JCP 8º Congresso
Jerónimo de Sousa

«Temos ideias, projecto e convicções justas»

«A vida está hoje, sem dúvida, mais difícil para os jovens, cujos direitos estão a ser paulatinamente postos em causa pelas políticas de direita e pelo projecto neoliberal do Estado mínimo e de ataque às funções do Estado», afirmou Jerónimo de Sousa no encerramento do Congresso da JCP, dando como exemplo a discriminação dos jovens no acesso ao subsídio de desemprego, nas prestações sociais, como o abono de família e as novas propostas do Governo em relação à segurança social.
«É uma falácia e um embuste o discurso em voga que diz que é necessário retirar direitos aos trabalhadores, aos actuais trabalhadores no activo para garantir o futuro dos jovens», sublinhou o líder do PCP, defendendo que o Governo pretende criar uma nova geração de trabalhadores sem direitos, «não por razões de sadismo ou maldade, mas por razões de interesses de classe antagónicos com a existência e efectivação de direitos sociais avançados».
«A obsessão pelo défice desencadeou a maior ofensiva contra a escola pública, os professores e os direitos mais elementares dos alunos, como a igualdade de oportunidades e o sucesso escolar. A crescente mercantilização da educação e de desresponsabilização do Estado tem levado ao crescimento das despesas com a educação em todos os graus de ensino. Entre 1999 e 2004, os custos suportados pelas famílias aumentaram 42 por cento e com o Governo do PS conheceu um novo agravamento», recordou.
Em relação ao ensino superior, «o brutal aumento das propinas e a manutenção do numerus clausus constituem o caminho para crescente elitização da educação. Com a implementação do “Processo de Bolonha” pretende-se ajustar o ensino superior aos interesses do grande capital e dar um novo salto na elitização do ensino, com as famílias de mais posses económicas a garantir o acesso aos mais elevados graus de formação. A excelência do conhecimento – de que tanto se fala com a implementação de “Bolonha” – só estará ao alcance dos países mais ricos, enquanto os outros, como Portugal, ficarão confinados a um lugar periférico no chamado espaço europeu de ensino superior, como fornecedor de mão-de-obra qualificada e barata.»
«A crise do sistema educativo – cujas consequências são os elevados índices de abandono e insucesso escolares e cujas principais causas radicam nas dificuldades económicas das famílias e na falta de preparação dos pais para acompanharem os filhos – contínua sem resposta satisfatória. As principais preocupações do Governo foram dirigidas para o sistema de avaliação, com a imposição dos exames e testes nacionais (em vez de uma justa avaliação contínua) e para a criação de condições para a elitização do ensino, dando curso aos interesses e pretensões conservadoras que pretendem canalizar para o ensino profissional os filhos dos trabalhadores, não em função das capacidades e inteligência, mas em conformidade com a capacidade financeira. Na verdade a educação é cada vez mais um privilégio de quem a pode pagar», denunciou.

Um projecto revolucionário

«Alguns alimentam a esperança de nos verem desanimados, abandonando objectivos e ideais, deixando cair o sonho, o projecto político, a acção revolucionária. Desenganem-se. E se têm dúvidas acerca do futuro do nosso Partido, deviam vir aqui e ver o pulsar da JCP neste Congresso, os jovens que continuarão o Partido do futuro, o PCP», afirmou Jerónimo de Sousa.
Dirigindo-se aos congressistas e às delegações internacionais – os «representantes das novas gerações continuadoras do sonho de emancipação dos trabalhadores e dos povos» –, o dirigente comunista declarou que estes «tomam em mãos a responsabilidade de resistir ao imperialismo, à guerra e à exploração e assumem a tarefa de prosseguir a luta pela construção de um mundo novo, rumo ao socialismo. Em situações e condições de luta muito díspares, os desafios que todos tendes pela frente são de extrema complexidade e exigência.»
«O vosso congresso reafirmou a identidade comunista da JCP, como uma verdadeira organização revolucionária de juventude ligada às massas juvenis em defesa dos seus interesses. Mais do que nunca a situação internacional evidencia a necessidade do reforço e intervenção dos partidos comunistas, com a sua autonomia política, ideológica e orgânica, intimamente ligados às massas populares. Partidos comunistas que apontem aos trabalhadores e aos povos em luta a alternativa do socialismo e assumam no plano nacional e internacional uma crescente intervenção na luta das ideias, combatendo o conformismo e o derrotismo e imprimindo confiança e determinação aos trabalhadores, aos povos e à sua luta», defendeu.
Para Jerónimo de Sousa, «o papel das organizações de juventude comunistas e progressistas é cada vez mais importante», sendo «determinante para ultrapassar dificuldades e insuficiências que ainda se registam na dinamização da frente anti-imperialista e do movimento comunista e revolucionário internacional». «Os jovens comunistas portugueses têm sabido interpretar bem esta responsabilidade e é com grande orgulho que o PCP tem acompanhado a intervenção dedicada da JCP no reforço do movimento juvenil anti-imperialista mundial, assumindo nomeadamente elevadas responsabilidades no seio da Federação Mundial da Juventude Democrática», declarou..
«A FMJD e o movimento dos Festivais mundiais demonstram, por um lado, a importância do envolvimento das camadas jovens na luta contra o imperialismo e, por outro, as potencialidades do reforço da cooperação das forças progressistas a nível internacional, procurando valorizar o muito que nos une e direccionando a acção em torno de objectivos concretos de luta.»
«Não esquecendo o princípio fundamental de que é com a nossa intervenção e luta no seio do nosso povo e com o reforço do nosso Partido e da JCP que melhor podemos contribuir para o reforço da luta no plano internacional, assumimos aqui o compromisso de continuar a cumprir com os nossos deveres internacionalistas cientes das nossas responsabilidades no plano internacional e da importância crescente que a solidariedade e a cooperação assumem na resposta dos comunistas e dos povos à ofensiva global do imperialismo», afirmou.
«Realizastes um grande Congresso, na sua preparação, discussão e deliberações. Estais mais fortes, mais preparados para ir onde pulsa a vida, os problemas, as aspirações, onde pulsa o sonho sempre mais avançado que a realidade, na empresa, local de trabalho, escola, universidade, movimento sindical e associativo, junto da juventude e do povo», considerou.
«O objectivo expresso no vosso lema é possível, pela justeza do projecto que vos anima mas a exigir determinação, confiança e muita luta. A exigir que não sejam só protagonistas do futuro, mas obreiros neste presente difícil, complexo, carregado de perigos, mas também de potencialidades. Lenine afirmava que as revoluções se fazem com organização, mas também com corações ardentes! Reforcemos a organização, mantenham esses corações ardentes, com aquela imensa alegria de viver que vos caracteriza, mesmo quando o vento cortante vos fustiga o rosto! Mesmo quando sentimos a incerteza e a insegurança! Temos ideias, projecto e convicções justas e bastantes para acreditar que é possível uma vida melhor, num mundo mais justo, mais pacífico e solidário», salientou.


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