seguros, pensões e valores hipotecários. Simultaneamente, vira-se para África, liga-se à Caixa Geral de Depósitos (Estado português) e à Sonangol (Estado angolano) e forma em Luanda uma poderosa holding bancária destinada a «gerir participações sociais». Se juntarmos todos os bocadinhos do que se passa na Wall Stret e na Angola do petróleo, teremos a leitura directa do exemplo do que é a gestação de uma super-estrutura capitalista à escala mundial do futuro, vinda dos escombros da crise financeira e com a bênção do FMI e de uma Igreja que tanto diz interessar-se pela questão social mas nada faz. O FMI conta histórias de embalar e a Igreja enriquece.
Evidentemente que nem só o Santander e o Vaticano caçam nas coutadas da desgraça. Os tiros certeiros partem dos quatro cantos da selva. E é curioso notar-se, uma vez mais, como os grupos financeiros de capital eclesiástico se compram e vendem uns aos outros ou, nos negócios, se escondem atrás de siglas anónimas e secundárias das suas formações financeiras. Com palavras finas falam em «subprime», aventureirismo, ética, solidariedade, etc. Discursos falsos e vãos. Eles bem sabem que a sua missão histórica consiste em dominar, enriquecer e falsear a verdade.
Os pobres que paguem a crise.