Povo defende Constituição
O referendo autonómico ilegal convocado pela oligarquia de Santa Cruz foi um fracasso, merecendo, apesar da fraude, da violência e da coação, a reprovação da maioria dos bolivianos.
Moradores do bairro Plan Tres Mil mostraram provas de fraude
Em comunicado ao país depois de divulgados os primeiros resultados, o presidente Evo Morales considerou que a «consulta ilegal e inconstitucional não teve o êxito esperado por certas famílias ou grupos de poder do departamento de Santa Cruz».
A sustentar a leitura de Morales está o facto dos dados apurados, quando comparados com anteriores sufrágios, revelarem que a abstenção praticamente triplicou, cifrando-se em cerca de 40 por cento dos quase um milhão de eleitores. A esmagadora maioria dos opositores ao referendo secessionista em Santa Cruz recusou-se a comparecer às urnas.
Acresce, explicou o presidente boliviano, que se a esta percentagem somarmos os 14 por cento obtidos pelo Não, concluímos que, mesmo num quadro de hostilidade extrema, violência física enfrentada pelas forças progressistas, e fraude comprovada, o projecto defendido pela oligarquia «cruceña» para a mais rica região da Bolívia foi, na realidade, derrotado.
Por muito que o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, e o presidente do Comité Cívico, Branco Marinkovic, afirmem ter vencido com 85,9 por cento, a verdade é que a consulta autonomista promovida com o objectivo de colocar em causa a nova Constituição do país fracassou, disse ainda Morales.
As províncias de Beni, Pando e Tarija prevêm realizar em Junho deste ano iniciativas semelhantes, mas é certo que as instituições bolivianas não vão reconhecer tais consultas. Domingo, para além do governo boliviano, também o general Luís Trigo, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Bolívia, desautorizou o referendo classificando-o irregular.
Provas da fraude
A evidenciar a fraude cometida pela reacção estão as provas apresentadas pelo Comité Popular do bairro Plan Tres Mil no próprio dia da consulta. Concentrados nos principais acessos àquela zona da cidade de Santa Cruz, os moradores mobilizaram-se numa manifestação contra o referendo e mostraram perante repórteres nacionais e estrangeiros duas dezenas de urnas repletas de boletins assinalados com Sim.
Os habitantes contaram que quando se apoderaram das urnas como forma de protesto face ao acto ilegal, descobriram que os receptáculos haviam sido previamente recheados de cédulas dando a vitória ao projecto separatista.
Nas imediações do bairro Plan Tres Mil, os membros do Comité Popular identificaram ainda vários elementos da milícia União Juvenil Cruceñista (UJC), grupo de choque de agrários e industriais treinado por paramilitares colombianos, e que o povo boliviano já conhece da onda de violência semeada meses antes na cidade de Sucre.
A UJC foi, aliás, a responsável pelos incidentes registados sexta-feira, dia 2, precisamente no referido bairro, quando populares se juntaram a operários, professores, camponeses e representantes das comunidades originárias para repudiarem o referendo. Entre os manifestantes estavam membros da comunidade Guarani, os quais denunciaram que a rejeição do texto constitucional aprovado em Dezembro de 2007 significa a manutenção das actuais condições de vida, isto é, trabalharem em regime de escravidão, por comida, apenas, e penhorados para com os latifundiários num sistema semi-feudal que obriga os filhos a pagarem as dívidas dos pais caso estes morram antes de as conseguirem saldar.
Povo defende Constituição
Paralelamente ao referendo ilegítimo em Santa Cruz, centenas de milhares de pessoas convocadas, entre outras organizações, pela Central Operária Boliviana, pelo Movimento Cocalero e pela Federação Agrária Nacional, manifestaram-se nas cidades de El Alto e La Paz, a capital.
No centro dos protestos esteve a defesa do processo constitucional em curso e das reformas progressistas que procuram impor a democratização da terra, o reconhecimento de direitos iguais ao xadrez étnico da Bolívia, o acesso popular ao cuidados de saúde, educação e saneamento básico, e a nacionalização dos principais recursos naturais do país colocando-os ao serviço da elevação da condição material do povo.
Domingo, El Alto voltou a demonstrar os seus vínculos com os interesses dos explorados bolivianos, tal como fez em 2003 na chamada «Guerra do Gás», quando uma insurreição na urbe derrubou o então presidente, Sánchez de Lozada.
Lozada, ou «el Gringo», encontra-se acoitado nos EUA, mas as autoridades bolivianas não desistem de o levar perante a justiça acusando-o de ser o principal responsável pelo massacre de pelo menos 70 pessoas durante aquelas históricas jornadas.
Paiol latino-americano
Por trás do referendo autonómico em Santa Cruz estão os EUA. Quem o afirmou foi Evo Morales em entrevista à Telesur, apontando o embaixador norte-americano, Philip Goldberg, como o dinamizador da conspiração divisionista no país.
Não é de estranhar que a Casa Branca manobre contra o governo boliviano. Faz hoje uma semana o executivo anunciou a nacionalização de mais quatro petrolíferas. È por isso igualmente natural que sábado, 3, na reunião da Organização de Estados Americanos ocorrida em Washington, a OEA não tenha condenado os separatistas.
Apesar disso, a Bolívia não está só. Com ele estão outros povos e governos que afrontam os interesses do imperialismo militarista e neoliberal.
Domingo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, manifestou-se confiante de que «assim como o povo venezuelano, unido com seus soldados, com dignidade e valor, foi capaz de vencer aquele golpe fascista de 2002 e todo o plano desestabilizador lançado pelo império, a Bolívia também saberá derrotar o plano imperialista e da oligarquia».
A Chávez juntou-se Rafel Correa. O presidente do Equador recusou reconhecer a autonomia de Santa Cruz e deixou claro que o golpe na Bolívia - apoiado pelas burguesias equatoriana e venezuelana, esperançadas em copiar o «modelo» e afrontarem os respectivos governos – representa um desafio à democracia e à integridade daquele país.
A sustentar a leitura de Morales está o facto dos dados apurados, quando comparados com anteriores sufrágios, revelarem que a abstenção praticamente triplicou, cifrando-se em cerca de 40 por cento dos quase um milhão de eleitores. A esmagadora maioria dos opositores ao referendo secessionista em Santa Cruz recusou-se a comparecer às urnas.
Acresce, explicou o presidente boliviano, que se a esta percentagem somarmos os 14 por cento obtidos pelo Não, concluímos que, mesmo num quadro de hostilidade extrema, violência física enfrentada pelas forças progressistas, e fraude comprovada, o projecto defendido pela oligarquia «cruceña» para a mais rica região da Bolívia foi, na realidade, derrotado.
Por muito que o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, e o presidente do Comité Cívico, Branco Marinkovic, afirmem ter vencido com 85,9 por cento, a verdade é que a consulta autonomista promovida com o objectivo de colocar em causa a nova Constituição do país fracassou, disse ainda Morales.
As províncias de Beni, Pando e Tarija prevêm realizar em Junho deste ano iniciativas semelhantes, mas é certo que as instituições bolivianas não vão reconhecer tais consultas. Domingo, para além do governo boliviano, também o general Luís Trigo, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Bolívia, desautorizou o referendo classificando-o irregular.
Provas da fraude
A evidenciar a fraude cometida pela reacção estão as provas apresentadas pelo Comité Popular do bairro Plan Tres Mil no próprio dia da consulta. Concentrados nos principais acessos àquela zona da cidade de Santa Cruz, os moradores mobilizaram-se numa manifestação contra o referendo e mostraram perante repórteres nacionais e estrangeiros duas dezenas de urnas repletas de boletins assinalados com Sim.
Os habitantes contaram que quando se apoderaram das urnas como forma de protesto face ao acto ilegal, descobriram que os receptáculos haviam sido previamente recheados de cédulas dando a vitória ao projecto separatista.
Nas imediações do bairro Plan Tres Mil, os membros do Comité Popular identificaram ainda vários elementos da milícia União Juvenil Cruceñista (UJC), grupo de choque de agrários e industriais treinado por paramilitares colombianos, e que o povo boliviano já conhece da onda de violência semeada meses antes na cidade de Sucre.
A UJC foi, aliás, a responsável pelos incidentes registados sexta-feira, dia 2, precisamente no referido bairro, quando populares se juntaram a operários, professores, camponeses e representantes das comunidades originárias para repudiarem o referendo. Entre os manifestantes estavam membros da comunidade Guarani, os quais denunciaram que a rejeição do texto constitucional aprovado em Dezembro de 2007 significa a manutenção das actuais condições de vida, isto é, trabalharem em regime de escravidão, por comida, apenas, e penhorados para com os latifundiários num sistema semi-feudal que obriga os filhos a pagarem as dívidas dos pais caso estes morram antes de as conseguirem saldar.
Povo defende Constituição
Paralelamente ao referendo ilegítimo em Santa Cruz, centenas de milhares de pessoas convocadas, entre outras organizações, pela Central Operária Boliviana, pelo Movimento Cocalero e pela Federação Agrária Nacional, manifestaram-se nas cidades de El Alto e La Paz, a capital.
No centro dos protestos esteve a defesa do processo constitucional em curso e das reformas progressistas que procuram impor a democratização da terra, o reconhecimento de direitos iguais ao xadrez étnico da Bolívia, o acesso popular ao cuidados de saúde, educação e saneamento básico, e a nacionalização dos principais recursos naturais do país colocando-os ao serviço da elevação da condição material do povo.
Domingo, El Alto voltou a demonstrar os seus vínculos com os interesses dos explorados bolivianos, tal como fez em 2003 na chamada «Guerra do Gás», quando uma insurreição na urbe derrubou o então presidente, Sánchez de Lozada.
Lozada, ou «el Gringo», encontra-se acoitado nos EUA, mas as autoridades bolivianas não desistem de o levar perante a justiça acusando-o de ser o principal responsável pelo massacre de pelo menos 70 pessoas durante aquelas históricas jornadas.
Paiol latino-americano
Por trás do referendo autonómico em Santa Cruz estão os EUA. Quem o afirmou foi Evo Morales em entrevista à Telesur, apontando o embaixador norte-americano, Philip Goldberg, como o dinamizador da conspiração divisionista no país.
Não é de estranhar que a Casa Branca manobre contra o governo boliviano. Faz hoje uma semana o executivo anunciou a nacionalização de mais quatro petrolíferas. È por isso igualmente natural que sábado, 3, na reunião da Organização de Estados Americanos ocorrida em Washington, a OEA não tenha condenado os separatistas.
Apesar disso, a Bolívia não está só. Com ele estão outros povos e governos que afrontam os interesses do imperialismo militarista e neoliberal.
Domingo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, manifestou-se confiante de que «assim como o povo venezuelano, unido com seus soldados, com dignidade e valor, foi capaz de vencer aquele golpe fascista de 2002 e todo o plano desestabilizador lançado pelo império, a Bolívia também saberá derrotar o plano imperialista e da oligarquia».
A Chávez juntou-se Rafel Correa. O presidente do Equador recusou reconhecer a autonomia de Santa Cruz e deixou claro que o golpe na Bolívia - apoiado pelas burguesias equatoriana e venezuelana, esperançadas em copiar o «modelo» e afrontarem os respectivos governos – representa um desafio à democracia e à integridade daquele país.