A fibra do povo de Timor
No vasto teatro de operações das «guerras do petróleo» abriu-se uma nova frente, desta vez na massacrada ilha de Timor. Ao que segredam os fabricantes de opinião ocidentais, as raízes deste novo molho de problemas mergulham quer na incapacidade política do governo do jovem estado quer nas graves divisões internas dos partidos políticos que a independência permitiu prematuramente quer, em alternativa, nos ódios ancestrais que opõem grupos étnicos rivais. Este discurso vazio é bem conhecido de todos e situa-se na linha tradicional das filosofias do imperialismo. Os velhos pioneiros do nazi-fascismo, do corporativismo ou do franquismo, diziam precisamente o mesmo em relação às lutas de libertação antifascistas.
As notícias sobre o que se está a passar não abundam nos jornais mas chegam para se perceber que as raízes da situação em Timor são bem diferentes daquelas que a contra-informação capitalista procura fazer aceitar. Trata-se, na realidade, de uma nova agressão a Timor Lorosae, a partir de bases militares situadas na Austrália; tal como, anteriormente, os invasores partiam de bases na Indonésia. Os objectivos principais da ocupação que agora se desenha são de ordem económica (o petróleo) e militar (a posição da ilha de Timor na rota dos futuros pipelines para a China e para a Índia).
Assim, a vasta manobra das grandes petrolíferas e das poderosas alianças militares obtém, como sempre, uma correspondente «blindagem» mediática. As regras do encobrimento funcionam automaticamente. O papel central do petróleo é apagado pela diabolização política de uma só pessoa (neste caso, Mari Alkatiri). Os verdadeiros objectivos da invasão encobrem-se com os mitos da tese humanitária (necessidade de repor a ordem pública e de socorrer as populações). Toda a verdade é manipulada ou suprimida.
Sabe-se que, tempos atrás, Alkatiri conduziu as negociações com os australianos acerca dos direitos à exploração do petróleo no Mar de Timor. O acordo, altamente favorável aos interesses do Estado timorense (90% das receitas para Timor, 10% para a Austrália) viria a concluir-se levantando, porém, de imediato, reacções muito negativas entre os grupos dirigentes australianos. Logo depois outros contratos foram a concurso, num total de 11 blocos de áreas de exploração. A ENI italiana e a Reliance Industries da União Indiana, venceram em seis desses dossiers. Os grandes derrotados foram a GALP portuguesa, a PETROBRÁS brasileira e os malaios da PETRONAS. Os grupos adjudicatários ficaram obrigados a celebrar, a nível de cada bloco, contratos de partilha com a República de Timor. É à luz destes dados que devem ser julgadas as declarações do «ultra» primeiro-ministro australiano quando afirmou que «a política do Estado de Timor está a ser mal conduzida, impondo-se a sua imediata mudança. Caso tal não aconteça, Timor será um Estado falhado».
Foi a luz verde para a invasão. Começaram a estoirar as primeiras desordens, com incêndios e assassinatos, bandos de jovens treinados na guerrilha urbana coordenados com a intervenção de ex-militares fortemente equipados com armas modernas, ligeiras e pesadas. Ao largo de Díli navegavam fragatas australianas de transporte de tropas. Portugal, a Austrália e a Malásia (os Estados onde estavam registados os interesses dos grupos económicos prejudicados nos concursos públicos do gás e do petróleo) anunciaram o envio imediato de corpos bélicos com fins humanitários. Ao mesmo tempo, o bispo católico de Baucau, rompendo o silêncio oficial da Igreja, lançou duros ataques a Alkatiri. Horas depois, D. Ximenes Belo, bispo de Díli, assumiria idênticas posições. Foi anunciado que colunas civis, desarmadas, marchariam sobre a capital para exigirem a demissão de Alkatiri. «Xanana Gusmão é a grande referência da Igreja », proclamaram os bispos timorenses.
O filme dos acontecimentos
«Bom católico» marcado pelos seminários, Xanana Gusmão fez justamente aquilo que o vizinho australiano pretendia. Apelou à entrada de forças estrangeiras e abriu uma crise política grave com o primeiro-ministro Alkatiri. Em seguida provocou, praticamente, a demissão dos ministros da Defesa e do Interior cujos poderes entregou a Ramos-Horta, agora titular dos três ministérios. Ora, como é público, Ramos-Horta continua a ser «um homem do petróleo», membro da poderosa Maçonaria norte-americana, da Trilateral, de Davos e de Bilderberg, negociador activo dos petróleos de S. Tomé e Príncipe, etc., etc...
A situação política de Alkatiri é evidentemente muito frágil. Mas conta com o apoio do seu partido – a FRETILIN – e com a fibra do povo de Timor que jamais se curvou ao ocupante ou às alianças entre o cifrão, a cruz e a espada.
As notícias sobre o que se está a passar não abundam nos jornais mas chegam para se perceber que as raízes da situação em Timor são bem diferentes daquelas que a contra-informação capitalista procura fazer aceitar. Trata-se, na realidade, de uma nova agressão a Timor Lorosae, a partir de bases militares situadas na Austrália; tal como, anteriormente, os invasores partiam de bases na Indonésia. Os objectivos principais da ocupação que agora se desenha são de ordem económica (o petróleo) e militar (a posição da ilha de Timor na rota dos futuros pipelines para a China e para a Índia).
Assim, a vasta manobra das grandes petrolíferas e das poderosas alianças militares obtém, como sempre, uma correspondente «blindagem» mediática. As regras do encobrimento funcionam automaticamente. O papel central do petróleo é apagado pela diabolização política de uma só pessoa (neste caso, Mari Alkatiri). Os verdadeiros objectivos da invasão encobrem-se com os mitos da tese humanitária (necessidade de repor a ordem pública e de socorrer as populações). Toda a verdade é manipulada ou suprimida.
Sabe-se que, tempos atrás, Alkatiri conduziu as negociações com os australianos acerca dos direitos à exploração do petróleo no Mar de Timor. O acordo, altamente favorável aos interesses do Estado timorense (90% das receitas para Timor, 10% para a Austrália) viria a concluir-se levantando, porém, de imediato, reacções muito negativas entre os grupos dirigentes australianos. Logo depois outros contratos foram a concurso, num total de 11 blocos de áreas de exploração. A ENI italiana e a Reliance Industries da União Indiana, venceram em seis desses dossiers. Os grandes derrotados foram a GALP portuguesa, a PETROBRÁS brasileira e os malaios da PETRONAS. Os grupos adjudicatários ficaram obrigados a celebrar, a nível de cada bloco, contratos de partilha com a República de Timor. É à luz destes dados que devem ser julgadas as declarações do «ultra» primeiro-ministro australiano quando afirmou que «a política do Estado de Timor está a ser mal conduzida, impondo-se a sua imediata mudança. Caso tal não aconteça, Timor será um Estado falhado».
Foi a luz verde para a invasão. Começaram a estoirar as primeiras desordens, com incêndios e assassinatos, bandos de jovens treinados na guerrilha urbana coordenados com a intervenção de ex-militares fortemente equipados com armas modernas, ligeiras e pesadas. Ao largo de Díli navegavam fragatas australianas de transporte de tropas. Portugal, a Austrália e a Malásia (os Estados onde estavam registados os interesses dos grupos económicos prejudicados nos concursos públicos do gás e do petróleo) anunciaram o envio imediato de corpos bélicos com fins humanitários. Ao mesmo tempo, o bispo católico de Baucau, rompendo o silêncio oficial da Igreja, lançou duros ataques a Alkatiri. Horas depois, D. Ximenes Belo, bispo de Díli, assumiria idênticas posições. Foi anunciado que colunas civis, desarmadas, marchariam sobre a capital para exigirem a demissão de Alkatiri. «Xanana Gusmão é a grande referência da Igreja », proclamaram os bispos timorenses.
O filme dos acontecimentos
«Bom católico» marcado pelos seminários, Xanana Gusmão fez justamente aquilo que o vizinho australiano pretendia. Apelou à entrada de forças estrangeiras e abriu uma crise política grave com o primeiro-ministro Alkatiri. Em seguida provocou, praticamente, a demissão dos ministros da Defesa e do Interior cujos poderes entregou a Ramos-Horta, agora titular dos três ministérios. Ora, como é público, Ramos-Horta continua a ser «um homem do petróleo», membro da poderosa Maçonaria norte-americana, da Trilateral, de Davos e de Bilderberg, negociador activo dos petróleos de S. Tomé e Príncipe, etc., etc...
A situação política de Alkatiri é evidentemente muito frágil. Mas conta com o apoio do seu partido – a FRETILIN – e com a fibra do povo de Timor que jamais se curvou ao ocupante ou às alianças entre o cifrão, a cruz e a espada.