Morte de Bhutto agrava incerteza

Paquistão mergulhado na violência

A morte da da ex-primeira-ministra e candidata a novo mandato no Paquistão mergulhou o país na violência e lançou a incerteza sobre as legislativas, agendadas para Janeiro.

As eleições devem ser adiadas

Quatro dias depois de um atentado em Rawalpindi ter morto Benazir Bhutto e outros 20 apoiantes do Partido do Povo Paquistanês (PPP), o número de vítimas da vaga de violência que sucedeu ao acontecimento supera já a meia centena.
Protestos reprimidos pelas autoridades em todo o país - instadas pelo presidente Pervez Musharraf a agirem «com firmeza» face a «malfeitores e elementos anti-sociais» -, pilhagens, tumultos e actos de vandalismos, marcam o quotidiano no Paquistão.
Ao caos em que parece estar mergulhada aquela potência nuclear, acrescem as preocupações sobre a evolução do almejado processo eleitoral, que deverá ser adiado apesar dos protestos populares e da indignação das forças políticas da oposição.
Na província de Sindh, onde o PPP tem forte implantação, as vias de comunicação estão cortadas, os serviços e o comércio encontram-se paralisados. Em Karachi, importante centro económico devido ao próspero porto marítimo, os bens de primeira necessidade escasseiam.

Versões contraditórias

Entretanto, avolumam-se as informações contraditórias quanto às circunstâncias que levaram à morte da histórica dirigente paquistanesa, líder de dois governos, entre 1988-1990, e 1993-1996.
Pouco após o atentado, fontes oficiais afirmavam que Bhutto havia falecido depois de ter sido atingida por dois tiros, um no pescoço e outro no peito. Posteriormente, as mesmas fontes corrigiram a história e garantiram que afinal a causa de morte da candidata foi um estilhaço da bomba que se seguiu aos disparos. Pelo meio, o porta-vos do ministério do Interior, Javeed Cheema, falou num traumatismo craniano subsequente ao impacto da explosão.
Versões contraditórias à parte, certo para os apoiantes de Bhutto é que a sua morte serve os interesses do actual governo e dos militares correlegionários de Musharaf, uma vez que a candidata era tida como a provável vencedora do sufrágio do dia 8 de Janeiro antecipando mudanças no regime ditatorial imposto pelas altas patentes castrenses em 1989.
Para além de críticas sobre a segurança em torno do comício do PPP, existe um alegado e-mail enviado a um jornalista da CNN, no qual a candidata responsabiliza Musharaf caso algo lhe acontecesse durante a campanha.

Os suspeitos do costume

Paralelamente, as cúpulas paquistanesas vieram a público imputar à célula da Al-qaeda no país a responsabilidade do atentado. Segundo Javed Cheema, os serviços secretos interceptaram um telefonema em que Baitullah Mehsud, o cabecilha da rede no Paquistão, felicita os operacionais pelo sucesso do ataque.
Nesta acusação, Islamabad contou com o silêncio táctico da Casa Branca que, embora não tenha garantido culpas à Al-qaeda, falou de «inimigos da democracia» que usam os mesmos métodos.
A desdizer o que parece ser já uma condenação quase certa estão as declarações do mullah Omar à France Press. Omar rejeita categoricamente a autoria do atentado, aduziu que os criminosos estão nos serviços secretos paquistaneses e falou num «golpe de teatro» do governo.

Prata da casa

Resolvida está a sucessão de Bhutto no PPP, e, de acordo com o partido, cumprindo as instruções deixadas pela filha do fundador no testamento.
Asif Ali Zardari, marido de Benazir, é o escolhido para a liderança da família, mas caberá a médio prazo ao filho de ambos, Bilawal Bhutto Zardari, 19 anos, assumir o legado político do clã.
Ali Zardari cumpriu pena de prisão por corrupção durante a tutela do ministério do Investimento no governo de Benazir Bhutto, acusações que lha valeram a alcunha de «Sr. 10 por cento» devido às alegadas comissões que cobrava para aprovar projectos de milhões de dólares. A própria primeira-ministra Benazir Bhutto foi implicada no esquema de extorsão, tendo as negociações para o seu regresso recente ao Paquistão abordado a retirada dos processos na justiça por recebimento de «luvas».


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