Paulo Raimundo, da Comissão Política, falou ao Avante! sobre a Festa da Alegria

Um teste à capacidade de atracção do Partido

Nos dias 19 e 20 de Julho, realiza-se no Parque de Exposições de Braga, a 15.ª edição da Festa da Alegria. Ao Avante!, Paulo Raimundo, da Comissão Política do Comité Central, revelou alguns aspectos da sua preparação e realização.
Avante! - Já há muito tempo que a Festa da Alegria não tem uma regularidade anual. Porquê a opção de a realizar este ano?

Paulo Raimundo
– A primeira razão prende-se com esta simbologia – que é mais do que isso – de se comemorar os trinta anos da realização da primeira edição da Festa da Alegria. Todas as edições tiveram momentos muito especiais, mas a primeira foi o pontapé de saída de todo este projecto e realizou-se num quadro político muito desfavorável ao Partido. Tinha-se acabado de sair do «Verão Quente» e o Centro de Trabalho de Braga tinha sido atacado e incendiado. Termos tido a coragem e as condições políticas, humanas e financeiras para a realizar é, só por si, uma prova de grande resistência.
A segunda razão é que esta é uma festa já profundamente enraizada na população e na região. Apesar de ter sofrido várias vicissitudes, por várias razões e dificuldades, pelo facto de não se realizar com a regularidade que talvez fosse necessária, existe uma grande expectativa em torno da Festa, nos milhares de pessoas que já estiveram nas anteriores edições. Pensamos que isto também justificava a sua realização.

O momento político que se vive também contribuiu para a decisão?

Claro que sim, é uma terceira razão, e não menos importante do que as anteriores. Vivemos um momento de grandes ataques a quem trabalha. Na região de Braga, esses ataques sentem-se todos os dias. A taxa de desemprego na região é das mais altas do País e os salários e pensões são dos mais baixos, fundamentalmente no sector têxtil. Ao mesmo tempo, vive-se um momento de grande luta social. Vamos procurar que aquela gente que está no combate e na luta, nas empresas, que recebem a nossa propaganda, que está connosco no dia-a-dia, seja o corpo central da participação da Festa. Se assim for, teremos ali o núcleo central da resistência e da luta dos trabalhadores do distrito.

E o alargamento da influência do Partido na região está também ligado à realização desta Festa?

A luta aumenta e desenvolve-se com o reforço do Partido, assim como o Partido também se reforça na luta com mais quadros, mais recrutamentos e mais experiência. A nível partidário, encaramos a própria realização da Festa da Alegria como um momento alto para «pôr à prova» a capacidade de atracção e realização do Partido. Sabemos que temos dificuldades, mas partimos para a Festa com muita confiança na capacidade de fazermos coisas bonitas para o bem do nosso povo.

A recente visita de Jerónimo de Sousa ao distrito revelou bem essa capacidade de atracção...

Realizámos aquele comício e aquela volta com o Jerónimo de Sousa, no dia 1 de Junho, apostados em duas ideias: mobilizar e afirmar o Partido; «testar» a sua capacidade de atracção. Só realizámos aquelas iniciativas porque o Partido tem capacidade de atracção e existe disponibilidade para ouvir o Partido. Só com a nossa gente não teríamos conseguido realizar iniciativas com aquela dimensão.

O Partido está mais forte em Braga. Mas está assim tão forte para construir e realizar a Festa da Alegria, sabendo que a actividade do Partido e a luta não param?

Um dos desafios que nos está colocado é precisamente esse: como é que, em Braga, com os meios que temos, preparávamos e realizávamos uma Festa sem ter deixado para trás aquilo que é essencial – a organização do Partido e o reforço da luta social? De um ponto de vista teórico, pode dizer-se que existe uma dialéctica e que uma coisa potencia a outra. Mas na prática é mais complicado. Penso que estamos a cumprir, como aliás ficou demonstrado na acção de dia 1 com o secretário-geral do Partido e na própria manifestação nacional de dia 5, em Lisboa.

Como está a ser feita a divulgação da Festa? Até onde se pretende chegar?

Estamos com um programa muito intenso de divulgação da Festa no distrito. Os cartazes estão a ser colocados e há uma revista e um folheto. Nesta fase, estamos a procurar puxar pelos diferentes aspectos da Festa e do seu programa.
Mas queremos que esta divulgação vá o mais longe possível. Quando há pouco dizia que esta festa tem que ser uma festa onde aqueles que estão na luta se revejam, quis dizer que esses têm que ser convidados. Estamos a encarar a divulgação da Festa como se de uma jornada de luta se tratasse. Estamos a ir com carros de som à porta das empresas onde normalmente vamos distribuir a nossa propaganda.

Qualidade e diversidade

A Festa da Alegria é a festa da luta, já o disseste. De que forma a luta estará presente?

Esta ideia de que a Festa da Alegria é uma festa da luta e da resistência é, em si mesmo, uma forma de luta. De resto, a luta estará presente nas suas diferentes expressões. Por um lado, nas exposições e nos debates, por outro, no comício com a participação do secretário-geral do Partido, que será o grande momento político da Festa da Alegria. E, claro, pela participação das pessoas na Festa. Pensamos que devemos fazer tudo para que as pessoas se identifiquem não só com a Festa da Alegria, mas com os seus promotores e com o seu espírito.

Que temas vão estar em destaque nesta edição?

Vamos ter um bloco sobre a resistência. No auditório será realizado um debate sobre «Memória da resistência, os alicerces do futuro». Com isto, queremos fazer uma justa homenagem à resistência do Partido, aos antifascistas, e, ao mesmo tempo, voltá-la para o futuro. Será feita uma homenagem a um camarada, já falecido, o Lino Lima. Ao falarmos deste camarada, procuraremos também enaltecer outros camaradas que, durante 48 anos de escuridão, tentaram dar ao povo alguma luz ao fundo do túnel. Inserido neste bloco, teremos ainda uma exposição evocativa da fuga de Caxias.
Haverá igualmente uma conversa sobre a comunicação social. Parece-nos um tema de grande actualidade, em particular em função da discriminação de que o Partido todos os dias é alvo. Serão também evocados dois homens das artes e da cultura, dois comunistas, dois participantes activos da Festa da Alegria – Ary dos Santos e Adriano Correia de Oliveira. Os 90 anos da Revolução de Outubro e os 5 anos da Guerra do Iraque são as outras exposições.

E ao nível do programa cultural, que destacas?

A primeira questão a destacar é a participação de todas as organizações regionais do Partido na Festa da Alegria, incluindo das regiões autónomas. E da JCP também. Assim, estará presente a cultura do povo, o seu artesanato e gastronomia, bem como a situação económica e social das várias regiões. Penso que é este o grande chamariz cultural da Festa.
Os bombos e os gaiteiros, que fazem parte da alma minhota, estarão presentes. Tinham que estar ou não seria a mesma coisa. Mas não ficamos por aqui. Apostámos na qualidade e na diversidade. Dos cantares alentejanos ao rock, passando pelo Jazz e guitarra portuguesa... Há teatro, desporto, livros e discos...


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Uma presença permanente

Presença constante nas Festas da Alegria são os desenhos do comunista bracarense Arlindo Fagundes. Desde a primeira edição que fazem a imagem da Festa, sempre diferentes, sempre a propósito. O seu homem do bombo confunde-se com a própria Festa.