A nova revoada óptica

Francisco Silva
Agora já não é apenas a altura de começar a instalar fibras ópticas nas redes de telecomunicações até às instalações dos utentes, nomeadamente dos clientes residenciais, substituindo, «por fim», o cobre que, no princípio, «veio» para os telefones se ligarem à «Rede» - e vários operadores por esse mundo fora já há algum tempo o começaram a fazer, e numa escala impressionante; e por cá também tal começando -, agora que passou um quarto de século de quando disso se começara a falar, e com aquela veemência que parecia que aquilo estava para começar e ser feito logo por aqueles meados dos anos 80 do século passado. E uma conversa, esta das fibras ópticas às dezenas ou centenas de milhões, entretanto interrompida porque os caminhos de evolução científica e tecnológica incluíram declives mais baixos, estendendo-se mais o período de transição. Mas nem por isso menos invasivos da realidade comunicacional das sociedades - foram os telemóveis, foi a Internet, foi uma banda larga sobre o cobre (ADSL, etc.), também sobre o cabo das redes de distribuição de TV/vídeo, foram os acessos à Internet «via telemóvel», todos eles permitindo «bandas cada vez mais largas». Claro, que já não seria pouco - e tão caro, tal como avaliado pelos accionistas das operadoras «incumbentes», entretanto privatizadas na Europa e por esse mundo fora. Não seria pouco, dizíamos, este empreendimento das fibras ópticas a chegarem até às instalações de tantas residências deste mundo - aliás, hoje já se pode ir dizendo «residências deste mundo», desde que estas existam, uma vez que, temos visto na última década, ser possível as coisas novas das telecomunicações não se ficarem apenas pelo «Ocidente» (mesmo incluindo neste Ocidente em submersão lenta, mas em submersão, o Japão, e, porque não, países como a Austrália e a Nova Zelândia). E de facto, não é de excluir a sua adopção em amplas zonas do ex- Terceiro Mundo, mais tarde Sul [do Mundo], hoje emergentes, ou reemergentes(!) - Brasil, China, Índia, Rússia, para só falar do BRIC… E o certo é que, BRIC BRICando, só à conta destes países está mais de 40% da Humanidade!
Pois, agora é tempo de falar outra vez nas fibras ópticas para as interligações, e para as longas e longuíssimas distâncias, Não, que, para tais distâncias as fibras ópticas não tenham desde há que tempos andado aí, desde o início dos anos 80, para ser-se mais preciso.
Na verdade, de novos cabos de fibras ópticas destinados às longas, e mais ainda às longuíssimas distâncias, sobretudo para estas, em particular a nível intercontinental, pouco se tem ouvido falar desde há uma meia dúzia de anos. Após o anterior boom - difícil escapar das dominantes maneiras de dizer mediáticas, não é? -, após o boom ocorrido no princípio do milénio, assim tem sido. Por aquela altura, nos tempos da bolha bolsista das dotcom, ajudada pela «loucura» da 3G dos telemóveis, dos correlatos processos de atribuição de espectros radioeléctricos contra valores pagos aos Estados respectivos que, em certos casos, nomeadamente quando se registaram leilões, em particular na Alemanha e no Reino Unido, a muitos pareceram exorbitantes - incluindo ao escrevente destas linhas -, e sobretudo porque a situação da 3G ainda não amadurecera, quando os operadores de telecomunicações registavam altíssimas pontas de valor accionista e foram às compras de tantas e tantas outras empresas, contraindo dívidas enormes, portanto, por aquela altura também houve, para além dos operadores de telecomunicações «incumbentes», outros novos que se lançaram a investir em cabos de fibras ópticas transcontinentais e intercontinentais para tudo quanto eram ligações, nomeadamente entre os centros importantes do Primeiro Mundo, e em geral do Ocidente. E quantas delas, dessas ligações, já estavam pejadas de meios de transmissão desse tipo, possuídas pelos operadores que já aí estavam, dos tais «incumbentes». Rebentou a bolha e vários novos, como nasceram, assim morreram. Puff!
Agora, o mundo mudou e quem voltou foi não apenas o crescimento acelerado do tráfego Internet, mas sobretudo mudou o padrão de crescimento de ligações de elevado tráfego, em particular para incluir os da China e da Índia. E se o tráfego daquela pode ir, em grande medida, pelo Pacífico, o da Índia fá-lo muito pelo Índico, Suez e Mediterrâneo. Enfim, o Egipto… e o Mundo Árabe pelo caminho.
De qualquer modo, há cerca de ano e meio - está-se em princípios de 2008 - que o corrupio ao investimento em cabos submarinos em fibra óptica está de volta.


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