Confundir e dominar
«Confusão» é palavra que não chega para traduzir o sentido do caos que se vive em Portugal. Melhor seria dizer-se que as populações foram sistematicamente abandonadas pelo poder político que procura gerir o descalabro geral a favor dos interesses das formações capitalistas. Com as novas técnicas da comunicação ao seu serviço, os exploradores procuram distrair as atenções do essencial, para dominarem as resistências que vão surgindo e que, como eles próprios sabem, irão crescer. Confundir e dominar tem o significado e os objectivos do velho lema jesuítico «dividir para reinar».
No reino da confusão aparente da mais pura anarquia têm decorrido as operações de reestruturação do BCP «Millenium», o mais tentacular grupo financeiro português. Opas que falham, lobbies que se dividem, redes informáticas que entopem quando convém. De súbito, os grandes senhores revelam-se divididos e rivais, ao contrário da imagem de paz edílica que até aqui cultivavam. Sempre pronta a ajudar o sistema, a comunicação social tem vindo a apresentar esses desencontros como uma telenovela marcada pelas angústias metafísicas dos banqueiros predadores. E como o crime é tentador e quase sempre compensa, a história macabra do BCP é-nos contada aos soluços, confundindo o povo para melhor reinarem e apagando as imagens eventualmente chocantes.
Que a Igreja anda metida em tudo isto é mais que evidente. O BCP nasceu do poderoso Banco Popular espanhol e a ideia passou pelo Banco Atlântico, gerido pelo Opus Dei. As três principais vedetas desta farsa (Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto e Fernando Ulrich, este do BPI) são membros confessos da «Obra». O banco conta com accionistas poderosos tradicionalmente ligados ao Vaticano, como o JP Morgan (o banco do Vaticano nos EUA), La Caja (a central das IPSS espanholas), o próprio accionista Popular, o Sabadell ou os magnatas da TV, dos seguros e da banca luxemburguesa, belga e holandesa, sempre tão dispostos a dar uma mãozinha ao Papa e ao poder eclesiástico. A desconstrução do actual BCP e a sua provável fusão com o BPI são etapas do lançamento, em curso, de um colossal super-banco ibérico, à escala da Europa e da economia global. Trata-se, mais uma vez, de confundir a desorientada opinião pública, de cilindrar ou de comprar os pequenos accionistas e de aumentar o poder das oligarquias. A divisão entre os ricos é maquilhada por razões de estratégia enquanto o mundo financeiro, em tempos da crise dos outros, acumula lucros brutais. Se a tudo isto juntarmos um outro ambicioso projecto da Igreja que incuba há vários anos (a instalação de uma só Província Eclesiástica em toda a Ibéria, com centro de decisão em Espanha) teremos a perspectiva correcta dos perigos que ameaçam Portugal e o arrastam, uma vez mais, sobre o fio da navalha.
Confusões e mais confusões
Também a vaga das confusões parece ter atingido os centros católicos de decisão. Por exemplo, a zanga dos bispos com os socialistas, logo acalmada quando Sócrates lhes garantiu que a Concordata de 1940 iria continuar em vigor. A «escorregadela» de Ratzinger, no Brasil (ele, que nunca escorrega) ao afirmar que os índios brasileiros nunca tinham sido escravizados pelos cristãos e que a Igreja Católica não pratica o proselitismo!
Por cá, D. Carlos Azevedo, porta-voz da Conferência Episcopal, veio afirmar publicamente que o governo socialista de direita trata a Igreja Católica como se fosse uma seita qualquer! É ir demasiadamente longe, sobretudo porque ele é, por formação e por dever de ofício, um dos homens mais bem informados da hierarquia portuguesa. Nada conhece, então, dos alçapões da Concordata, dos contornos precisos do império do Opus Dei, dos disfarces contidos nas reformas do Ensino ou da Saúde que fecham com uma das mãos a porta aos trabalhadores enquanto abrem, com a outra mão, novo portal à Igreja ? E que dizer do beato Bagão Félix ao declarar, para quem o quis ouvir, que a liberalização dos despedimentos não é praticável em Portugal quando, enquanto ministro, tudo fez para a promover?
Quanto aos perigos que as chicanas do BCP arrastam para todo o nosso povo, é necessário estar alerta e procurar informação. A afirmação da autoridade das elites, característica dos actuais ministros, é dado básico dos currículos dos colégios e universidades do Opus Dei. Precisamos de saber quem governa Portugal e quem possui autoridade para governar. O Estado é laico ou do Opus Dei?
Mas este governo não responde e afoga-nos em confusões sobre confusões. São confusões sistemáticas, lançadas para criarem na opinião dos portugueses o vírus da recusa à acção política, o descrédito das propostas de luta e o pânico moral.
No reino da confusão aparente da mais pura anarquia têm decorrido as operações de reestruturação do BCP «Millenium», o mais tentacular grupo financeiro português. Opas que falham, lobbies que se dividem, redes informáticas que entopem quando convém. De súbito, os grandes senhores revelam-se divididos e rivais, ao contrário da imagem de paz edílica que até aqui cultivavam. Sempre pronta a ajudar o sistema, a comunicação social tem vindo a apresentar esses desencontros como uma telenovela marcada pelas angústias metafísicas dos banqueiros predadores. E como o crime é tentador e quase sempre compensa, a história macabra do BCP é-nos contada aos soluços, confundindo o povo para melhor reinarem e apagando as imagens eventualmente chocantes.
Que a Igreja anda metida em tudo isto é mais que evidente. O BCP nasceu do poderoso Banco Popular espanhol e a ideia passou pelo Banco Atlântico, gerido pelo Opus Dei. As três principais vedetas desta farsa (Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto e Fernando Ulrich, este do BPI) são membros confessos da «Obra». O banco conta com accionistas poderosos tradicionalmente ligados ao Vaticano, como o JP Morgan (o banco do Vaticano nos EUA), La Caja (a central das IPSS espanholas), o próprio accionista Popular, o Sabadell ou os magnatas da TV, dos seguros e da banca luxemburguesa, belga e holandesa, sempre tão dispostos a dar uma mãozinha ao Papa e ao poder eclesiástico. A desconstrução do actual BCP e a sua provável fusão com o BPI são etapas do lançamento, em curso, de um colossal super-banco ibérico, à escala da Europa e da economia global. Trata-se, mais uma vez, de confundir a desorientada opinião pública, de cilindrar ou de comprar os pequenos accionistas e de aumentar o poder das oligarquias. A divisão entre os ricos é maquilhada por razões de estratégia enquanto o mundo financeiro, em tempos da crise dos outros, acumula lucros brutais. Se a tudo isto juntarmos um outro ambicioso projecto da Igreja que incuba há vários anos (a instalação de uma só Província Eclesiástica em toda a Ibéria, com centro de decisão em Espanha) teremos a perspectiva correcta dos perigos que ameaçam Portugal e o arrastam, uma vez mais, sobre o fio da navalha.
Confusões e mais confusões
Também a vaga das confusões parece ter atingido os centros católicos de decisão. Por exemplo, a zanga dos bispos com os socialistas, logo acalmada quando Sócrates lhes garantiu que a Concordata de 1940 iria continuar em vigor. A «escorregadela» de Ratzinger, no Brasil (ele, que nunca escorrega) ao afirmar que os índios brasileiros nunca tinham sido escravizados pelos cristãos e que a Igreja Católica não pratica o proselitismo!
Por cá, D. Carlos Azevedo, porta-voz da Conferência Episcopal, veio afirmar publicamente que o governo socialista de direita trata a Igreja Católica como se fosse uma seita qualquer! É ir demasiadamente longe, sobretudo porque ele é, por formação e por dever de ofício, um dos homens mais bem informados da hierarquia portuguesa. Nada conhece, então, dos alçapões da Concordata, dos contornos precisos do império do Opus Dei, dos disfarces contidos nas reformas do Ensino ou da Saúde que fecham com uma das mãos a porta aos trabalhadores enquanto abrem, com a outra mão, novo portal à Igreja ? E que dizer do beato Bagão Félix ao declarar, para quem o quis ouvir, que a liberalização dos despedimentos não é praticável em Portugal quando, enquanto ministro, tudo fez para a promover?
Quanto aos perigos que as chicanas do BCP arrastam para todo o nosso povo, é necessário estar alerta e procurar informação. A afirmação da autoridade das elites, característica dos actuais ministros, é dado básico dos currículos dos colégios e universidades do Opus Dei. Precisamos de saber quem governa Portugal e quem possui autoridade para governar. O Estado é laico ou do Opus Dei?
Mas este governo não responde e afoga-nos em confusões sobre confusões. São confusões sistemáticas, lançadas para criarem na opinião dos portugueses o vírus da recusa à acção política, o descrédito das propostas de luta e o pânico moral.