CITAC - 50 anos de teatro

A história que terá de ser feita

Leandro Vale
Não poderá passar despercebido o nome do CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra) no âmbito do panorama cénico nacional.
Na dinâmica de novas formas teatrais existente no país houve, sempre, através deste organismo autónomo da A.A.C., um passo em frente dentro do cadenciar de velhos métodos que lhe valeu todos os revezes acontecidos ao logo da sua atribulada existência.
Se bem que o movimento teatral académico português - permitam-me aqui destacar três dos conjuntos mais notórios, TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra ( o decano de todas estas formações), TUP (Teatro Universitário do Porto), CÈNICO DE DIREITO, de Lisboa - entre outros vários nomes mais recentes que foram marcando épocas e continuam a dar o seu contributo para uma mais valia do panorama cénico nacional, inclusivamente na formação de gentes que ingressaram no profissionalismo, O CITAC aparece-nos como a mais gritante referência histórica dentro desta área.
Isto porque o seu historial é um manancial de factos que levaram a uma árdua resistência à negra noite fascista, continuando, com a sua irreverência, a ser o mais completo campo laboratorial português universitário, e não só, por onde passaram alguns dos mais notórios nomes do teatro internacional.
Nascido com um nome diferente, CAITE (Centro Académico de Iniciação Teatral), passado um ano e pouco da sua existência com gentes do Liceu D. João III, viu uma transformação em 1955, na senda dos que sabiam o que queriam e que pretendiam, através do teatro, estabelecer uma ponte de contacto com uma resistência que se ia alargando.

Mas a vontade indómita dos que tinham gerado a ideia não desfaleceu e passados meses ressurgia como CITAC, sendo-lhe cedidas umas instalações, por debaixo dos Estudos Gerais, onde os ratos iam coabitando com a necessidade de prosseguir o sonho.
A entrada era feita por uma janela, onde uns degraus exteriores e interiores, davam um tímido acesso para os não iniciados.
Alguns afoitavam-se a levar uma espingarda de chumbos para exterminar os «residentes» com quem tínhamos de coabitar.
Quando cheguei o número de resistentes não era numeroso. Lembro-me de ser o sócio número 52, e o mais novo de todos os «velhos». Tinha por essa altura quinze anos e lembro-me da discussão acesa por causa de ser o único «bicho» a integrar as fileiras.
Lembro-me da grande alegria havida quando o «mestre» António Pedro me seleccionou para fazer a «super montagem», Dulcineia ou a Última Aventura de D. Quixote, de Carlos Selvagem, que haveria de ser uma das grandes estrelas entre as estrelas que passaram no seu II Ciclo de Teatro (ciclos que haveria de manter durante ainda mais alguns anos).

Um espectáculo com uma montagem de Mário Alberto, que, naquela altura foi dos grandes estoiros do teatro português.
Lembro-me de ter visto ali, entre outros, Marcel Marceau, o American Modern Festival Ballet, os «Doze Homens em fúria», dirigido pelo Ribeirinho, «Os Velhos não devem Namorar»…

Lembro-me da passagem do Vasco de Lima Couto, do João Guedes, que dirigiam os ensaios quando o «mestre» não podia estar presente.
Lembro-me das longas noites de vigília na Estação Velha, esperando o ronceiro «correio» em que eles teriam de regressar ao Porto, altas horas da manhã.
Lembro-me, nessa altura, dos nomes do Heitor Teixeira - que soberbo D. Quixote - da Abelhinha, do Pires de Lima, do Maldonado, do Taborda, e tantos outros que seria fastidioso aqui enumerar.
Depois veio a crise. A PIDE sempre vigilante fechou de novo as suas portas que só voltariam a ser reabertas após a manhã luminosa de Abril.
Arquivos, material técnico, toda a documentação que serviria para História, até o órgão de luz feito de madeira, tudo desapareceu.
Mas não desapareceu a força nem a certeza de que as coisas consistentes nunca desaparecem.
Mais tarde, já depois de Abril, lembro-me de ter sido convidado para o ensaio geral de «Guilherme Tell tem os Olhos Tristes», de Sastre, com um final eu não concordei dando discussão até altas horas da manhã…
Mas tudo aconteceu dentro do melhor porque a família«citaquiana», mesmo dentro das contradições existentes, soube sempre levar o barco a bom porto.
Cinquenta anos são passados e aí estamos para comemorar anos de luta e de teatro.
Novos e velhos com a mesma determinação. E mesmo aqueles que já se foram, «que ficaram pelo caminho mas marcharão, sempre, ao nosso lado» estão conformes, contentes, por saberem que a mensagem passou, que chegou aos nossos dias e há-de ter continuidade no futuro.


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