Jovem negro assassinado pela polícia

Afro-americanos protestam em Nova Iorque

John Catalinotto
Dezenas de milhares de pessoas desfilaram no sábado, dia 16, na Quinta Avenida, em Nova Iorque, em protesto contra o assassinato de jovens negros pela polícia.

«Não disparam uma ou duas vezes. Descarregaram 50 balas sobre o veículo»

Os manifestantes, na sua maioria afro-americanos, marcharam ao longo de dois quilómetros pela rua de luxuosas lojas exprimindo a sua justificada revolta contra a polícia racista que alveja e mata jovens negros, e em especial contra o selvagem assassinato pela polícia de Sean Bell, de 23 anos, no passado dia 25 de Novembro, poucas horas antes do seu casamento. A mensagem dos manifestantes foi um «não às compras do costume» durante o tradicional frenesim de consumo da época natalícia.
A 25 de Novembro, Bell saiu às 4 horas da manhã da festa de despedida de solteiro em Queens, nos arredores de Nova Iorque, com dois amigos. Quando entraram ao carro, cinco polícias graduados, nenhum deles usando uniforme, aproximaram-se da viatura de arma em punho. Nenhum dos oficiais armados se identificou como polícia. Os três amigos assustaram-se, afirmam os sobreviventes, e tentaram sair dali com o automóvel.
Apesar de nenhum dos ocupantes do carro estar armado, a polícia abriu fogo. Não disparam uma ou duas vezes. Descarregaram 50 balas sobre o veículo. Alguns dos projécteis entraram numa estação de comboios suburbanos próxima, o que fez com que os passageiros se atirassem para o chão. A maioria das balas atingiu o carro. Três tiros acertaram e mataram Bell. O seu amigo, Joseph Guzman, foi atingido 11 vezes e está hospitalizado em situação crítica. O outro, Trent Benefield, foi atingido três vezes. Os dois amigos feridos foram algemados para as camas do hospital.
Um dos oficiais brancos, o detective Mike Oliver, só à sua conta despejou um carregador completo, voltou a carregar a arma e esvaziou novo carregador – num total de 31 balas.
O regulamento do Departamento da Polícia de Nova Iorque no que respeita a alvejar veículos em andamento afirma claramente que a polícia não pode atirar contra um veículo em andamento «a menos que tenha sido usada força letal (...) por meios que não o próprio veículo». Os oficiais envolvidos foram colocados sob suspensão administrativa, mas continuam a receber o seu salário.

Racismo policial

À medida que desfilavam pela Quinta Avenida, os manifestantes contavam de um a 50 elevando as vozes enquanto apontavam para as centenas de polícias alinhados ao longo da rua atrás de barricadas de metal – o «redil» que a polícia de Nova Iorque usa para encurralar as manifestações.
A violência policial contra afro-americanos atinge níveis muito mais elevados do que os usados na prática policial contra pessoas de origem europeia. De um modo geral, a sociedade norte-americana é extremamente repressiva. Com cerca de dois milhões de pessoas em centros de detenção e nas prisões, os EUA têm cinco por cento da população mundial e 25 por cento dos presos. Os afro-americanos representam mais de um terço desses presos, embora sejam apenas cerca de 12 por cento da população. Nas comunidades afro-americanas a polícia é vista como uma espécie de exército de ocupação. Os polícias não hesitam em atirar contra uma pessoa negra suspeita de qualquer crime. Chegaram mesmo ao ponto de derrubar a porta da casa de Kathryn Johnston, de 92 anos, em Atlanta, numa rusga contra a droga, por engano, e a pô-la fora de casa sob a ameaça de armas quando ela se tentou defender.

Ordem para matar

Mas o assassinato de Bell teve uma resposta especial. O facto de terem sido disparados 50 tiros, de Bell estar em vésperas de se casar e de a família de Bell ter exigido justiça sem rodeios contribuiu para mobilizar uma resposta popular em massa.
Os pais de Bell, a sua noiva, Nicole Paultre Bell – que é mãe dos dois filhos de Bell – e Benefield, que foi libertado do hospital e está agora numa cadeira de rodas, participaram na marcha pela Quinta Avenida. Todos falaram exigindo justiça para a vítima, que o comissário da polícia se demita e que seja feita uma investigação independente dos meios policiais à morte de Bell.
De referir que Nicole Paultre mudou legalmente o nome para Nicole Paultre Bell após o assassinato do seu companheiro.
A marcha de 25 de Novembro foi a maior de uma série de protestos, em que participaram dirigentes bem conhecidos da política, como Al Sharpton e Jesse Jackson. Numa anterior manifestação junto ao comando central da polícia, um conselheiro progressista da Cidade de Nova Iorque, Charles Barron, afirmou: «De cada vez que eles vêm à nossa comunidade e desrespeitam a nossa juventude, desrespeitam as nossas famílias, nós dizemos que já basta (...) Precisamos de fazer saber a este sistema que eles têm de ter cuidado connosco».
A próxima acção de protesto está marcada para hoje, 21 de Dezembro. Convocada pelo Movimento Homem Negro e pelo Movimento 12 de Dezembro, a acção é apresentada pelos organizadores como um «dia de injúria» em que esperam fechar a Wall Street em desafio à «política da polícia para os negros – ‘atirar a matar’».


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