França admite campanha militar

Irão sob ameaça

O ministro dos negócios estrangeiros da França admitiu o uso da força contra o Irão caso o país não desista do respectivo programa nuclear. A AIEA reagiu afirmando que a opção bélica «não faz sentido».

As opções diplomáticas não estão esgotadas, diz a AIEA

Bernard Kouchner declarou, domingo, num programa de televisão, que «o mundo tinha que se preparar para o pior», ou seja, para a possibilidade de vir a ser desencadeada uma guerra contra o Irão.
As palavras do responsável pela diplomacia francesa endureceram o discurso em torno do projecto nuclear iraniano, tema central da reunião da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), que começou segunda-feira, em Viena, e do encontro agendado para amanhã, em Washington, no qual os EUA, a China, a Rússia, a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha vão analisar uma resolução que visa a imposição de sanções mais duras contra a República Islâmica.
Contrariamente ao que aconteceu no caso da preparação da invasão e ocupação do Iraque, o Eliseu alinha agora com as posições agressivas da Casa Branca, por isso não é de estranhar que o chefe do executivo de Paris, François Fillon, em vez de se demarcar de Kouchner, tenha secundado as palavras do seu parceiro no governo sublinhando que «os iranianos devem entender que a tensão é extrema na relação com os vizinhos e com Israel».

Ameaça inexistente

Doutro modo pensa o director da AIEA, Mohamed El-Baradei, que considerou absurdo o tom crispado da França na medida em que «só se pode recorrer à força quando todas as opções estão esgotadas». «Não creio que estejamos nesse ponto», concluiu.
Também em Viena, o vice-presidente do Irão e responsável pela agência nacional de energia atómica, Reza Aghazadeh, acrescentou que o que está em causa é a recusa das potências mundiais em admitirem «que outros países em desenvolvimento sejam possuidores de tecnologia moderna».
Teerão respondeu ainda à provocação gaulesa através do seu titular das relações externas, Ali Hosseini, para quem «as declarações de Kouchner não só não correspondem às políticas da UE em relação ao Irão, como colocam em causa a competência da AIEA». Hosseini mostrou-se chocado com a posição francesa, a qual, no seu entender, «afecta a credibilidade da França e contraria o papel histórico, cultural e civilizacional» desempenhado por aquela nação.
O presidente iraniano, por sua vez, reiterou a vontade de debater com George W. Bush, no final deste mês, em Nova Iorque, o diferendo nuclear, desafiando mesmo o presidente norte-americano a dialogar perante os cerca de 200 chefes de Estados representados na ONU.
A AIEA têm em curso um programa de monitorização do projecto nuclear do Irão e os especialistas da organização afecta às Nações Unidas revelaram recentemente que o país está longe de ser detentor de armas nucleares, não constituindo, por essa via, uma ameaça à paz.

A «fórmula» neoconservadora

Os norte-americanos depositam confiança na «via diplomática e económica para alcançar uma solução, mas todas as opções estão em cima da mesa», disse o secretário da Defesa, Robert Gates reagindo à polémica. Apesar de aparentemente mais comedido, o responsável da administração conservadora não deixou de classificar taxativamente o Irão como «uma ameaça», orientação que nas últimas semanas se nutriu de uma intensa campanha mediática.
Primeiro foi o secretário de Estado adjunto, John Negroponte, que em Cabul afirmou «estar convicto de que armas e outros equipamentos militares provenientes do Irão chegam às mãos dos talibãs», e em seguida foi o Washington Post que citou fontes não identificadas da NATO para corroborar a tese de Negroponte, adiantando terem sido feitas três avultadas capturas de material bélico, em Abril, Maio e agora em Setembro, que «marcaram psicologicamente o espírito» das tropas no território, segundo informou um oficial norte-americano sob anonimato. Estas supostas apreensões não foram sequer confirmadas pelo subserviente presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, que recusou avançar suspeitas sobre a nação persa.


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