Portugal e a «competitividade global»

Francisco Silva
Agora foi a vez da última edição do ranking da «competitividade global», da publicação pelo Fórum Económico Mundial da respectiva classificação dos países. Foi a vez de Portugal descer - ou cair, tal como nos media se gosta de dizer quando se quer dar para trás nos visados -, de 31.º para 34.º, ultrapassado pelos Barbados, Emiratos Árabes Unidos e Tunísia. E logo dois países do Islão entre eles. Islão que se teria ficado em termos civilizacionais pelo passadíssimo século VII, como se pode concluir do que dizia aquela senhora, noutro dia na SIC Notícias em debate com Odete Santos, a propósito do 11 de Setembro das torres gémeas e do edifício do Pentágono. Perturbados ficaram os «classes médias» cá da terra - digo eu que, entre outras coisas, sou um mouro do nosso sul, um mouro da Lisboa, que foi reconquistada aos mouros em 1147.
Mas escrevi descida na classificação, o que não foi o mesmo que disse o jornal Público. Este inseriu junto dum título de primeira página uma afirmação de não ter havido descida da classificação - que esta se mantivera -, era os outros três países que tinham passado à frente do nosso. Quer dizer, a pontuação obtida tinha sido a mesma que na edição anterior, o lugar na ordem dos países é que passara a ser outro. No desporto, e, em geral, em concursos, é costume reservar o termo classificação para o lugar na ordenação dos concorrentes, e não para as pontuações ou para as marcas - nomeadamente, os tempos gastos nos percursos, as distâncias alcançada nos saltos e nos lançamentos, etc. Já nos exames e nos testes das escolas utiliza-se mais o termo classificação para os valores ou pontos obtidos - a minha classificação foi dez. O Público foi por este segundo modo semântico que optou, talvez por que ande mais preocupado com os scores do que com a ordem. Aliás, com as escolas talvez ainda valha a pena fazer rankings (termo muito in em termos ideológicos, não é?), agora, com os países, não se lhe deve dar demasiada importância. Dois pesos, duas medidas. Ai, as subtilezas! De qualquer forma, sempre ouvi dizer que parar é morrer… Adiante, para não ter que dizer «mas ca gandas pontos».
Já o Diário de Notícias destacava na primeira página - ao leitor já não terá escapado que olho com atenção para os escaparates da imprensa - outro tipo de afirmações. Enquanto no Público se procurava proteger dos maus resultados, como se viu, as elites económicas e políticas no seu conjunto, o Governo incluído, o Diário de Notícias referia que era a imagem do Estado - e, portanto, do Governo - que aparecia prejudicada pela má performance por parte da área económica. Isto, sempre em termos apenas de impressões e reflexões produzidas pela informação inserta nas capas destes matutinos.
Em consequência, fiquei curioso sobre o que estaria por trás daquelas preocupações naqueles media de referência. Procurei mais, e encontrei outros pequenos artigos em sítios portugueses da Internet - a tal Internet que muitos gostariam de descartar por falta de credibilidade. Apurei então que nas áreas da educação, da saúde e das infra-estruturas até estávamos muito melhor do que aquele 34.º lugar – 16.º na educação primária e saúde -, enquanto em termos macroeconómicos a nossa posição na ordem - não digo classificação para não ferir os ouvidos do Público - era, pasmem agora senhores leitores, era o 80º, octogésimo mesmo, é claro. Pintem portanto a cara de pretíssimo, economistas e financeiros colocados nas mais altas posições…
E fui mais longe, fui ao sítio do Fórum Económico Mundial para consultar o relatório da competitividade global em directo - será credível este sítio, Paula Teixeira da Cruz? Espero que num debate com Odete Santos, se esta citar este relatório, não volte a representar a peça do desdém por fontes não autorizadas…
Li esse relatório - andava sobretudo em busca de um componente do índice que reflectisse explicitamente as empresas - e encontrei o «sofisticado» business sofistication, que é como quem diz a qualidade dos respectivos processos de produção e, em geral, do seu funcionamento. Resultado: 42.ª posição. Portanto, senhores empresários e altos quadros da gestão empresarial, incluindo os senhores do Beato, pintem também a vossa cara de muito preto.
Então, será por serem «demasiado» boas que andam a destruir a Educação e a Saúde deste rincão? Será por isso que, entre outras coisas, fecharam 1500 escolas primárias e uma série de maternidades - foi para encobrirem gritantes incompetências nas áreas económicas?


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