«Um marco na luta contra o fascismo»
Sob o título geral «Revolta dos Marinheiros de 8 de Setembro de 1936 – Um marco na luta contra o fascismo», a exposição inaugurada no dia do 70.º aniversário da insurreição mostra diversas imagens da época e refere factos, episódios e considerações políticas e históricas, evidenciando a importância daquele acto e a coragem dos jovens que o concretizaram.
Dossier A REVOLTA DOS MARINHEIROS O jornal O Marinheiro Vermelho chegou a ultrapassar os 1500 exemplares de tiragem.
A exposição – que tem uma versão electrónica publicada no sítio do PCP na Internet, em www.pcp.pt – subdivide-se em cinco capítulos, que contêm uma descrição da sublevação e dos seus objectivos, uma breve caracterização das circunstâncias em que ocorreu, informação sobre o papel da Organização Revolucionária da Armada (ORA) e, nesta, do camarada Manuel Guedes, dados sobre a repressão do fascismo e notas sobre a solidariedade da população para com os insurrectos, bem como uma apreciação do significado histórico da revolta.
Na preparação da sublevação de marinheiros que ocorreu nos navios Bartolomeu Dias, Afonso de Albuquerque e Dão, fundeados no Tejo, tiveram papel determinante os comunistas e a ORA, com intensa intervenção política, num momento em que o fascismo procurava consolidar-se e a resistência democrática ganhava ímpeto. Era objectivo dos revoltosos passar a barra e, uma vez ao largo, exigir ao Governo de Salazar que fossem libertados e reintegrados 17 camaradas, que tinham sido punidos após uma expedição do Afonso de Albuquerque a Espanha, em Agosto, pouco depois de ali ter eclodido a guerra civil.
É recordado o que disse ao Avante! , em 1974, um camarada que ia a bordo: «Fomos a Málaga, Alicante e mais uns portos buscar emigrantes portugueses» mas « havia ordens para não desembarcarmos, quando atracávamos em portos republicanos, ao passo que podíamos desembarcar nos portos fascistas». A decisão dos marinheiros foi não descer em porto nenhum, sucedendo-se as medidas repressivas logo após o regresso a Lisboa. Meses antes, já tinham sido presos 30 marinheiros, entre os quais se encontravam todos os dirigentes da ORA.
Naqueles meses, «criava-se justificada esperança de fazer frente com êxito ao fascismo», como recordou Álvaro Cunhal, em 1998, numa sessão de homenagem aos marinheiros tarrafalistas, em Almada. Seguindo a orientação definida na Internacional Comunista, «uniram-se as forças democráticas, constituíram-se, ganharam as eleições e formaram governo Frentes Populares em França e Espanha». Em Portugal, o PCP sofria um rude golpe, com a prisão de Bento Gonçalves, secretário-geral, e de todo o Secretariado. Mas «no campo democrático», como referiu Álvaro Cunhal, «fervilhavam, por influência das vitórias antifascistas em França e em Espanha, ideias de um golpe armado para derrubar o fascismo», as quais eram sentidas também entre os camaradas da Organização Revolucionária da Armada.
A ORA foi uma organização política do PCP, cuja criação e desenvolvimento têm na origem o reforço do trabalho partidário, que resultou da reorganização de 1929. Mas a sua influência na Armada ultrapassava largamente as fronteiras partidárias. Da ORA emergiram destacados dirigentes do PCP, tais como Manuel Guedes, que foi membro do Secretariado do Partido. No momento da revolta, contudo, Manuel Guedes encontrava-se preso em Espanha, para onde fugira com Pires Jorge (também ele, mais tarde, membro do Secretariado do PCP). Manuel Guedes foi um grande impulsionador do jornal O Marinheiro Vermelho, que chegou a difundir 1500 exemplares no seio da Armada.
A ORA desenvolveu um intenso trabalho de agitação na Marinha, que viria a culminar no 8 de Setembro. Na sequência das mortes, das prisões e das deportações a organização foi desmantelada pelo fascismo.
Repressão e solidariedade
Sobre os marinheiros envolvidos na revolta abateu-se feroz repressão do fascismo.
Os bombardeamentos contra os navios sublevados e a perseguição dos revoltosos fizeram, no dia 8 de Setembro, doze mortos.
Na Marinha foi desencadeada uma limpeza contra elementos considerados de pouca confiança.
Foram presos e julgados 208 marinheiros e 82 foram condenados; 44 foram enviados para a fortaleza-prisão de Angra do Heroísmo, 4 ficariam no forte de Peniche e 34 foram para o campo de concentração do Tarrafal, com pesadas penas. Cinco dos marinheiros acabaram por sucumbir ao «campo da morte lenta».
Por parte da população, houve comoventes manifestações de simpatia e solidariedade para com os marinheiros. «O camarada Armindo, mais conhecido como o “Peru”», sendo «grande nadador, atravessara o Tejo a nado até perto do Porto Brandão e, como me contou, abordara um barco de pescadores», que «só o içaram para bordo quando lhes disse ser um marinheiro da revolta», relata Álvaro Cunhal, sobre o seu encontro com o único camarada da ORA que, estando na revolta, conseguiu escapar à prisão.
António Diniz Cabaço, que mais tarde seria preso, contou ao Avante! (N.º 17, de 8 de Setembro de 1974) como, depois de ir numa baleeira até ao Olho-de-Boi, foi ajudado por pescadores, que perceberam que «você é um dos barcos que se revoltaram, fique aqui que vamos fazer uma caldeirada». João Faria Borda, na mesma entrevista que é citada na exposição, relata que «até mesmo nos outros barcos, que receberam ordens para nos atacarem, o pessoal recusou-se a disparar».
Na preparação da sublevação de marinheiros que ocorreu nos navios Bartolomeu Dias, Afonso de Albuquerque e Dão, fundeados no Tejo, tiveram papel determinante os comunistas e a ORA, com intensa intervenção política, num momento em que o fascismo procurava consolidar-se e a resistência democrática ganhava ímpeto. Era objectivo dos revoltosos passar a barra e, uma vez ao largo, exigir ao Governo de Salazar que fossem libertados e reintegrados 17 camaradas, que tinham sido punidos após uma expedição do Afonso de Albuquerque a Espanha, em Agosto, pouco depois de ali ter eclodido a guerra civil.
É recordado o que disse ao Avante! , em 1974, um camarada que ia a bordo: «Fomos a Málaga, Alicante e mais uns portos buscar emigrantes portugueses» mas « havia ordens para não desembarcarmos, quando atracávamos em portos republicanos, ao passo que podíamos desembarcar nos portos fascistas». A decisão dos marinheiros foi não descer em porto nenhum, sucedendo-se as medidas repressivas logo após o regresso a Lisboa. Meses antes, já tinham sido presos 30 marinheiros, entre os quais se encontravam todos os dirigentes da ORA.
Naqueles meses, «criava-se justificada esperança de fazer frente com êxito ao fascismo», como recordou Álvaro Cunhal, em 1998, numa sessão de homenagem aos marinheiros tarrafalistas, em Almada. Seguindo a orientação definida na Internacional Comunista, «uniram-se as forças democráticas, constituíram-se, ganharam as eleições e formaram governo Frentes Populares em França e Espanha». Em Portugal, o PCP sofria um rude golpe, com a prisão de Bento Gonçalves, secretário-geral, e de todo o Secretariado. Mas «no campo democrático», como referiu Álvaro Cunhal, «fervilhavam, por influência das vitórias antifascistas em França e em Espanha, ideias de um golpe armado para derrubar o fascismo», as quais eram sentidas também entre os camaradas da Organização Revolucionária da Armada.
A ORA foi uma organização política do PCP, cuja criação e desenvolvimento têm na origem o reforço do trabalho partidário, que resultou da reorganização de 1929. Mas a sua influência na Armada ultrapassava largamente as fronteiras partidárias. Da ORA emergiram destacados dirigentes do PCP, tais como Manuel Guedes, que foi membro do Secretariado do Partido. No momento da revolta, contudo, Manuel Guedes encontrava-se preso em Espanha, para onde fugira com Pires Jorge (também ele, mais tarde, membro do Secretariado do PCP). Manuel Guedes foi um grande impulsionador do jornal O Marinheiro Vermelho, que chegou a difundir 1500 exemplares no seio da Armada.
A ORA desenvolveu um intenso trabalho de agitação na Marinha, que viria a culminar no 8 de Setembro. Na sequência das mortes, das prisões e das deportações a organização foi desmantelada pelo fascismo.
Repressão e solidariedade
Sobre os marinheiros envolvidos na revolta abateu-se feroz repressão do fascismo.
Os bombardeamentos contra os navios sublevados e a perseguição dos revoltosos fizeram, no dia 8 de Setembro, doze mortos.
Na Marinha foi desencadeada uma limpeza contra elementos considerados de pouca confiança.
Foram presos e julgados 208 marinheiros e 82 foram condenados; 44 foram enviados para a fortaleza-prisão de Angra do Heroísmo, 4 ficariam no forte de Peniche e 34 foram para o campo de concentração do Tarrafal, com pesadas penas. Cinco dos marinheiros acabaram por sucumbir ao «campo da morte lenta».
Por parte da população, houve comoventes manifestações de simpatia e solidariedade para com os marinheiros. «O camarada Armindo, mais conhecido como o “Peru”», sendo «grande nadador, atravessara o Tejo a nado até perto do Porto Brandão e, como me contou, abordara um barco de pescadores», que «só o içaram para bordo quando lhes disse ser um marinheiro da revolta», relata Álvaro Cunhal, sobre o seu encontro com o único camarada da ORA que, estando na revolta, conseguiu escapar à prisão.
António Diniz Cabaço, que mais tarde seria preso, contou ao Avante! (N.º 17, de 8 de Setembro de 1974) como, depois de ir numa baleeira até ao Olho-de-Boi, foi ajudado por pescadores, que perceberam que «você é um dos barcos que se revoltaram, fique aqui que vamos fazer uma caldeirada». João Faria Borda, na mesma entrevista que é citada na exposição, relata que «até mesmo nos outros barcos, que receberam ordens para nos atacarem, o pessoal recusou-se a disparar».