Nos Transportes Sul do Tejo

A luta vai continuar

Perante uma redução real dos salários e a perda de direitos, os trabalhadores cumpriram, dia 9, uma segunda greve, cuja adesão ultrapassou os 80 por cento.

A com­pre­ensão dos utentes e a adesão dos con­tra­tados a prazo dão mais força à luta

A esta expressiva adesão nos Trans­portes Sul do Tejo (TST) não é alheia a actividade da rejuvenescida célula do PCP na empresa. Isto mesmo foi-nos confirmado pelo coordenador da célula e membro da Comissão Concelhia de Almada do PCP, Ernesto Azevedo, pelo responsável na área de transportes da península de Setúbal do Partido, Jorge Amorim, o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal (STRUP/CGTP-IN), Eduardo Travassos e o dirigente do mesmo sindicato e membro do secretariado de célula nos TST, João Saúde.
No dia da greve, os cerca de 1300 trabalhadores da empresa efectuaram plenários descentralizados e aprovaram uma resolução onde delegaram nos seus representantes a possibilidade de convocarem as acções que considerem convenientes no sentido de continuar a luta.

Re­sistir às re­pre­sá­lias

A greve «foi ainda mais significativa do que a de 14 de Fevereiro porque, desde aí, os trabalhadores têm sido ameaçados pela empresa, mas não cederam e até reforçaram a participação» e «os plenários tiveram uma participação que não se via há anos e que prova o alto grau de consciência dos trabalhadores», salientou Jorge Amorim.
A administração tem recorrido a «represálias através da não atribuição de horas extraordinárias, da flexibilização das folgas ou de alterações de serviços e de autocarros», denunciou.
«A crescente participação na luta dos trabalhadores em situação de precariedade, particularmente jovens e imigrantes, tem sido determinante para a expressiva força das greves», salientou Ernesto Azevedo.
A luta pela passagem à efectividade dos mais de cem contratados a prazo, que, «ilegalmente, desempenham funções de trabalho permanente, é outra prioridade», salientou Eduardo Travassos.
A administração também «pretende destruir completamente o Acordo de Empresa (AE) reduzindo o clausulado, de 100 para 28 cláusulas», denunciou Jorge Amorim.
A empresa quer «flexibilizar a organização dos tempos de trabalho, para que apenas os tempos de serviço contem como horário e deixem de contar os tempos de refeição e os intervalos, obrigando os trabalhadores a prestar serviço durante 12 horas diárias ou mais», denunciou Eduardo Travassos.
Para 11 de Abril, está marcada nova reunião para negociar a matéria do clausulado do AE.

Si­tu­ação de rup­tura

«Chegámos a uma situação de ruptura, depois de muitos anos a perdermos poder de compra, através de aumentos aplicados por actos de gestão, sem negociação efectiva», salientou João Saúde.
Com o acto de gestão aplicado este ano, a média salarial passou de 563 para 578 euros, informou Eduardo Travassos. «Como não houve qualquer aumento no subsídio de refeição e nas diuturnidades, o aumento de 2,7 por cento no salário significa, globalmente, apenas 2 por cento, face à inflação, em 2006, de 3,1 por cento, segundo os dados oficiais, o que equivale a uma perda de 1,1 por cento».
Perante esta realidade, «os trabalhadores decidiram unir-se e lutar para dizer basta», afirmou João Saúde. «A previsão da inflação é um instrumento político do patronato para baixar os salários», considerou Eduardo Travassos.
João Saúde recordou que em 1994, a frota da Ro­do­viária Sul do Tejo, então integrada na Ro­do­viária Na­ci­onal (RN) , tinha 413 viaturas com uma idade média de 15 anos. Já nessa altura, os aumentos eram aplicados por actos de gestão e iguais aos de hoje. «A privatização da RN foi contrária aos interesses das populações e dos trabalhadores».

Nem hi­giene nem se­gu­rança

A luta é ainda motivada pela falta de condições de higiene e de segurança, tanto para os trabalhadores como para os utentes.
«Faltam condições nos balneários e no refeitório, e na oficina usam-se produtos tóxicos que são atirados directamente para o esgoto com óleos, numa empresa que ainda há pouco recebeu um certificado de qualidade», denunciou João Saúde.
Os TST têm hoje mais de 600 autocarros. São «comprados podres, em parques de sucata no Norte da Europa, nomeadamente na Alemanha, depois de lá serem abatidos com cerca de dez anos, idade considerada limite para a segurança do veículo». No entanto, «os utentes continuam a ser prejudicados e sofrem constantes aumentos de tarifas», salientou.

A de­ter­mi­nação co­mu­nista

Depois do XVII Congresso do PCP, os militantes comunistas nos TST reforçaram a sua actividade, lembrou Ernesto Azevedo, salientando a prioridade dada pelo Partido à organização nos locais de trabalho.
A célula ressentiu-se com a passagem à reforma de muitos camaradas, embora «nunca tenha deixado de intervir», salientou Jorge Amorim
Na região de Setúbal, «o Partido considerou estratégicos os transportes e a célula passou a editar um boletim próprio que elevou a dinâmica da organização», revelou.
Mas só através da entrada de jovens trabalhadores na célula é que «foi possível garantir a regularidade do trabalho», recordou Ernesto Azevedo. «No ano passado fizeram-se 12 recrutamentos, apesar das dificuldades que nos foram imediatamente criadas», prosseguiu. Novos dirigentes sindicais sofreram represálias através de alterações dos horários e de localizações, tentando afastá-los, o mais possível, do contacto com os restantes trabalhadores. Também «os militantes foram pressionados para se afastarem do Partido mas, com muita determinação, continuam a reforçar a célula».
«São cada vez mais os que, não sendo comunistas, nos pedem esclarecimentos, porque confiam em nós», salientou Ernesto Azevedo, lembrando que a tomada de consciência de classe é determinante para o reforço do Partido


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