29.º aniversário da JCP

«Temos a força da razão e o apoio da juventude»

A JCP comemorou, sábado, na Academia Almadense, o seu 29.º aniversário. Uma data marcada pela resistência de quem luta, todos os dias, pela transformação da sociedade. Jerónimo de Sousa salientou o papel da JCP na mobilização da juventude e na defesa dos seus interesses.

Estas si­tu­a­ções são uma ver­gonha para a de­mo­cracia

«Vivemos num mundo mais injusto e mais desigual, onde cada vez mais uns têm muito e outros quase nada», afirmou, perante uma sala cheia de gente, André Luz. Na sua intervenção, o membro da Direcção Nacional da JCP alertou para os ataques aos direitos da juventude, nomeadamente «à educação pública, gratuita e de qualidade para todos», «ao emprego», «à produção e fruição culturais», «à livre e democrática prática desportiva», «a um mundo de paz e amizade entre os povos», «a um ambiente livre da destruição exploradora do capitalismo», «a uma sexualidade sem medos nem complexos» e «a um sistema de saúde pública, gratuita, de qualidade e para todos».
Mas os jovens não baixam os braços. E se a ofensiva é grande, a resposta é proporcional. Prova disso foi a jornada de luta, no passado dia 5 de Novembro, levada a cabo pelos estudantes do ensino secundário e básico (ver página 13). Um pouco por todo o País, mais de 30 mil alunos manifestaram-se contra os exames nacionais, a formulação actual das aulas de substituição, os custos do ensino e a privatização de parcelas rentáveis do sistema. Exigiram ainda mais e melhores condições materiais e humanas e a implementação da educação sexual nas escolas.
«Esta foi uma das maiores lutas nacionais dos últimos anos. Foi uma grande prova de que os estudantes não querem estas leis e não querem este ensino», lembrou André Luz, acusando o Governo de tentar «limitar e impedir os protestos, recorrendo a governos civis, conselhos executivos e mesmo à polícia».
«Repudiamos as tentativas de impedimento das manifestações como no Montijo ou em Guimarães. A acção da polícia em Cacilhas e em Castelo Branco, que agrediu indiscriminadamente estudantes. A tentativa de repressão da polícia numa escola em Lisboa, que no dia a seguir à luta foi interrogar os alunos se tinham ido à manifestação. Estas situações são uma vergonha para a democracia», acrescentou, dando, por outro lado, conta de um processo em tribunal «onde dois militantes da JCP são acusados de cometer um crime de dano qualificado, arriscando uma pena de prisão de cinco anos, por os camaradas pintarem um mural e exercerem um direito, ao abrigo da Constituição da República».
O Executivo PS pretende ainda destruir o que ainda resta do ensino superior público. «Este Governo, tal como os anteriores, tem-se desresponsabilizado no funcionamento do ensino superior, estando hoje muitas instituições a viver uma situação de asfixia financeira», referiu André Luz, informando que «esta situação obriga a que sejam os estudantes a pagar cada vez mais os seus estudos, pois o financiamento e a Acção Social cada vez é menos e as propinas sempre a aumentar».
Mais, continuou, «com o processo de Bolonha, os estudantes para terem uma formação completa têm obrigatoriamente de frequentar um segundo ciclo, que custa milhares de euros, chegando em algumas universidades a 18 mil euros. Uma clara tentativa de elitizar o ensino superior.»
O Governo é ainda responsável pela implementação do Regime Jurídico que leva à redução «drástica» dos estudantes nos orgãos de gestão das escolas e coloca os grandes grupos económicos privados a participar nessa gestão. «Dizem que querem o ensino mais ligado à sociedade, mas na verdade o que querem é privatizar a educação, colocando a escola a ser dirigida directamente pelo grande capital», desmascarou o jovem comunista.

Exér­cito de pre­cá­rios

Também os jovens trabalhadores sofrem com a política de direita. «A proposta para a revisão do Código de Trabalho, a política dos baixos salários, nomeadamente nos jovens trabalhadores, o aumento brutal do custo de vida, a tentativa de criar um exército ainda maior de jovens precários e de fácil exploração, é um ataque brutal aos direitos da juventude», criticou André Luz, informando que a Interjovem «salientou o papel da JCP na mobilização da juventude e na defesa dos seus interesses está a realizar uma quinzena contra a precariedade dentro das empresas».
No seu 29.º aniversário, a JCP denunciou ainda a ilegalização da Juventude Comunista da República Checa, «que, como nós, luta pela transformação da sociedade». «Saudamos os milhares de jovens que por todo o mundo subscreveram o abaixo-assinado da Federação Mundial das Juventudes Democráticas. Em solidariedade com os nossos camaradas de todo o mundo, continuamos na luta», frisou.
André Luz fez ainda um resumo do que tem sido a vida da JCP. «Ao longo destes anos travámos muitas lutas, envolvendo milhares e milhares de jovens. Fomos uma força viva da vida dos jovens portugueses e sempre estivemos com eles na luta por um Portugal livre e democrático, em que os direitos dos jovens fossem cumpridos. No entanto, neste aniversário, mais do que olhar para trás, olhamos para a frente. Temos a força da razão e o apoio da juventude. A luta não é só nossa, é de todos os jovens portugueses. Avante com a luta, que unidos venceremos!», disse.


Je­ró­nimo de Sousa de­nuncia pro­blemas da ju­ven­tude
>JCP, uma força de pre­sente e fu­turo

Na comemoração dos 29 anos da JCP, Jerónimo de Sousa lembrou que a juventude não é só uma força de futuro, mas sim «uma força de presente, na luta pela democracia, pela liberdade, pelo reforço do PCP, por um País melhor, por Abril que um dia existiu na nossa terra e que hoje está profundamente ameaçado, nas suas conquistas e realizações».
«Precisamos de vós, neste tempo tão difícil, em que, particularmente, a juventude portuguesa é profundamente fustigada por problemas no plano da escola, do trabalho, da habitação, das liberdades. Creio que tendes uma responsabilidade particular, hoje, nestes tempos que correm, para tentar mudar, lutando», afirmou, valorizando o papel da JCP junto dos estudantes e dos jovens trabalhadores.
Em jeito de balanço, contrariando as «profecias da desgraça», o Secretário-geral do PCP sublinhou «a actualidade, a validade e a modernidade do projecto comunista, da sua ideologia, da sua luta, da sua intervenção e da sua acção». «Que desilusão devem sentir aqueles que andaram atrelados ao neoliberalismo, que meteram o socialismo e a própria social-democracia na gaveta, quando vêem que o PCP está mais forte, mais rejuvenescido. Que bom que é dizer que entraram para as fileiras do Partido mais de sete mil militantes, 33 por cento dos quais com menos de 35 anos, 900 dos quais jovens raparigas», informou.
Numa intervenção bastante aplaudida pelos jovens comunistas, Jerónimo de Sousa acusou o Governo, depois de ter aprovado na Assembleia da República as alterações ao Código de Trabalho, de ter «traído» os interesses e direitos dos trabalhadores.
«Conseguiu propostas mais graves do que aquelas que foram apresentadas pela direita», acusou, lembrando que o PS «votou contra as suas próprias propostas», apresentadas recentemente. «Um PS que olha para os jovens e lhes dedica grandes palavras, mas não é capaz de lhes dizer que, com este Código de Trabalho, irão conhecer um regime ainda pior do que o trabalho precário», denunciou, dando como exemplo «o alargamento, para seis meses, do período experimental» de trabalho, «em que o jovem entra para o emprego apenas recebendo o seu vencimento, sem direito a férias, ao subsídio de férias, ao subsídio de Natal, ao subsídio de doença, ao subsídio de desemprego».

Go­verno ao lado dos po­de­rosos

Acusou ainda o Executivo PS de ser «mãos rotas» para o grande capital, os responsáveis pela actual crise económica, e fazer um «garrote» às famílias portuguesas «cortando as pernas e as expectativas» daqueles que têm o desejo de ter habitação própria. «Não venham com discursos sociais-democratas, porque, na prática, com este Código de Trabalho, com este Orçamento, com as medidas que está a tomar em relação ao sector financeiro, demonstra que tem uma opção, ou seja, está do lado dos mais fortes e poderosos», acentuou.
No dia em que 120 mil professores e pessoas ligadas à comunidade educativa se manifestavam em Lisboa, o Secretário-geral do PCP lembrou que os direitos conquistados com Abril não caíram do céu. «Não pensem que os vossos direitos caíram de São Bento. A juventude só terá uma vida melhor se lutar, reagir, participar. Eu sei que a JCP fará a sua parte, estimulará a luta, irá para as escolas, para os locais de trabalho, para o movimento associativo», disse Jerónimo de Sousa, concluindo: «Ao longo da vida do nosso Partido, e ao longo da vida da JCP, as derrotas nunca nos desanimaram, tal como as vitórias nunca nos fizeram descansar. Aqui estamos, mais fortes, rejuvenescidos, construindo uma sociedade mais justa, liberta da exploração do homem pelo homem, o socialismo, neste processo onde Abril continua a estar presente, onde a democracia avançada deve ser etapa mais próxima».


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