Roma pariu um rato
Terminou sem conclusões nem medidas concretas, no final da semana passada, em Roma, a Conferência da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.
A segurança alimentar dos povos foi afastada das conclusões da Conferência
O encontro que reuniu na capital italiana 193 países e diversas organizações para discutir a grave crise alimentar que atinge centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, adoptou uma declaração final de 14 pontos que pouco conclui sobre as causas profundas do problema e nada adianta quanto às soluções necessárias.
Para além das declarações consternadas, propagandísticas, e aparentemente bem intencionadas – como, por exemplo, as proferidas pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ou pelo Papa Bento XVI, entre outros acólitos mais ou menos fervorosos do regime capitalista -, a Conferência foi mais uma tímida reunião de doadores e beneficiários que um ponto de viragem impondo aos blocos imperialistas compromissos concretos para superar o flagelo da fome.
O director-geral da FAO, Jacques Diouf, disse acreditar no género humano e nos seus bons sentimentos. Acrescentou que «o mundo» espera soluções urgentes e respostas a médio longo prazo, e concluiu que em Roma foram dados passos importantes. Mas, na verdade, o documento final foi alvo de intensos debates de bastidores, mediados pelo próprio Diouf, envolvendo os representantes das nações com maiores recursos, e os dignitários de países como Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua e Argentina, entre outros, que pretendem mais que paliativos de emergência para um sistema que reproduz gerações de esfomeados e miseráveis.
Dados do Programa Alimentar Mundial, cuja esmagadora maioria do orçamento, 80 por cento, aproximadamente, se destina a situações prementes, indicam que as principais emergências se situam em países como o Haiti, Libéria, Afeganistão, Quénia, Somália, Cambodja, Etiópia, Burkina Faso, Moçambique, Iémen, Senegal, Burundi, República Centro-Africana e Serra Leoa. O PAM adverte ainda que em vastas regiões da Ásia e no continente africano, totalizando mais de 40 países, o elevado preço dos cereais faz pender a ameaça da fome sobre milhares de milhões de seres humanos.
Críticas duras
Na ressaca da Conferência, outras vozes críticas se levantaram contra a resolução dali resultante. Uma delas foi a do relator especial das Nações Unidas sobre o Direito à Alimentação.
Olivier Schutter considerou que o encontro promovido pela FAO foi incapaz de responder às questões essenciais e sublinhou que o direito à alimentação não se resume a dar de comer aos pobres em períodos de carência extrema.
Na base do repúdio de Schutter estão a ausência de respostas eficazes a questões como o aumento da produção global de alimentos, o combate ao açambarcamento e à especulação bolsista sobre mercados futuros, e a conciliação da segurança alimentar dos povos com a procura de fontes de energia alternativas, nomeadamente os agrocombustíveis.
Também o antecessor de Schutter, Jean Ziegler, teceu duras críticas à Conferência de Roma, a qual, afirmou, «em vez de resolver o problema da fome no mundo, agravou-o» na medida em que consubstanciou «uma vitória das grandes multinacionais que controlam cerca de 80 por cento do comércio agrícola mundial».
Em Munique, na Alemanha, o académico suíço classificou ainda a produção dos chamados biocombustíveis de «acção criminosa» e não poupou a FAO por ter permitido que os interesses privados afastassem da Conferência a discussão da sua limitação ou proibição.
Para além das declarações consternadas, propagandísticas, e aparentemente bem intencionadas – como, por exemplo, as proferidas pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ou pelo Papa Bento XVI, entre outros acólitos mais ou menos fervorosos do regime capitalista -, a Conferência foi mais uma tímida reunião de doadores e beneficiários que um ponto de viragem impondo aos blocos imperialistas compromissos concretos para superar o flagelo da fome.
O director-geral da FAO, Jacques Diouf, disse acreditar no género humano e nos seus bons sentimentos. Acrescentou que «o mundo» espera soluções urgentes e respostas a médio longo prazo, e concluiu que em Roma foram dados passos importantes. Mas, na verdade, o documento final foi alvo de intensos debates de bastidores, mediados pelo próprio Diouf, envolvendo os representantes das nações com maiores recursos, e os dignitários de países como Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua e Argentina, entre outros, que pretendem mais que paliativos de emergência para um sistema que reproduz gerações de esfomeados e miseráveis.
Dados do Programa Alimentar Mundial, cuja esmagadora maioria do orçamento, 80 por cento, aproximadamente, se destina a situações prementes, indicam que as principais emergências se situam em países como o Haiti, Libéria, Afeganistão, Quénia, Somália, Cambodja, Etiópia, Burkina Faso, Moçambique, Iémen, Senegal, Burundi, República Centro-Africana e Serra Leoa. O PAM adverte ainda que em vastas regiões da Ásia e no continente africano, totalizando mais de 40 países, o elevado preço dos cereais faz pender a ameaça da fome sobre milhares de milhões de seres humanos.
Críticas duras
Na ressaca da Conferência, outras vozes críticas se levantaram contra a resolução dali resultante. Uma delas foi a do relator especial das Nações Unidas sobre o Direito à Alimentação.
Olivier Schutter considerou que o encontro promovido pela FAO foi incapaz de responder às questões essenciais e sublinhou que o direito à alimentação não se resume a dar de comer aos pobres em períodos de carência extrema.
Na base do repúdio de Schutter estão a ausência de respostas eficazes a questões como o aumento da produção global de alimentos, o combate ao açambarcamento e à especulação bolsista sobre mercados futuros, e a conciliação da segurança alimentar dos povos com a procura de fontes de energia alternativas, nomeadamente os agrocombustíveis.
Também o antecessor de Schutter, Jean Ziegler, teceu duras críticas à Conferência de Roma, a qual, afirmou, «em vez de resolver o problema da fome no mundo, agravou-o» na medida em que consubstanciou «uma vitória das grandes multinacionais que controlam cerca de 80 por cento do comércio agrícola mundial».
Em Munique, na Alemanha, o académico suíço classificou ainda a produção dos chamados biocombustíveis de «acção criminosa» e não poupou a FAO por ter permitido que os interesses privados afastassem da Conferência a discussão da sua limitação ou proibição.