A fome que esconde outra fome...
As expressões actualmente consagradas de pobreza, riqueza, combate à pobreza e distribuição da riqueza, ocultam sentidos diferentes ou mesmo antagónicos que convém ponderar. A pobreza e a riqueza têm, invariavelmente, raízes políticas e económicas que resultam das formas de organização da sociedade e dos compromissos do Estado. É também nesta relação causal que depois se distribui a riqueza produzida no país ou na região e se traduz, se for justa e correctamente realizada, nas melhorias da qualidade de vida das populações e nos investimentos com que o Estado social alarga e melhora a sua rede pública de serviços. Na mesma linha de raciocínio se deve considerar a situação de riqueza. Pode ser relativamente justa nunca é inteiramente privada. Num estado equilibradamente desenvolvido, as fortunas pessoais acumulam-se até certos limites mas os excedentes, através de medidas fiscais, revertem para os fundos sociais do Estado e para reinvestimentos públicos produtivos que permitam melhorar o emprego, o ensino e a saúde ou a segurança social. Esta é a única forma de se reduzir e, finalmente, se extirpar a pobreza. Através da aplicação efectiva de um modelo político que não seja apenas moral e solidário mas que produza, também, desenvolvimento, bem-estar e a segurança do cidadão.
Não são estes os conteúdos da expressão, actualmente popularizada, de combate à pobreza que os grupos económicos, os empresários e os financeiros, os governos e a Igreja, substituem pela noção utopista de caridade cristã. Todos somos culpados por existir um fosso entre pobres e ricos. Os pobres desaparecerão quando formos impelidos a dar aos outros uma pequena parte daquilo que nos sobra.
Uma gigantesca e hipócrita mentira.
Um país esfarrapado
entre pobres e ricos
As estatísticas valem o que valem, é certo, mas constituem pontos de referência. Portugal tem 2 milhões de pobres (20% da população) e 10 mil cidadãos (1%) com rendimentos superiores a 816.000 euros anuais. 21% da população portuguesa situa-se na zona de risco que separa a pobreza da miséria total. O desemprego oficialmente reconhecido é de 470.000 trabalhadores mas sabe-se como os números reais são muito superiores, visto que a contagem não tem em conta os contratos a curto prazo, os «recibos verdes», o desemprego não declarado, etc. Governo e patronato exigem mais e defendem a liberalização dos despedimentos. 40 000 famílias aguardam por que lhes seja atribuída uma habitação. Os preços aumentam dia a dia. O crédito fácil já destruiu milhares de famílias.
O Governo de Sócrates é campeão das falsidades. Promete o que não tem intenção de dar, despede, alimenta as suas clientelas e despreza a Constituição. Os ministros mentem, de olhos nos olhos e com sorrisos encantadores.
Entretanto, os principais bancos e os 128 grandes grupos económicos portugueses aumentaram os seus lucros, nos últimos cinco anos, a um ritmo seis vezes superior ao do crescimento nacional. Só nos primeiros 6 meses de 2007, os cinco maiores balcões apuraram lucros líquidos de 1628 milhões de euros. Os três maiores grupos bancários dispõem de 21,4 mil milhões de euros cotados na Bolsa de Lisboa.
A Igreja Católica envolve-se cada vez mais no mundo da alta finança. Não são apenas os 80 milhões gastos no altar de Fátima que chamam as atenções para a opulência eclesiástica. Os avanços e os recuos nos projectos dos novos aeroportos rende milhões na valorização dos terrenos e nas expropriações. A Santa Casa da Misericórdia recebeu, durante três anos, dos apostadores portugueses, 18 milhões de euros, por semana. O que lhe permitiu arrecadar 3 milhões de euros de lucros líquidos. Prepara agora uma manobra financeira genial: fundir o «Joker» português e os valores dos jogos europeus! Fomentar o vício que embriaga e a ilusão que entontece e arruina. O lucro compensa. Mas para além disto a Igreja alimenta outras ambições. A vida não pára ! Quer ser parceira do Estado no negócio dos hospitais de retaguarda, forçar a privatização da área pública do pré-escolar, dominar os lares para idosos e para a juventude, controlar as unidades de saúde e de cuidados continuados. «Tem fé» nos êxitos futuros e conta com poderosas e velhas amizades.
É certo que estes traços característicos da globalização não retratam apenas Portugal. Em tudo quanto é sítio da aldeia global há corrupção, ganância, doença, fome, guerra e sofrimento, a par das loucuras do dinheiro a que têm acesso os poderosos. Em todo o terceiro mundo morrem párias aos milhões, já que nada souberam fazer para potenciarem o lucro. Por todo o lado surgem os déspotas.
A recessão mundial está à vista. Que novas ditaduras irão ressurgir do mais negro passado?
Não são estes os conteúdos da expressão, actualmente popularizada, de combate à pobreza que os grupos económicos, os empresários e os financeiros, os governos e a Igreja, substituem pela noção utopista de caridade cristã. Todos somos culpados por existir um fosso entre pobres e ricos. Os pobres desaparecerão quando formos impelidos a dar aos outros uma pequena parte daquilo que nos sobra.
Uma gigantesca e hipócrita mentira.
Um país esfarrapado
entre pobres e ricos
As estatísticas valem o que valem, é certo, mas constituem pontos de referência. Portugal tem 2 milhões de pobres (20% da população) e 10 mil cidadãos (1%) com rendimentos superiores a 816.000 euros anuais. 21% da população portuguesa situa-se na zona de risco que separa a pobreza da miséria total. O desemprego oficialmente reconhecido é de 470.000 trabalhadores mas sabe-se como os números reais são muito superiores, visto que a contagem não tem em conta os contratos a curto prazo, os «recibos verdes», o desemprego não declarado, etc. Governo e patronato exigem mais e defendem a liberalização dos despedimentos. 40 000 famílias aguardam por que lhes seja atribuída uma habitação. Os preços aumentam dia a dia. O crédito fácil já destruiu milhares de famílias.
O Governo de Sócrates é campeão das falsidades. Promete o que não tem intenção de dar, despede, alimenta as suas clientelas e despreza a Constituição. Os ministros mentem, de olhos nos olhos e com sorrisos encantadores.
Entretanto, os principais bancos e os 128 grandes grupos económicos portugueses aumentaram os seus lucros, nos últimos cinco anos, a um ritmo seis vezes superior ao do crescimento nacional. Só nos primeiros 6 meses de 2007, os cinco maiores balcões apuraram lucros líquidos de 1628 milhões de euros. Os três maiores grupos bancários dispõem de 21,4 mil milhões de euros cotados na Bolsa de Lisboa.
A Igreja Católica envolve-se cada vez mais no mundo da alta finança. Não são apenas os 80 milhões gastos no altar de Fátima que chamam as atenções para a opulência eclesiástica. Os avanços e os recuos nos projectos dos novos aeroportos rende milhões na valorização dos terrenos e nas expropriações. A Santa Casa da Misericórdia recebeu, durante três anos, dos apostadores portugueses, 18 milhões de euros, por semana. O que lhe permitiu arrecadar 3 milhões de euros de lucros líquidos. Prepara agora uma manobra financeira genial: fundir o «Joker» português e os valores dos jogos europeus! Fomentar o vício que embriaga e a ilusão que entontece e arruina. O lucro compensa. Mas para além disto a Igreja alimenta outras ambições. A vida não pára ! Quer ser parceira do Estado no negócio dos hospitais de retaguarda, forçar a privatização da área pública do pré-escolar, dominar os lares para idosos e para a juventude, controlar as unidades de saúde e de cuidados continuados. «Tem fé» nos êxitos futuros e conta com poderosas e velhas amizades.
É certo que estes traços característicos da globalização não retratam apenas Portugal. Em tudo quanto é sítio da aldeia global há corrupção, ganância, doença, fome, guerra e sofrimento, a par das loucuras do dinheiro a que têm acesso os poderosos. Em todo o terceiro mundo morrem párias aos milhões, já que nada souberam fazer para potenciarem o lucro. Por todo o lado surgem os déspotas.
A recessão mundial está à vista. Que novas ditaduras irão ressurgir do mais negro passado?