PCP acusa Governo

Cresce o desemprego e a precariedade

O desemprego e a precariedade estão a crescer no País, acusa o PCP, para quem o Governo está a manipular os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística.

Con­ti­nu­ando esta evo­lução, no final do ano Por­tugal terá a maior taxa de de­sem­prego de sempre

Os números divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) «demonstram de uma forma cabal» uma subida do desemprego. Esta é a convicção da Comissão Política do PCP que, em conferência de imprensa, considerou que o valor actualmente registado é o «mais elevado registado no segundo trimestre do ano», desde que o INE iniciou a actual série de inquéritos ao emprego, em 1998 (ver números no quadro ao lado).
Vasco Cardoso, membro daquele organismo partidário, revelou que a taxa de desemprego em sentido restito atingiu, no final do segundo trimestre, 7,9 por cento, o que corresponde a 44.500 desempregados. Este valor representa ainda um considerável aumento relativamente ao trimestre homólogo do ano anterior.
Ao contrário do que afirma o Governo, a redução da taxa de desemprego em relação ao trimestre anterior de 2007, «não só é resultante do seu carácter sazonal, como não desmente o aumento do desemprego», considerou. Senão, veja-se: desde que existem estes estudos, 1998, só em dois anos é que o desemprego no segundo trimestre não foi inferior ao registado no primeiro. O que os números revelam é o agravamento do desemprego nestes dois trimestres em relação aos períodos homólogos de 2006.
Mas a Comissão Política do PCP vai mais longe, afirmando que caso se verifique um crescimento do desemprego semelhante nos dois últimos trimestres do ano (o que é provável tendo em conta a evolução recente), no final do ano «poderemos estar a caminhar para o mais elevado nível de desemprego jamais registado em Portugal».
Para os comunistas, a «verdadeira dimensão do desemprego» não é dada pelos números do INE. Esta, esclarecem, só pode ser avaliada se ao número de desempregados em sentido restrito, divulgado pelo instituto, «acrescentarmos os inactivos disponíveis para trabalhar e o subemprego visível». Assim, a taxa de desemprego sobe para mais de 10 por cento, acusa o PCP.

De­sem­prego es­tru­tural

Os dados divulgados pelo INE confirmam, na opinião do PCP, o «carácter estrutural» do desemprego no País. Mas confirmam também as responsabilidades do Governo do PS no seu agravamento. Esta situação, realçou Vasco Cardoso, é tão mais preocupante quanto o aumento do desemprego tem sido acompanhado pela «regressão dos níveis de protecção social existentes».
Uma análise mais aprofundada aos dados do INE revela que a evolução do emprego «acompanha o modelo de desenvolvimento económico cujo perfil é de emprego pouco qualificado», destacou Vasco Cardoso. Senão veja-se: as únicas profissões que no último ano viram a população empregada aumentar foram o «pessoal dos serviços e vendedores» (mais 16 700 pessoas) e os trabalhadores não qualificados (50 mil trabalhadores). Em contrapartida reduziu-se o número de quadros superiores (- 48 300), o de trabalhadores intelectuais (-11 400), o de técnicos e profissionais de nível intermédio (- 8 600) e o de operários, artífices e trabalhadores similares (-17 600).

Um em cada quatro é pre­cário

Mas não é só o desemprego a preocupar os comunistas. Há uma outra realidade que se aprofunda com o Governo do PS, liderado por José Sócrates: «a maior liquidação de sempre de postos de trabalho efectivos e a promoção do emprego precário como regra.»
Neste momento, realça o PCP, um em cada quatro trabalhadores é precário, ou seja, mais de 1 milhão e 200 mil pessoas. Sejam trabalhadores com contrato a prazo sejam os chamados «falsos recibos verdes».
Como resultado da precariedade, sustentou o dirigente comunista, verificou-se a liquidação, em apenas um ano, de largas dezenas de milhares de contratos sem termo. Estes postos de trabalho permanentes estão hoje ocupados por trabalhadores contratados a prazo, com falsos recibos verdes, em trabalho temporário ou em bolsas de formação e investigação.
O PCP, reafirmou a Comissão Política, continuará a bater-se por um outro rumo, que aposte na criação de emprego e na concepção de que a um posto de trabalho permanente deve corresponder um contrato efectivo.

Os nú­meros da de­si­gual­dade

De­sem­prego

A taxa de desemprego em sentido restrito atingiu, no segundo trimestre de 2007, 7,9 por cento, ou seja, 440 599 trabalhadores;
Em relação a igual período do ano passado, há mais 34 900 desempregados, mais 8,6 por cento;
Acrescentando os inactivos disponíveis para trabalhar (80 300) e o subemprego visível (68 100), o número de desempregados atinge os 588 900 trabalhadores, 10,4 por cento do total dos trabalhadores;
O aumento do desemprego atinge sobretudo as mulheres. A taxa de desemprego das mulheres está nos 9,4 por cento. Dos novos desempregados (34 900), 32 700 são mulheres;
A taxa de desemprego dos jovens entre os 15 e os 24 anos atingiu o valor de 15,3 por cento, quase o dobro da média nacional;
O desemprego nos licenciados subiu, de um ano para o outro, 25,1 por cento. Existem hoje 50 800 licenciados no desemprego, mais 10 200 do que no segundo trimestre de 2006;
Cerca de metade do desemprego é de longa duração. No final de Junho, 221 mil trabalhadores procuravam emprego há menos de 12 meses, e 216 400 faziam-no há mais de um ano;
Desde que o Governo entrou em funções, o número de desempregados cresceu de 399 300 para os actuais 440 500. Na campanha eleitoral, o PS prometeu criar 150 mil postos de trabalho;

Pre­ca­ri­e­dade

Entre o 2.º trimestre de 2006 e igual período de 2007, surgiram mais 77 800 trabalhadores com contratos a prazo, atingindo o valor mais elevado de sempre: 863 700 trabalhadores;
Os trabalhadores a tempo parcial aumentaram em 40 800, sendo já 630 200;
Foram liquidados, em menos de um ano, 77 600 contratos de trabalho sem termo;
Somando os 379 135 trabalhadores que estão na situação de «falso recibo verde», conclui-se que 1 242 835 trabalhadores têm um vínculo precário. Ou seja, 1 em cada 4 trabalhadores é precário;

Ri­queza

Os lucros dos cinco maiores grupos bancários em conjunto com a GALP, PT, EDP e SONAE somaram mais de 5,3 mil milhões de euros em 2006;
A remuneração média de cada membro de conselho de administração das empresas cotadas na bolsa representa 31,5 mil euros/mês. Grande parte deles foi aumentada sessenta vezes mais do que um trabalhador comum;
As fortunas dos 100 mais ricos de Portugal aumentaram 35,8 por cento em apenas um ano, atingindo o valor de 34 mil milhões de euros.
O mais rico entre os ricos (Belmiro de Azevedo), em apenas um ano praticamente duplicou a sua fortuna passando de 1 779 milhões, para 2 989 milhões de euros.