EUA vinculados à máfia de Miami

Cuba contra o terrorismo

Hugo Janeiro
No passado mês de Maio, o presidente George W. Bush voltou a destilar fel contra Cuba e o caminho de progresso escolhido pelos cubanos, o qual, pela resistência e experiência revolucionária que transmite aos povos do mundo, representa uma espinha cravada na gula do imperialismo norte-americano. Contrastando com as ameaças, Cuba expôs provas inequívocas sobre os vínculos da actual administração dos EUA com a máfia terrorista de Miami e os lacaios que procuram manchar a dignidade de um povo e de um país.
Os documentos divulgados revelam os laços entre a Secção de Interesses dos EUA em Havana, a máfia terrorista de Miami e os grupos que em Cuba promovem a anexação pelo vizinho do Norte. O triângulo sujo envolve, entre outros personagens de baixo calibre, Michael Parmly, responsável pela representação diplomática de Washington em Cuba, Martha Cabello, activista da «dissidência», e Santiago Alvarez, cabecilha da Fundação Resgate Jurídico, detido nos EUA, mas livre de movimentos para a contra-revolução.
Segundo as autoridades cubanas, Parmly e Robert Blau, recentemente promovido a número dois da secção respeitante a Cuba no Departamento de Estado, serviram de «mulas» de transporte de dinheiro proveniente da Fundação de Resgate Jurídico com destino aos mercenários na ilha. Cabello – que recebe 1500 dólares mensais de soldo, para além de outras somas que distribui pelos demais assalariados de Washington em Cuba, igualmente denunciadas publicamente com os respectivos recibos de pagamento –, terá mesmo trocado correspondência com operacionais de Miami dando-lhes instruções precisas sobre como poderiam chegar a Parmly, o «carteiro», como lhe chama, numa ocasião em que o diplomata estava nos EUA e, assim, teria oportunidade de recolher os fundos transportando-os, posteriormente, para Cuba.
Martha Cabello não esconde que recebe o referido «auxílio». Foi a própria quem em conferência de imprensa agradeceu a «ajuda» da Fundação Resgate Jurídico e de outras organizações norte-americanas.
Interessa saber se tudo isto faz parte do chamado anexo secreto do Plano Bush; se a Casa Branca reconhece perante o mundo as acções desenvolvidas pelo seu corpo diplomático em Havana e as ligações com grupos criminosos da Florida, para mais quando insiste no «combate ao terrorismo».
O governo de Cuba exigiu que a administração norte-americana se pronuncie sobre as actividades da Secção de Interesses, tome medidas imediatas para que se cumpram os acordos entre Cuba e os EUA firmados em 1977, e não se violem grosseiramente as disposições da Convenção de Viena sobre relações consulares, as quais ditam expressamente que o conteúdo da bagagem diplomática só pode incluir material destinado ao serviço da embaixada, e nunca, em caso algum, outro cujo objectivo seja a promoção de acções hostis contra o país onde se situa a representação diplomática.
Instado a comentar as denúncias, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormak, repetiu, evasivo, que os EUA não violam leis internacionais na sua prática diplomática – esquecendo, certamente, que, em 2003, o então secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, mostrou perante as Nações Unidas provas forjadas sobre a detenção de armas de destruição em massa por parte do Iraque, transparência cujos resultados estão à vista –, mas admitiu que a Casa Branca apoia «actividades humanitárias» enquadradas no Plano Bush para Cuba, embora, insistiu, desconheça os mecanismo de financiamento e acção dos grupos de «dissidentes» e os vínculos destes com a máfia de Miami.

As altas esferas da contra-revolução

Às palavras ardilosas de McCormack, acrescem os conhecidos enlaces das altas esferas do poder nos EUA com os grupos de criminosos e terroristas anticubanos.
Basta lembrar que, em Janeiro último, George W. Bush agraciou Oscar Biscet, contra-revolucionário de vasta folha de serviços, com a Medalha Presidencial da Liberdade, entregando a condecoração em mãos à sua esposa, Elsa Morejón, também ela reconhecida activista das Damas de Branco; ou que só este ano estão destinados para grupos de «dissidentes cubanos» 47 milhões de dólares, os quais acabam nas mãos de «organizações humanitárias» como a Junta Patriótica Cubana ou a já referida Fundação de Resgate Jurídico; ou que os incluídos na folha de pagamentos dos terroristas de Miami são os mesmo que, na Secção de Interesses em Havana ou nas residências dos seus funcionários, brindam os discursos de Bush e de Condoleezza Rice que assumem o objectivo de fazer regressar Cuba à orbita do sistema capitalista; ou ainda que as campanhas de Bush para a Casa Branca puseram a nu as relações estreitas com Miami.
Neste particular, vale a pena sublinhar que o actual candidato Republicano, John McCain, encontrou-se no Sheraton daquela cidade, no dia 20 de Maio, com a máfia radicada na Florida, sendo apresentado à plateia por Roberto Martín-Pérez, ex-polícia de Fulgêncio Batista, e operacional da Fundação Nacional Cubano-Americana.
No discurso, McCain foi claro ao afirmar que «manter o embargo é parte de uma política mais ampla relativamente a Cuba. Prestaremos mais assistência material e apoio moral aos activistas dos direitos humanos que enfrentam o regime todos os dias. Incrementarei a Rádio e TV Martí e outros meios de comunicação».

Fachadas, logística e fontes

A Fundação de Resgate Jurídico foi registada a 24 de Junho de 2005, um mês depois da detenção pelas autoridades norte-americanas de Luís Posada Carriles, cabecilha do atentado contra um avião da companhia aérea cubana em Barbados e levado secretamente para os EUA precisamente por Santiago Alvarez.
A Fundação, como outras congéneres, recebem apoio de Washington, facto expresso no registo oficial, no qual se revela que as verbas que maneja provêm de fundos governamentais.
A criação de fachadas para encobrir o financiamento da contra-revolução em Cuba e promover actos de terrorismo não é novidade, como não é original o envolvimento da Secção de Interesses dos EUA em Havana como plataforma giratória.
As malas que chegaram a Havana com o selo do Departamento de Estado norte-americano mas que pertenciam a Frank Calzón, líder do Centro para uma Cuba Livre, que entre 1998 e 2005 arrecadou oito milhões de dólares; ou os volumes igualmente declarados como carga diplomática mas enviados por Frank Hernández Trujillo, do Grupo de Apoio à Democracia, irmãmente contemplado com generosos valores monetários, demonstram uma prática corrente.
Acrescem a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e a Fundação Nacional para a Democracia (NED), organizações que só na década de 90 financiaram mais de 350 atentados contra Cuba.

As Damas de Branco

Não nos surpreendamos se um destes dias as Damas de Branco forem candidatas ao Nobel da Paz. A campanha já foi lançada com os primeiros passos mediáticos. O que não se diz é que as autoridades cubanas provaram que as Damas de Branco recebem dinheiro do referido terrorista Santiago Alvarez.
Algumas das mulheres do grupo confirmaram à Associated Press que recebiam «ajuda» do exterior, mas negaram estar ao corrente da sua proveniência. Certo é que num dos e-mails trocados entre Martha Cabello e Carmen Machado, compincha de Alvarez em Miami, a primeira diz que todas o conhecem perfeitamente.
Existe um recibo que confirma que a cabecilha do grupo, Laura Pollán, recebeu 2400 dólares para distribuir. Também Elsa Morejón, conhecida por «lince», aparece na folha de pagamentos de 2008 da Fundação, embora em declarações à AP tenha dito «que não recebia ajuda da Resgate Jurídico».
Não deixa de ser curioso que o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormak, tenha dito que «a única assistência que os EUA prestam é às famílias dos presos políticos».

Criminoso protegido

Santiago Alvarez encontra-se a cumprir pena leve nos EUA devido à cumplicidade das autoridades norte-americanas e, novamente, ao envolvimento da Secção de Interesses em Havana, intermediária de uma carta de Martha Cabello e de outros «activistas» dirigida ao juiz James Chon dando-lhe conta de que o líder da Fundação Resgate Jurídico é, afinal, um benemérito dos «direitos humanos» em Cuba.
De acordo com o que apurou a investigação cubana, Carmen Machado argumentou que a missiva permitiria aliviar a pena a que seria condenado o «amigo». Carmen revela ainda que a carta de Martha só seria vista pelo magistrado e pelos advogados de Alvarez, induzindo que tudo se passou nas costas do ministério público dos EUA.
Alvarez, procurado pela Interpol, foi investigado pelo FBI e acusado de posse ilegal de uma grande quantidade de armas, explosivos e apetrechos de guerra, documentação falsa e obstrução à justiça no caso do transporte do terrorista Posada Carrilles. Foi sentenciado apenas a 16 meses de prisão efectiva, o que revela que as leis norte-americanas, e, neste particular, a famigerada Lei Patriota, não são para todos.


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