Israel bombardeia Líbano e asfixia Gaza

Guerra alastra no Médio Oriente

Israel lançou uma ofensiva militar de grande escala contra o Líbano, campanha que se junta à iniciada na Faixa de Gaza ameaçando alastrar o conflito a todo o Médio Oriente.

«Beirute está envolta numa coluna de fumo negro»

A agressão israelita iniciou-se a meio da semana passada sob o pretexto de travar os ataques do Hezbolah, mas os alvos atingidos pelo exército vão muito para além das instalações que o movimento mantém no território.
O aeroporto internacional Rafik al-Hariri, em Beirute, está completamente inutilizado, situação que dificulta a entrada de ajuda humanitária no país e obriga os muitos milhares de pessoas que fogem dos bombardeamentos a utilizarem outros meios de transporte para chegarem à Síria ou ao Chipre. Estima-se que entre estrangeiros e libaneses, o número de foragidos ultrapasse já os 15 mil. Os géneros de primeira necessidade começam a dar os primeiros sinais de escassez ao fim de pouco mais de uma semana de guerra no país dos cedros. Beirute está envolta numa coluna de fumo negro.
Para além da capital libanesa, outras cidades como Tripoli, Baalbeck, Talet, Jounieh ou Anchit estão debaixo da mira da aviação e da marinha israelitas, situação que contradiz as informações que davam conta de um assalto restrito na zona fronteiriça do Sul. Os alvos são todo o tipo de infra-estruturas que permitam ao Líbano responder aos ataques. Pontes destruídas são mais de duas dezenas. Estradas, depósitos de água potável, reservatórios de combustível, portos marítimos, bases militares e posições do exército libanês.
O número de mortos ultrapassa já os 200, a esmagadora maioria dos quais civis atingidos em zonas residenciais de Beirute ou que circulavam na principal via de acesso ao Norte, a estrada que chega a Damasco, capital da vizinha Síria.
Com o recrudescimento dos bombardeamentos, na madrugada de domingo, as incursões aéreas lançaram uma chuva de mísseis. O governo de coligação entre o Kadima e o Partido Trabalhista, liderado por Ehud Olmert, já fez saber que não pretende abrandar o tom da agressão.
O Hezbolah responde lançando foguetes contra Haifa, cidade industrial de Israel, mas a proporção de forças é extremamente desvantajosa. O exército libanês também procura responder usando baterias antiaéreas, mas a solução do governo de Beirute não passa pela enfrentamento militar, privilegia sobretudo o estabelecimento imediato de um cessar-fogo e a busca de uma solução negociada para a crise.

Império aproveita boleia

Entretanto, em São Petersburgo, os líderes dos G8 condenaram o Hezbolah pelo reacendimento de um conflito praticamente sem incidentes graves nos últimos 20 anos. Bush envolveu a Síria na questão e afirmou que cabe ao país «convencer» o Hezbolah a cessar o lançamento de roquetes contra Israel. Neste contexto, Blair foi ainda mais longe e falou no envio de uma força internacional de interposição, medida que, a ser adoptada, corresponde aos anseios britânicos e norte-americanos de colocarem naquela zona do Médio Oriente um contingente militar significativo, hipótese tentada, aliás, quando o ex-primeiro-ministro libanês, Rafik al-Hariri, foi assassinado, caso de contornos pouco claros que Londres e Washington aproveitaram para pedir responsabilidades à Síria.
Sexta-feira da semana passada, o CS da ONU discutiu a situação no Líbano, mas por intransigência dos EUA não aprovou nenhuma moção condenatória contra Israel.

Gaza sob fogo

No outro vector da guerra encontra-se a Faixa de Gaza, território que já vai em mais de três semanas de bombardeamentos, raptos de políticos, assassínios selectivos e incursões israelitas.
No sábado, a força aérea de Telavive bombardeou o ministério da Economia palestiniano e o bairro residencial de Sudania. Ainda na cidade de Gaza, outro ataque, segunda-feira, arrasou com o que restava do ministério dos Negócios Estrangeiros deixando em escombros vários prédios à volta do complexo governamental.
De acordo com a rádio Voz da Palestina, desde o início dos ataques a Gaza já perderam a vida cerca de cem palestinianos. Em 20 dias, Israel disparou 345 mísseis contra o território e centenas de obuses de artilharia.
A contrastar com a agressividade do governo, milhares de israelitas manifestaram-se domingo em Telavive a favor do fim da violência. O protesto foi acompanhado por outro semelhante ocorrido na cidade palestiniana de Jenin, no qual participaram crianças e jovens, principais vítimas da escalada da guerra.

Armas químicas atingem civis

O ministério da Saúde palestiniano pediu às organizações humanitárias que enviem equipas para Gaza. Em causa está a suspeita de que Israel estará a usar armas químicas contra a população. Fontes médicas revelaram que muitos dos feridos apresentam reacções estranhas aos estilhaços das bombas. Em redor das feridas abertas o corpo não reage aos tratamentos e, quando se observam vestígios de uma «película de pó», o efeito alastra até destruir os tecidos exteriores e os órgão do paciente. Os fragmentos das bombas revelam ainda a presença de substâncias tóxicas e radioactivas, afirmam.

Médio Oriente
Travar escalada criminosa

As acções desencadeadas na semana passada por Israel contra o Líbano, com o bombardeamento de alvos civis e o elevado número de vítimas, nomeadamente crianças, em Beirute e noutras localidades do Sul do país, estão a causar profunda preocupação aos comunistas.
Em nota à comunicação social, divulgada na passada sexta-feira, o Secretariado do Comité Central atribui aquele comportamento de Israel à impunidade de que continua a gozar apesar das violentas acções militares desencadeadas nos últimos dias em Gaza e na Cisjordânia contra o povo palestiniano, o que o «encoraja» a prosseguir e intensificar a sua política terrorista, «em aliança com o imperialismo».
É necessário, adverte o PCP, «pôr imediatamente termo a esta escalada criminosa que está a provocar inúmeras vítimas e incontáveis sofrimentos e a arrastar toda a região do Médio Oriente para um conflito de ainda mais vastas e perigosas proporções». Assim como é necessário «condenar, sem reservas, as brutais acções de “retaliação” e “castigo” de populações inteiras» e o «espezinhamento dos mais elementares direitos humanos» que Israel está a perpetrar, à revelia do direito internacional e dos princípios da Carta das Nações Unidas. Aliás, para o PCP, «o silêncio e a cumplicidade» da União Europeia e da ONU face a estes crimes é não só «inaceitável» como «constitui um autêntico insulto à dignidade humana».
O PCP condena «firmemente» a agressão de Israel no Líbano, «tal como o faz em relação aos crimes sionistas na Palestina», e exige do Governo português que rejeite de forma clara esta «escalada de agressão e guerra» e defenda o direito internacional, a paz e a soberania dos povos. Entretanto, lembra, para uma paz justa e duradoura no Médio Oriente é «condição indispensável» a retirada de Israel de todos os territórios ocupados em 1967 e o cumprimento das resoluções da ONU sobre o direito do povo palestiniano ao seu próprio Estado independente e soberano.
Por fim, os comunistas expressam a sua solidariedade ao Partido Comunista Libanês, às forças patrióticas e progressistas e ao povo do Líbano, confiando em que, mais uma vez, «resistirão à agressão e salvaguardarão a independência e unidade territorial do seu país». Ao mesmo tempo, apela aos portugueses para que, também eles, «façam ouvir a sua voz solidária para com os povos do Líbano e da Palestina vítimas das continuadas e cruéis agressões sionistas».


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