A manhã dos nevoeiros ...
Quem diria há bem poucos meses que o brilhante espectáculo do «capitalismo triunfante» iria perder tão depressa o seu colorido folclórico? No entanto, é já evidente que assim acontece e que todo este processo decadente não consegue ser travado pelas oligarquias que dominam o mundo. O défice financeiro transformou-se em défice económico e caminha agora, abertamente, para uma crise política. Abrem-se brechas nas bolsas de valores, o desemprego cresce como «bola de neve», o dinheiro vale cada vez menos e a economia capitalista entra em ruína: produz-se o que não se vende e o que é inútil ou inacessível às populações cada vez mais empobrecidas; as economias investem no acessório e poupam naquilo que é essencial ao colectivo dos cidadãos. Depois, os estados capitalistas arriscam fortunas fabulosas nos prontos-socorros impostos ao sistema em agonia. Sem nada resolverem. O tão falado e mítico «novo mundo» repete a história das sociedades classistas quando explora os trabalhadores, lhes acena com dinheiro e os continua a roubar.
Como é evidente, esta situação de angústia dos povos e de iminência da pobreza não se vai eternizar a este nível. Mais cedo do que tarde, a ruptura social será inevitável. Os políticos capitalistas responsáveis têm a noção da gravidade do momento complexo que se vive mas procuram evadir a realidade. Acantonados na banca, nas bolsas e nos off-shores, os «tubarões» (entre os quais o Vaticano tem lugar cativo) ruminam vinganças e planos de salvação dos seus tesouros. Mas as névoas vendam-lhes a lucidez do olhar. O beco onde moram é de sentido único.
Nos tempos presentes, os socialistas são pouco ou nada socialistas. Os católicos procuram parecer modernos, embora não se entendam nem lidem bem com a ideia de modernidade. Não se vê caminhar pelo seu pé a sonhada «unidade de esquerda», utópica e gratuita, tal como não se consegue estruturar a nível universal a «sociedade civil» clerical ou a mística da «nova Igreja ao serviço dos homens». Os pobres são cada vez mais pobres e os ricos nunca foram tão ricos. O dinheiro é imobilista e, mesmo na Europa, os tiranos espreitam. Até mesmo os patrões se devoram uns aos outros. São as fusões, os palácios no meio do deserto.
Os pesadelos da ortodoxia
Esta é a matéria amorfa que Sócrates, os banqueiros, uma vasta equipa multidisciplinar e a recatada hierarquia da Igreja têm por missão remodelar. Vistas bem as coisas, o que mais importa é salvar os interesses do grande capital conservando, como moldura enganadora, o quadro aparente das conquistas democráticas, os direitos e liberdades fundamentais, o respeito pela livre concorrência, o princípio inefável da constitucionalidade do Estado, etc.. Aos grandes senhores importa impor contra-valores mas enquadrando-os numa aparência de princípios e de legalidade, social e democrática, de forma a ocultar objectivos que sabem impopulares. Escondendo da opinião pública comum a gigantesca manobra. Para a recuperação capitalista é de importância fundamental a cortina das palavras. Por isso se compreende que a face visível dos governantes socialistas, da democracia-cristã ou de importantes sectores da social-democracia seja simplesmente virtual. Em si mesmos, os políticos são simples veículos das estratégias cruzadas do dinheiro. Sobem ao palco, representam e vão-se embora mas deixam os seus «duplos» como herança. Logo outros comparsas pisam o tablado e declamam, de maneira diferente, um texto que é sempre o mesmo. Não querem uma sociedade nova. Basta-lhes manterem a sua gigantesca influência.
Para o povo comum, é preciso votar, é preciso eleger, é preciso exercer direitos mas, igualmente, é preciso exigir.
É esta exigência a dimensão que historicamente tem falhado em Portugal. O nosso voto marca apenas o início de um processo de acção que tem de ser respeitado, o que em geral não acontece. Cabe ao povo português exigir do Poder o respeito pelo sentido do voto popular. A liberdade exclui a exploração do homem, a mentira pública e o fanatismo.
Como é evidente, esta situação de angústia dos povos e de iminência da pobreza não se vai eternizar a este nível. Mais cedo do que tarde, a ruptura social será inevitável. Os políticos capitalistas responsáveis têm a noção da gravidade do momento complexo que se vive mas procuram evadir a realidade. Acantonados na banca, nas bolsas e nos off-shores, os «tubarões» (entre os quais o Vaticano tem lugar cativo) ruminam vinganças e planos de salvação dos seus tesouros. Mas as névoas vendam-lhes a lucidez do olhar. O beco onde moram é de sentido único.
Nos tempos presentes, os socialistas são pouco ou nada socialistas. Os católicos procuram parecer modernos, embora não se entendam nem lidem bem com a ideia de modernidade. Não se vê caminhar pelo seu pé a sonhada «unidade de esquerda», utópica e gratuita, tal como não se consegue estruturar a nível universal a «sociedade civil» clerical ou a mística da «nova Igreja ao serviço dos homens». Os pobres são cada vez mais pobres e os ricos nunca foram tão ricos. O dinheiro é imobilista e, mesmo na Europa, os tiranos espreitam. Até mesmo os patrões se devoram uns aos outros. São as fusões, os palácios no meio do deserto.
Os pesadelos da ortodoxia
Esta é a matéria amorfa que Sócrates, os banqueiros, uma vasta equipa multidisciplinar e a recatada hierarquia da Igreja têm por missão remodelar. Vistas bem as coisas, o que mais importa é salvar os interesses do grande capital conservando, como moldura enganadora, o quadro aparente das conquistas democráticas, os direitos e liberdades fundamentais, o respeito pela livre concorrência, o princípio inefável da constitucionalidade do Estado, etc.. Aos grandes senhores importa impor contra-valores mas enquadrando-os numa aparência de princípios e de legalidade, social e democrática, de forma a ocultar objectivos que sabem impopulares. Escondendo da opinião pública comum a gigantesca manobra. Para a recuperação capitalista é de importância fundamental a cortina das palavras. Por isso se compreende que a face visível dos governantes socialistas, da democracia-cristã ou de importantes sectores da social-democracia seja simplesmente virtual. Em si mesmos, os políticos são simples veículos das estratégias cruzadas do dinheiro. Sobem ao palco, representam e vão-se embora mas deixam os seus «duplos» como herança. Logo outros comparsas pisam o tablado e declamam, de maneira diferente, um texto que é sempre o mesmo. Não querem uma sociedade nova. Basta-lhes manterem a sua gigantesca influência.
Para o povo comum, é preciso votar, é preciso eleger, é preciso exercer direitos mas, igualmente, é preciso exigir.
É esta exigência a dimensão que historicamente tem falhado em Portugal. O nosso voto marca apenas o início de um processo de acção que tem de ser respeitado, o que em geral não acontece. Cabe ao povo português exigir do Poder o respeito pelo sentido do voto popular. A liberdade exclui a exploração do homem, a mentira pública e o fanatismo.