Sérvios e russos contra independência

Kosovo gera protestos

Os governos de Moscovo e Belgrado continuam unidos na rejeição da independência do Kosovo, posição reforçada pelas mobilizações populares em defesa da soberania sérvia sobre aquela província.

Milhares de pessoas manifestaram-se nos vários territórios dos Balcãs e na Europa

De visita à capital sérvia, segunda-feira, o número dois do governo russo e principal favorito à sucessão de Vladimir Putin nas eleições do próximo domingo, Dimitri Medvedev, reafirmou nos encontros mantidos com o presidente, Boris Tadic, e o primeiro-ministro, Vojislav Koustunica, a posição anteriormente assumida pelo Kremlin.
«Partimos do princípio que a Sérvia é um Estado uno, cuja jurisprudência se estende a todo o seu território, e iremos manter no futuro essa posição de princípio», disse Medvedev, citado pela Lusa.
Acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, o candidato presidencial russo qualificou «o reconhecimento unilateral do Kosovo» como contrário ao Direito Internacional e alertou para «as consequências negativas deste precedente», o qual, disse, se reflecte «em todas as outras regiões e Estados onde se coloca agudamente a questão do estatuto de algumas parcelas territoriais».
Do lado sérvio, enquanto Tadic, chefe de Estado tido como pró-ocidental, procurou equilibrar as relações estratégicas a Leste com a aspiração em conduzir a Sérvia rumo a um acordo de cooperação com a UE, já o líder do executivo, Vojislav Koustunica, revelou que Moscovo e Belgrado vão coordenar esforços no sentido de resolver a questão do estatuto do Kosovo, nomeadamente através da luta pela anulação da declaração de independência no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Koustunica acrescentou ainda que a Sérvia não vai normalizar relações com os países que reconheceram a secessão kosovar, o que parece querer dizer que entre o governo sérvio e as principais potências europeias e os EUA, as relações vão distanciar-se ainda mais.

Sérvios saem à rua

Paralelamente aos encontros bilaterais e declarações de apoio ou repúdio ao novo estatuto do Kosovo, milhares de sérvios manifestaram-se, desde a semana passada, em vários territórios dos Balcãs, contra a independência e em defesa da soberania sérvia sobre aquela província.
Em Belgrado, faz hoje uma semana, dezenas de milhares de sérvios juntaram-se num protesto que resultou em confrontos com as forças da ordem. As autoridades foram, apesar de tudo, incapazes de suster a fúria da multidão que atacou e incendiou a embaixada dos EUA na capital Sérvia. No dia seguinte, na principal cidade do Montenegro, Pogdorica, outras dez mil pessoas mobilizadas pela oposição exigiram ao governo que nunca reconheça o Kosovo como Estado.
Em Mitrovica, principal cidade sérvia do Kosovo, os protestos ainda não cessaram desde a declaração unilateral de independência. Só na segunda-feira, 25, foram dois mil os manifestantes. Nessa mesma noite, junto a um posto fronteiriço, uma concentração da comunidade sérvia voltou a degenerar em confrontos com a polícia. Cerca de 20 agentes ficaram feridos.
Na Bósnia-Herzegovina, os sérvios também não se rendem, sobretudo os habitantes da República Sérvia da Bósnia, que reclamam já um estatuto idêntico ao dos kosovares. Terça-feira, mais de dez mil concentraram-se na praça central de Banja Luka gritando palavras de ordem como «não vendemos a alma sérvia ao diabo!».
Se os protestos são fortes na região, também um pouco por toda a Europa estes se fazem sentir com intensidade, sobretudo em países onde a comunidade emigrante sérvia é significativa.
Na Alemanha, as manifestações anti-secessão ocorreram em várias cidades, e em Viena, na vizinha Áustria, domingo foi dia de milhares de sérvios residentes saírem à rua para protestarem contra os separatistas e seus apoiantes. O forte aparato policial acendeu o rastilho e várias pessoas foram detidas.
Mais pacíficas mas não menos determinadas foram as manifestações na Suíça, país que ainda não reconheceu a soberania do Kosovo. Em Zurique, sábado, milhares juntaram-se contra a independência, e domingo, em Genebra, muitos mais protestaram frente à sede da ONU naquela cidade, acusando as Nações Unidas de pactuarem com a violação do Direito Internacional.

Aliança a todo o gás

Durante a sua estadia, Medvedev não se limitou, porém, à diplomacia «das palavras».
Depois de visitar uma refinaria próxima de Belgrado bombardeada pela NATO em 1999, o também presidente da Gazprom - a gigante russa do sector dos hidrocarbonetos que recentemente adquiriu 51 por cento do capital da petrolífera estatal sérvia NIS - aproveitou o périplo para confirmar a passagem pela região da Voivodina de parte de um gasoduto entre as jazidas do Mar Negro e a Europa.
Orçado em dez mil milhões de dólares, a conduta baptizada de «Corrente Sul» é um investimento com o qual a Gazprom e a parceira italiana ENI pretendem diversificar o fornecimento de energia ao Velho Continente.
A capacidade máxima de escoamento quando o gasoduto entrar em funcionamento, em 2013, será de cerca de 30 mil milhões de metros cúbicos de combustível por ano. Países como a Bulgária e a Grécia também estão incluídos no projecto, sendo que a Hungria se apresenta como um forte candidato, por isso Medvedev saiu da Sérvia rumo a Budapeste.


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