Ciência económica e privatizações
Clama-se com frequência que ciência é ciência, que ela é uma coisa independente dos interesses de classe - e hoje em dia os arautos de que as classes já não existem começam a calar-se que nem ratos (é claro, os ratos como o Mickey só falam no mundo alternativo dos bonecos animados!). Mas, dizia eu, que nos têm feito engolir essa de que o conhecimento científico é uma coisa autónoma e que as suas aplicações são más ou boas, consoante as intenções dos mandantes e dos praticantes. Sim e não, direi eu, pois a realidade é sempre contraditória - e posso parecer um céptico, mas ainda não conseguiram convencer-me que o seja -, mas também são as contradições que nos permitem progredir, tanto individualmente como por equipas, como é uso dizer no Desporto.
Mas voltando ao nosso tema: se nas ciências duras ou «exactas», nas matemáticas e nas naturais, como a física, a química, a biologia, para ir pelo caminho tradicional, tal asserção de independência da ciência, de «pureza» do conhecimento científico, é em boa medida, ou talvez em toda a medida - não vou discutir agora essa coisa, não me vou meter por esses descaminhos neste texto -, o certo é que nas ciências sociais e humanas - na economia, na sociologia, na antropologia, na psicologia, na ciência política, na história - não é tão simples, ou mesmo nada possível, fazer assim, sem quase mais nem menos, tais asserções.
É certo que nestes ramos científicos têm sido introduzidos, com sucesso assinalável, métodos matemáticos, métodos quantitativos, seguindo as receitas das ciências duras ou «exactas». É certo que uma enorme quantidade de cientistas destes ramos tem, com grande pundonor e honestidade, avançado no estudo dos fenómenos que se propõem investigar para crescentes níveis de objectividade. Quer dizer, têm conseguido ultrapassar, de forma crescente, alguns dos principais problemas epistemológicos que se lhes têm colocado, nomeadamente os da objectividade e da expressão de leis científicas em rigorosos termos matemáticos. Nada a dizer deste ponto de vista, só a encarecer e a estimular a sua caminhada.
Contudo, não há bela sem senão. E o grande senão, ou os grandes senões, encontra-se, ou encontram-se, nas limitações impostas aos objectos ou fenómenos investigados. Quer por razões de só determinados objectos ou fenómenos serem passíveis de ver os seus projectos de investigação financiados, quer por razões de visões do mundo, por graves limitações, preconceitos e distorções derivadas de enquadramentos ideológicos, as quais, mesmo os mais inteligentes e honestos, não conseguem ultrapassar.
Mas isto vem tudo a propósito do quê, e porquê nesta altura? Bom, o que estimulou no curto prazo esta abordagem, foi o - chamemos-lhe assim - destrambelhamento total do sistema financeiro neoliberal que era suposto ser a maravilha das maravilhas que vinha coroar o final dos tempos históricos. Com efeito, as ondas de choque financeiro deste mundo capitalista, difundindo-se antes de tudo a partir do centro imperial da Rua do Muro, ou da Parede, ou «Wall Street» como soa esse sítio ser dito em Nova Iorque, foram pelo Globo fora propagadas através dos meios da sociedade da informação ou do conhecimento (?), foram por aí adiante electrónica e «instantaneamente», e acabaram por dar no que deram: operações de salvamento de instituições financeiras através de injecções de capital, garantias do Estado aos créditos da Banca - 20 000 milhões de Euros em Portugal - e, sobretudo lá nos mais liberais dos mais liberais dos países, nos EUA e, mais recentemente, no Reino Unido, deram também em nacionalizações! - o que não aconteceu, pelo menos até à data, no nosso País, que ainda tem um grande banco do Estado que tem vindo a «ajudar» a banca privada (não será esta a razão por que «eles» se gabam da solidez da banca portuguesa?).
Bom, nacionalizações, pois claro. Nacionalizações que não foram ditadas, desta vez, por objectivos de construção do Socialismo, mas antes impostas pela vontade de manter tanto quanto possível o actual sistema financeiro em funcionamento, de evitar o seu total descalabro.
Então as nacionalizações, que tinham sido banidas por alegadas razões de optimização de «alocação» de investimentos, de maximização de lucros, são agora reintroduzidas para evitar que esse mesmo sistema entre em colapso? Não será então altura, srs. economistas, de reconsiderar de uma perspectiva científica a necessidade de nacionalização dos sistemas financeiros, como a prática o está a demonstrar?
Mas voltando ao nosso tema: se nas ciências duras ou «exactas», nas matemáticas e nas naturais, como a física, a química, a biologia, para ir pelo caminho tradicional, tal asserção de independência da ciência, de «pureza» do conhecimento científico, é em boa medida, ou talvez em toda a medida - não vou discutir agora essa coisa, não me vou meter por esses descaminhos neste texto -, o certo é que nas ciências sociais e humanas - na economia, na sociologia, na antropologia, na psicologia, na ciência política, na história - não é tão simples, ou mesmo nada possível, fazer assim, sem quase mais nem menos, tais asserções.
É certo que nestes ramos científicos têm sido introduzidos, com sucesso assinalável, métodos matemáticos, métodos quantitativos, seguindo as receitas das ciências duras ou «exactas». É certo que uma enorme quantidade de cientistas destes ramos tem, com grande pundonor e honestidade, avançado no estudo dos fenómenos que se propõem investigar para crescentes níveis de objectividade. Quer dizer, têm conseguido ultrapassar, de forma crescente, alguns dos principais problemas epistemológicos que se lhes têm colocado, nomeadamente os da objectividade e da expressão de leis científicas em rigorosos termos matemáticos. Nada a dizer deste ponto de vista, só a encarecer e a estimular a sua caminhada.
Contudo, não há bela sem senão. E o grande senão, ou os grandes senões, encontra-se, ou encontram-se, nas limitações impostas aos objectos ou fenómenos investigados. Quer por razões de só determinados objectos ou fenómenos serem passíveis de ver os seus projectos de investigação financiados, quer por razões de visões do mundo, por graves limitações, preconceitos e distorções derivadas de enquadramentos ideológicos, as quais, mesmo os mais inteligentes e honestos, não conseguem ultrapassar.
Mas isto vem tudo a propósito do quê, e porquê nesta altura? Bom, o que estimulou no curto prazo esta abordagem, foi o - chamemos-lhe assim - destrambelhamento total do sistema financeiro neoliberal que era suposto ser a maravilha das maravilhas que vinha coroar o final dos tempos históricos. Com efeito, as ondas de choque financeiro deste mundo capitalista, difundindo-se antes de tudo a partir do centro imperial da Rua do Muro, ou da Parede, ou «Wall Street» como soa esse sítio ser dito em Nova Iorque, foram pelo Globo fora propagadas através dos meios da sociedade da informação ou do conhecimento (?), foram por aí adiante electrónica e «instantaneamente», e acabaram por dar no que deram: operações de salvamento de instituições financeiras através de injecções de capital, garantias do Estado aos créditos da Banca - 20 000 milhões de Euros em Portugal - e, sobretudo lá nos mais liberais dos mais liberais dos países, nos EUA e, mais recentemente, no Reino Unido, deram também em nacionalizações! - o que não aconteceu, pelo menos até à data, no nosso País, que ainda tem um grande banco do Estado que tem vindo a «ajudar» a banca privada (não será esta a razão por que «eles» se gabam da solidez da banca portuguesa?).
Bom, nacionalizações, pois claro. Nacionalizações que não foram ditadas, desta vez, por objectivos de construção do Socialismo, mas antes impostas pela vontade de manter tanto quanto possível o actual sistema financeiro em funcionamento, de evitar o seu total descalabro.
Então as nacionalizações, que tinham sido banidas por alegadas razões de optimização de «alocação» de investimentos, de maximização de lucros, são agora reintroduzidas para evitar que esse mesmo sistema entre em colapso? Não será então altura, srs. economistas, de reconsiderar de uma perspectiva científica a necessidade de nacionalização dos sistemas financeiros, como a prática o está a demonstrar?