Arengas do fim do ano
Os três «reis magos» do elitismo português – Cavaco, Sócrates e José – presentearam-nos no Ano Novo com o seu oiro, incenso e mirra. Um, falou das chorudas avenças pagas aos quadros do grande capital. Outro, incensou-se a si próprio com as miragens do sucesso e com o à-vontade de quem sabe que está a mentir. O terceiro, preferiu recordar-nos que é a fé que salva os homens, passando uma esponja sobre a crise gravíssima em que mergulha a Igreja e põe em causa a sua credibilidade.
Todos os recados tiveram como traço comum nada dizerem de novo. Repetiram chavões antigos e invocaram uma cândida inocência acerca dos pecados e das suas causas. Tentaram a auto-absolvição. Como se a pobreza que dizem combater lhes fosse estranha e ignorassem que a corrupção impera no País. Como se pudessem omitir que toda a nação – instituições e povo, saúde, segurança social, ensino, cultura oficial, defesa do ambiente, agricultura, pescas, comércio, emprego, a própria independência nacional – vacila à beira do abismo. Os grandes senhores olham para o lado e fingem que não vêem. Um dia perderão a sua insolência natural.
Particularmente a Igreja Católica está em causa. Embora se afirme humana e divina, temporal e eterna, terrena e celeste, envolve-se em contínuos escândalos financeiros, visa o lucro e a acumulação e depois oculta os seus actos, consciente e meticulosamente planeados, sob a capa diáfana da fé. É tolerante para com os ricos, emparceira com eles no seu materialismo e apenas é celeste na caridade que afirma ter pelos pobres. Quando a acusam, sacode a água do capote. E põe em causa a pureza de intenções dos crentes honestos que têm outros critérios de acção e se reconhecem na forma como respeitam a lei e reclamam a justa repartição da riqueza e o respeito pelas liberdades e os direitos do homem, não como simples banalidades mas com conteúdos concretos expressos nas conquistas sociais.
O escândalo e a Igreja
É preciso condenar o comportamento da hierarquia católica quando ela afirma que não age porque não sabe. Os escândalos financeiros são pedrinhas da calçada que bispos e cardeais pisam em silêncio para subirem à montanha mágica. Repare-se na história recente e recordem-se os escândalos da banca-rota do Banco Ambrosiano que pôs a nu as relações secretas entre o Vaticano e a Maçonaria, a Máfia siciliana e as redes bancárias transnacionais na sua ligação aos paraísos fiscais; o assassinato de Aldo Moro, a cumplicidade entre o Vaticano, a igreja chilena e as atrocidades de Pinochet; a consolidação da exploração dos pobres através de uma malha verdadeiramente diabólica tecida entre a Igreja, a Trilateral, o Opus Dei e o universo financeiro; os casos Matesa, Enimont, Andreotti/Mafia, irmãos Berllusconi, IOR, Sindona e Calvi, as relações secretíssimas do Vaticano com a NATO e o Pentágono, as contas da Santa Sé, Ruiz Mateos, etc., etc.
Em Portugal fala-se agora muito nos escândalos bancários do BCP. Por inépcia dos responsáveis do Opus Dei ou por fragilidades do sistema, certo é que o que deveria ficar esquecido veio à tona de água. O BCP é núcleo central de uma vasta rede que une e financia as ligações de interesses entre o dinheiro, a Igreja, o sub-mundo dos off-shores e a engenharia financeira, com passagem por tortuosos negócios das drogas, das armas e dos jogos de azar. Por pouca convicção que os investigadores possam revelar, investigar o caso é já em si um perigo explosivo para a banca ibérica e para os capitais eclesiásticos. Retirar uma pedra ao edifício pode provocar o seu desmoronamento. E não é pouco o que está em jogo. Um tijolo não é um simples tijolo, no caso do BCP.
O pequeno écran transformou-se num palco onde desfilam as principais vedetas do Opus Dei e da Maçonaria. Consultem-se os registos antigos e ver-se-á facilmente que todos os intervenientes principais nesta intriga de há muito que são dados como membros declarados, simpatizantes ou «próximos» das duas sociedades secretas. O mesmo acontece com as instituições financeiras a que pertencem. O BCP foi gerado no Banco Popular Espanhol, do Opus Dei. O BPI, é presidido por Fernando Ulrich que reconheceu, anteriormente, ser membro do OD e nele ter entrado pela mão de Jardim Gonçalves. À Ordem pertencem Jardim Gonçalves, Teixeira Pinto, Filipe Meneses, Bagão Félix e, segundo agora consta, o próprio Miguel Cadilhe.
De igual modo, todos os grandes bancos espanhóis que têm presença dominante no mundo financeiro português, provêm dos capitais eclesiásticos. Do Santander à Argentária todos esses gigantescos grupos têm na sua base capitais e formas de organização ditadas pelo clero. São fontes de financiamento da Igreja, do Estado capitalista e da economia privada. O equilíbrio e a interactividade são as chaves dos seus êxitos. Por isso defendem ferozmente o seu secretismo.
Todos estes factores podem, agora, estar postos em causa.
Todos os recados tiveram como traço comum nada dizerem de novo. Repetiram chavões antigos e invocaram uma cândida inocência acerca dos pecados e das suas causas. Tentaram a auto-absolvição. Como se a pobreza que dizem combater lhes fosse estranha e ignorassem que a corrupção impera no País. Como se pudessem omitir que toda a nação – instituições e povo, saúde, segurança social, ensino, cultura oficial, defesa do ambiente, agricultura, pescas, comércio, emprego, a própria independência nacional – vacila à beira do abismo. Os grandes senhores olham para o lado e fingem que não vêem. Um dia perderão a sua insolência natural.
Particularmente a Igreja Católica está em causa. Embora se afirme humana e divina, temporal e eterna, terrena e celeste, envolve-se em contínuos escândalos financeiros, visa o lucro e a acumulação e depois oculta os seus actos, consciente e meticulosamente planeados, sob a capa diáfana da fé. É tolerante para com os ricos, emparceira com eles no seu materialismo e apenas é celeste na caridade que afirma ter pelos pobres. Quando a acusam, sacode a água do capote. E põe em causa a pureza de intenções dos crentes honestos que têm outros critérios de acção e se reconhecem na forma como respeitam a lei e reclamam a justa repartição da riqueza e o respeito pelas liberdades e os direitos do homem, não como simples banalidades mas com conteúdos concretos expressos nas conquistas sociais.
O escândalo e a Igreja
É preciso condenar o comportamento da hierarquia católica quando ela afirma que não age porque não sabe. Os escândalos financeiros são pedrinhas da calçada que bispos e cardeais pisam em silêncio para subirem à montanha mágica. Repare-se na história recente e recordem-se os escândalos da banca-rota do Banco Ambrosiano que pôs a nu as relações secretas entre o Vaticano e a Maçonaria, a Máfia siciliana e as redes bancárias transnacionais na sua ligação aos paraísos fiscais; o assassinato de Aldo Moro, a cumplicidade entre o Vaticano, a igreja chilena e as atrocidades de Pinochet; a consolidação da exploração dos pobres através de uma malha verdadeiramente diabólica tecida entre a Igreja, a Trilateral, o Opus Dei e o universo financeiro; os casos Matesa, Enimont, Andreotti/Mafia, irmãos Berllusconi, IOR, Sindona e Calvi, as relações secretíssimas do Vaticano com a NATO e o Pentágono, as contas da Santa Sé, Ruiz Mateos, etc., etc.
Em Portugal fala-se agora muito nos escândalos bancários do BCP. Por inépcia dos responsáveis do Opus Dei ou por fragilidades do sistema, certo é que o que deveria ficar esquecido veio à tona de água. O BCP é núcleo central de uma vasta rede que une e financia as ligações de interesses entre o dinheiro, a Igreja, o sub-mundo dos off-shores e a engenharia financeira, com passagem por tortuosos negócios das drogas, das armas e dos jogos de azar. Por pouca convicção que os investigadores possam revelar, investigar o caso é já em si um perigo explosivo para a banca ibérica e para os capitais eclesiásticos. Retirar uma pedra ao edifício pode provocar o seu desmoronamento. E não é pouco o que está em jogo. Um tijolo não é um simples tijolo, no caso do BCP.
O pequeno écran transformou-se num palco onde desfilam as principais vedetas do Opus Dei e da Maçonaria. Consultem-se os registos antigos e ver-se-á facilmente que todos os intervenientes principais nesta intriga de há muito que são dados como membros declarados, simpatizantes ou «próximos» das duas sociedades secretas. O mesmo acontece com as instituições financeiras a que pertencem. O BCP foi gerado no Banco Popular Espanhol, do Opus Dei. O BPI, é presidido por Fernando Ulrich que reconheceu, anteriormente, ser membro do OD e nele ter entrado pela mão de Jardim Gonçalves. À Ordem pertencem Jardim Gonçalves, Teixeira Pinto, Filipe Meneses, Bagão Félix e, segundo agora consta, o próprio Miguel Cadilhe.
De igual modo, todos os grandes bancos espanhóis que têm presença dominante no mundo financeiro português, provêm dos capitais eclesiásticos. Do Santander à Argentária todos esses gigantescos grupos têm na sua base capitais e formas de organização ditadas pelo clero. São fontes de financiamento da Igreja, do Estado capitalista e da economia privada. O equilíbrio e a interactividade são as chaves dos seus êxitos. Por isso defendem ferozmente o seu secretismo.
Todos estes factores podem, agora, estar postos em causa.