Operários romenos alcançam vitória
Ao fim de quase três semanas de greve, os operários da Dacia-Renault forçaram a administração a aceitar as suas principais reivindicações, conseguindo o maior aumento salarial na história recente do país.
Acordo prevê aumentos salariais superiores a 30 por cento
Depois de ter perdido a batalha judicial e face à determinação revelada pela esmagadora maioria dos operários, a administração da Dacia-Renault mostrou-se finalmente disponível para negociar um acordo com os sindicatos.
O movimento grevista, iniciado em 24 de Março, exigia um aumento de 550 lei (cerca de 148 euros). A empresa começou por oferecer 42 euros, depois aproximou-se dos 60, mas ambas as propostas foram consideradas insuficientes pelos trabalhadores e a greve continuou.
Na sexta-feira, dia 10, ambas as partes aceitaram um aumento de 360 lei (97 euros), acrescido de um prémio anual mínimo de 900 lei (243 euros), pondo termo a um conflito que se arrastava há quase três semanas. «É um compromisso para cada um dos lados», declarou Nicolae Pavelescu, dirigente do SAD, Sindicato Automóvel Dacia.
O salário médio passará dos actuais 285 para 382 euros mensais. Não é nenhuma fortuna, como reconheceu Nicu Oprea, de 40 anos, operário da Dacia há 16. «Todas as noites me pergunto como vou chegar ao fim do mês para conseguir pagar todas as contas», confessou ao correspondente do jornal francês Liberation (12.04).
Até agora Nicu ganhava 280 euros mensais, salário que nem chega para a comida. Só no mês de Fevereiro, as despesas com o pequeno apartamento em Pitesti ultrapassaram os 200 euros. A sua mulher, professora, ainda ganha menos do que ele. Vale-lhes a família que possui uma pequena quinta na província e todas as semanas lhes manda legumes, queijo e alguma carne.
Na mesma situação está Ion Diacomescu, de 42 anos, 24 dos quais ao serviço da Dacia. À semelhança dos seus colegas, o salário que ganha não é suficiente para alimentar a mulher e os seus dois filhos. Para sobreviver, Ion instala janelas à noite, depois da jornada na linha de montagem (Le Monde, 12.04).
Sabedora da miséria em que vivem os trabalhadores romenos, a direcção da fábrica passou a oferecer desde 2002 uma refeição quente diária às equipas de turno. Mas não é de caridade que os operários precisam. Por isso, naquele dia, Nicu Oprea e os seus camaradas tinham motivos de sobra para estarem contentes: «Ganhámos! Este é o maior aumento jamais obtido na Roménia nos últimos 15 anos!».
«Não somos escravos da UE»
Logo que a paralisação começou, a empresa apresentou uma queixa no tribunal, alegando que a greve era ilegal. Depois de sucessivos adiamentos, os juízes pronunciaram-se, dia 8, recusando as pretensões da multinacional e confirmando a legalidade da greve.
A sentença foi recebida como uma vitória e um incentivo à continuação da luta. No dia seguinte, milhares de operários, muitos deles vindos de outras empresas do país, concentraram-se pela segunda vez, desde o início da greve, no centro de Pitesti. Nos cartazes improvisados lia-se «Não à exploração», «Queremos salários decentes». Uma faixa apelava: «Roménia, acorda! Não queremos ser os escravos da União Europeia».
Tal como na primeira manifestação, delegações sindicais das fábricas Renault em França fizeram-se representar no protesto, transmitindo a solidariedade dos operários do seu país e fazendo a entrega do produto das colectas feitas nas últimas semanas nas fábricas de automóveis gaulesas.
Fabrice Le Berre, delegado da CGT, foi um dos sindicalistas presentes em Pitesti. Descrevendo o que viu ao site Challenges.fr (11.04), Fabrice sublinhou que «o ambiente era eléctrico. Havia pelo menos cinco mil pessoas. Os trabalhadores vieram com bandeiras. Um romeno disse-me que era a primeira vez que ouvia “A Internacional”» desde o fim do regime socialista.
«Levámos um envelope com dois mil euros que foram recolhidos nas fábricas Renault de Cléon e Sandouville. Esta manhã, já temos mais oito mil euros para enviar. A iniciativa nem sequer partiu dos sindicatos, foram os próprios trabalhadores que nos solicitaram. Na PSA [Peugeot/Citröen] de Mulhouse, os trabalhadores também aderiram à colecta. O espírito de generosidade é importante.»
Tempos de luta
Apesar de ser um dos países da UE com mais baixos salários, o custo de vida na Roménia não pára de subir. A inflação ultrapassa os sete por cento ao ano, mas o aumento dos preços dos produtos de primeira necessidade tem sido superior. Alguns deles, como o leite que pode custar um euro por litro, já são mais caros do que em países com rendimentos muito mais elevados, caso da França ou da Alemanha.
Neste contexto, os movimentos reivindicativos têm ganho expressão nos últimos anos. O exemplo da Dacia, onde já no ano passado os trabalhadores tinham conquistado um aumento salarial de 25 por cento, foi acompanhado em todo o país e não tardou a ser secundado por operários de outras multinacionais.
Na siderurgia da ArcelorMittal, em Galati, os trabalhadores apresentaram recentemente a exigência de aumentos salariais de 25 por cento. O mesmo se passa na fábrica de rolamentos da japonesa Koyo, situada na cidade de Alexandria.
Depois de década e meia sob uma violenta ofensiva capitalista, que arrasou direitos laborais e sistemas de protecção social, os trabalhadores romenos começam a erguer-se. A sua voz, abafada durante anos pela ensurdecedora algazarra anticomunista, já se faz ouvir de novo em toda a sociedade, obrigando o patronato a ceder e os tribunais a moderar as suas sentenças. No horizonte perfilam-se novos e duros combates. Mas os trabalhadores romenos mostram-se determinados: não querem ser escravos da União Europeia!
O movimento grevista, iniciado em 24 de Março, exigia um aumento de 550 lei (cerca de 148 euros). A empresa começou por oferecer 42 euros, depois aproximou-se dos 60, mas ambas as propostas foram consideradas insuficientes pelos trabalhadores e a greve continuou.
Na sexta-feira, dia 10, ambas as partes aceitaram um aumento de 360 lei (97 euros), acrescido de um prémio anual mínimo de 900 lei (243 euros), pondo termo a um conflito que se arrastava há quase três semanas. «É um compromisso para cada um dos lados», declarou Nicolae Pavelescu, dirigente do SAD, Sindicato Automóvel Dacia.
O salário médio passará dos actuais 285 para 382 euros mensais. Não é nenhuma fortuna, como reconheceu Nicu Oprea, de 40 anos, operário da Dacia há 16. «Todas as noites me pergunto como vou chegar ao fim do mês para conseguir pagar todas as contas», confessou ao correspondente do jornal francês Liberation (12.04).
Até agora Nicu ganhava 280 euros mensais, salário que nem chega para a comida. Só no mês de Fevereiro, as despesas com o pequeno apartamento em Pitesti ultrapassaram os 200 euros. A sua mulher, professora, ainda ganha menos do que ele. Vale-lhes a família que possui uma pequena quinta na província e todas as semanas lhes manda legumes, queijo e alguma carne.
Na mesma situação está Ion Diacomescu, de 42 anos, 24 dos quais ao serviço da Dacia. À semelhança dos seus colegas, o salário que ganha não é suficiente para alimentar a mulher e os seus dois filhos. Para sobreviver, Ion instala janelas à noite, depois da jornada na linha de montagem (Le Monde, 12.04).
Sabedora da miséria em que vivem os trabalhadores romenos, a direcção da fábrica passou a oferecer desde 2002 uma refeição quente diária às equipas de turno. Mas não é de caridade que os operários precisam. Por isso, naquele dia, Nicu Oprea e os seus camaradas tinham motivos de sobra para estarem contentes: «Ganhámos! Este é o maior aumento jamais obtido na Roménia nos últimos 15 anos!».
«Não somos escravos da UE»
Logo que a paralisação começou, a empresa apresentou uma queixa no tribunal, alegando que a greve era ilegal. Depois de sucessivos adiamentos, os juízes pronunciaram-se, dia 8, recusando as pretensões da multinacional e confirmando a legalidade da greve.
A sentença foi recebida como uma vitória e um incentivo à continuação da luta. No dia seguinte, milhares de operários, muitos deles vindos de outras empresas do país, concentraram-se pela segunda vez, desde o início da greve, no centro de Pitesti. Nos cartazes improvisados lia-se «Não à exploração», «Queremos salários decentes». Uma faixa apelava: «Roménia, acorda! Não queremos ser os escravos da União Europeia».
Tal como na primeira manifestação, delegações sindicais das fábricas Renault em França fizeram-se representar no protesto, transmitindo a solidariedade dos operários do seu país e fazendo a entrega do produto das colectas feitas nas últimas semanas nas fábricas de automóveis gaulesas.
Fabrice Le Berre, delegado da CGT, foi um dos sindicalistas presentes em Pitesti. Descrevendo o que viu ao site Challenges.fr (11.04), Fabrice sublinhou que «o ambiente era eléctrico. Havia pelo menos cinco mil pessoas. Os trabalhadores vieram com bandeiras. Um romeno disse-me que era a primeira vez que ouvia “A Internacional”» desde o fim do regime socialista.
«Levámos um envelope com dois mil euros que foram recolhidos nas fábricas Renault de Cléon e Sandouville. Esta manhã, já temos mais oito mil euros para enviar. A iniciativa nem sequer partiu dos sindicatos, foram os próprios trabalhadores que nos solicitaram. Na PSA [Peugeot/Citröen] de Mulhouse, os trabalhadores também aderiram à colecta. O espírito de generosidade é importante.»
Tempos de luta
Apesar de ser um dos países da UE com mais baixos salários, o custo de vida na Roménia não pára de subir. A inflação ultrapassa os sete por cento ao ano, mas o aumento dos preços dos produtos de primeira necessidade tem sido superior. Alguns deles, como o leite que pode custar um euro por litro, já são mais caros do que em países com rendimentos muito mais elevados, caso da França ou da Alemanha.
Neste contexto, os movimentos reivindicativos têm ganho expressão nos últimos anos. O exemplo da Dacia, onde já no ano passado os trabalhadores tinham conquistado um aumento salarial de 25 por cento, foi acompanhado em todo o país e não tardou a ser secundado por operários de outras multinacionais.
Na siderurgia da ArcelorMittal, em Galati, os trabalhadores apresentaram recentemente a exigência de aumentos salariais de 25 por cento. O mesmo se passa na fábrica de rolamentos da japonesa Koyo, situada na cidade de Alexandria.
Depois de década e meia sob uma violenta ofensiva capitalista, que arrasou direitos laborais e sistemas de protecção social, os trabalhadores romenos começam a erguer-se. A sua voz, abafada durante anos pela ensurdecedora algazarra anticomunista, já se faz ouvir de novo em toda a sociedade, obrigando o patronato a ceder e os tribunais a moderar as suas sentenças. No horizonte perfilam-se novos e duros combates. Mas os trabalhadores romenos mostram-se determinados: não querem ser escravos da União Europeia!