Israel nos bastidores de Washington

André Levy
A recente agressão Israelita no Líbano ilustrou claramente a estreita relação entre o Estado Judaico e os EUA. Quando a maioria no ocidente apelava para um cessar-fogo, a secretária de Estado norte-americana, Condeleeza Rice, declarava tolerar os bombardeamentos Israelitas e a morte de civis durante mais uns dias. E Israel ia recebendo encomendas militares dos EUA (pelo menos uma passando pelos Açores!). Sabe-se agora que o ataque ao Líbano estava já planeado e coordenado com os EUA, tendo Israel recebido carta branca para atingir objectivos e ensaiar tácticas que poderão ser úteis aos EUA num eventual ataque ao Irão(1).
A ligação entre os dois países tornou-se particularmente intima durante a presidência de Reagan, no rescaldo da crise do petróleo e da revolução islâmica no Irão. Israel tem liderado, desde 1976, a lista de países beneficiando de apoio financeiro e militar dos EUA e, desde 1949, os EUA terão oferecido mais de USD$108 mil milhões em apoio financeiro directo a Israel(2): anualmente cerca de um quinto do apoio externo directo dos EUA, ou USD$500 por cidadão Israelita. Isto para um país com o PIB per capita equivalente ao da Espanha ou Correia do Sul.
As economias dos dois países estão também cada vez mais interligadas. Nos anos 90, a economia de Israel sofreu um processo de concentração de capital e uma crescente transnacionalização. Em 2005, Israel ultrapassou o Canada e tornou-se o segundo país em número de empresas cotadas no NASDAQ da bolsa de Nova Yorque(3). Entre 1999-2004, as oscilações da bolsa de Tel-Aviv foram altamente correlacionadas com as do NASDAQ(4) (87%), isto é, a bolsa foi mais influenciada pela «nova economia global» do que pelo andamento do processo de paz ou a Intifada. Num sinal de confiança na economia Israelita, recentemente, Warren Buffett, investidor norte-americano e a segunda pessoa mais rica do mundo, comprou 80% da Iscar, uma companhia Israelita que produz equipamento industrial, um investimento de USD$4 mil milhões.

Diplomacia de mãos dadas

A cumplicidade entre os dois países estende-se à esfera diplomática. Desde 1982, os EUA vetaram 32 resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas censurando Israel, um número que excede o somatório de vetos dos restantes membros do CS. Por seu lado, Israel tem sido muitas vezes o voto solitário apoiando os EUA. Por exemplo, desde 1992, todos os anos é apresentada uma resolução à Assembleia Geral da ONU apelando ao fim do embargo dos EUA contra Cuba. Israel tem sido o único país que consecutivamente tem votado ao lado dos EUA contra a resolução.
Nos EUA, a intimidade entre os dois países é justificada pela sobreposição de interesses estratégicos. Contudo, a opressão do povo Palestino é um dos factores unanimemente reclamado pelo mundo árabe como factor de desestabilização regional, dificultando assim as relações dos EUA com os membros Árabes da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP). E Israel nem sempre é o aliado leal, ignorando apelos dos EUA para suspender a construção de colonatos, vendendo tecnologia militar à China, ou conduzindo uma intensa operação de espionagem contra os EUA. Ainda este ano, o Cor. Larry Franklin da Força Aérea dos EUA foi condenado por ter passado inteligência a Israel sobre a política dos EUA contra o Irão.
Vários artigos publicados este ano argumentam que o apoio incondicional dos EUA a Israel, contra o interesse nacional dos EUA se deve à força do lobby Israelita(5). A organização mais poderosa deste lobby, a AIPAC(6), foi eleita como o segundo lobby mais influente de Washington. Através de contribuições financeiras nas corridas eleitorais, mais de USD$42 milhões para candidatos ao Congresso desde 1978(7), estas organizações têm logrado travar qualquer debate no Congresso que insinue ser crítico a Israel. Organizações como a AIPAC, JINSA(8) e a CoP(9) não representam a maioria dos judeus nos EUA, favoráveis ao processo de paz e a «concessões» ao Palestinianos, mas antes a ala expansionista do partido de direita Likud. O lobby pró-Israel é composto não apenas por organizações de raiz judaica: o recém-formado Cristãos Unidos por Israel, representa um sionismo cristão que pretende rivalizar com o protagonizado pela AIPAC e tem já grande crédito no Congresso e na Casa Branca, tendo com sucesso influenciado esta administração a ter uma postura de confronto com o Irão, recusar apoio aos Palestinianos e dar carta branca a Israel no seu ataque ao Líbano. Para esta corrente evangelista, no qual se pode incluir o Presidente Bush, os conflitos no Médio Oriente são um sinal do fim dos dias e da aproximação do arrebatamento. Acolhem assim com alegria e fervor religioso a destruição e a morte de inocentes.
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(1) Seymour Hersh, New Yorker 21 de Agosto de 2006 http://www.newyorker.com/printables/fact/060821fa_fact
(2) Washington Report on Middel East Affairs http://www.washington-report.org/
(3) http://www.ishitech.co.il/1105ar5.htm
(4) http://bnarchives.yorku.ca/20/01/040701BN_Israel_Global_Capitalism.pdf
(5) John Mearsheimer e Stephen Walt, London Review of Books, vol. 28 no.6; Michael Massing, New York Review of Books, vol. 53, no.10; Katheleen e Bill Christison, Counterpunch.org, Junho 16/18 2006;
(6) American Israel Public Affairs Committee
(7) http://www.washington-report.org/archives/May-June_2006/0605031.html
(8) Jewish Institute for National Security Affairs
(9) Conference of Presidents of Major American Jewish Organizations


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