Pirâmides, cascatas e carrosséis
Por toda a parte, no mundo dos negócios, explodem os grandes escândalos financeiros. É necessário tê-los em atenção mas reconhecendo que eles se apresentam à opinião ocidental com os traços efémeros que caracterizam também a popularidade das vedetas do cinema ou do futebol: tão depressa atraem as atenções como logo são esquecidos. Com uma diferença essencial, no caso da fraude financeira. Tem natureza de cometa mas, ao desaparecer no horizonte, deixa um rasto de miséria, de ruína das pequenas economias, de falências e extinção de postos de trabalho e de angústias. No pólo oposto, os saques empresariais geram na economia global a rápida concentração e fusão do capital, o aumento do fosso entre pobres e ricos e o recurso às múltiplas formas de corrupção que são a regra de oiro das economias subterrâneas e promovem o contrabando, o tráfico de divisas e de influências, as actividades milionárias do comércio das armas, das drogas, da prostituição e da exploração infantil. Numa sociedade capitalista, todos estes factores coexistem e se cruzam entre si. Aliás, é sobre eles que os barões do capital e os dementados tecnocratas tentam construir as suas desacreditadas Aldeias Globais.
Recentemente veio à baila o caso do «escândalo dos selos». Nada que não seja habitual no mundo da especulação e do dinheiro. O roubo é a trave-mestra do capitalismo. As estratégias usadas, neste caso da Afinsa, nem sequer são originais. A verdade é que todas as instituições financeiras do neocapitalismo, laicas ou confessionais, as praticam normalmente. É um caso mais, que em breve será esquecido. Basta olhar-se para os grandes escândalos de recente memória, como os do Banco Ambrosiano, da Rumasa, do Banesto, do Banco de Espanha, dos americanos da Enron, dos franceses da Matra e da Vivendi, dos italianos da Parmalat, etc., etc. Em todas estas fraudes, a culpa morreu solteira. E foram roubos de biliões! Comparativamente, o caso da Afinsa, nem sequer parece atingir grandes proporções. Nele interessa, todavia, considerar alguns pequenos detalhes que as notícias referem.
Por exemplo, quanto à capa com que os burlões, como sempre acontece, se procuram proteger. Há uma nuvem espessa de palavras
lançadas aos quatro ventos: pirâmides, cascatas, carrosséis, espirais, vazios legais, offshores, bens tangíveis e não tangíveis, etc. O Estado espanhol, onde a sede da Afinsa se situa, diz que pouco pode fazer visto existir, nestes casos, um vazio legal. O mesmo que foi dito, na década de 90, pelos governos espanhóis, quando foram conhecidas as retumbantes fraudes financeiras de Mário Conde e de Ruiz Mateos. Vinte anos mais tarde, mantém-se o mesmo vazio.
Em Portugal, há idêntico cenário. Quando foram descobertas as ilegalidades da Afinsa, o ministro das Finanças procurou tranquilizar os lesados dizendo que neste ramo de negócio tudo era rigorosamente controlado pelas instituições competentes, o Banco de Portugal e a Comissão de Valores Mobiliários. No mesmo dia, o Banco de Portugal desmentiu o ministro. Nessa área não existem instrumentos legais de intervenção. Apesar das burlas financeiras atingirem, no país, mais de 800 milhões de euros por ano. Uma semana após as detenções em Espanha, as filiais portuguesas da Afinsa continuavam a movimentar livremente as suas contas bancárias!...
Os três pilares da corrupção
Os técnicos do fisco e das finanças falam da pirâmide como de um método criminoso de burla sistematizada. Os burlões atraem os papalvos, prometem mundos e fundos e depois fazem desaparecer para destino incerto o dinheiro dos pequenos accionistas. Mas esquecem, os tais técnicos, que não podem criminalizar os burlões privados e absolver um sistema capitalista que se organiza, justamente, em pirâmide. É o caso dos lobbies, dos grupos financeiros, das holdings e sub-holdings, dos nichos ou clusters, etc. Enquanto existir o aparelho saqueador da globalização, a corrupção continuará a alastrar.
Isto também é verdade em relação à Igreja, grande cultora do sistema em pirâmide. São às centenas os casos em que os capitais eclesiásticos surgem ligados aos grandes crimes de corrupção. Lembremo-nos de Mário Conde, o conhecido «banqueiro de Deus»; das alianças do Banco do Vaticano com as mafias do crime; dos interesses do clero nos escândalos imobiliários espanhóis; ou na forma permanente como grandes grupos financeiros ligados à Igreja (J.P.Morgan – «o Banco do Vaticano na USA» - Citigroup, Crédit Franco-Lyonnais, Compagnie des Eaux, Televisão do Luxemburgo, etc.) surgem baralhados com fraudes escaldantes.
A corrupção mundial apoia-se em três pilares: o poder económico, o poder político e o poder religioso. Sem sombra de ilusões.
Recentemente veio à baila o caso do «escândalo dos selos». Nada que não seja habitual no mundo da especulação e do dinheiro. O roubo é a trave-mestra do capitalismo. As estratégias usadas, neste caso da Afinsa, nem sequer são originais. A verdade é que todas as instituições financeiras do neocapitalismo, laicas ou confessionais, as praticam normalmente. É um caso mais, que em breve será esquecido. Basta olhar-se para os grandes escândalos de recente memória, como os do Banco Ambrosiano, da Rumasa, do Banesto, do Banco de Espanha, dos americanos da Enron, dos franceses da Matra e da Vivendi, dos italianos da Parmalat, etc., etc. Em todas estas fraudes, a culpa morreu solteira. E foram roubos de biliões! Comparativamente, o caso da Afinsa, nem sequer parece atingir grandes proporções. Nele interessa, todavia, considerar alguns pequenos detalhes que as notícias referem.
Por exemplo, quanto à capa com que os burlões, como sempre acontece, se procuram proteger. Há uma nuvem espessa de palavras
lançadas aos quatro ventos: pirâmides, cascatas, carrosséis, espirais, vazios legais, offshores, bens tangíveis e não tangíveis, etc. O Estado espanhol, onde a sede da Afinsa se situa, diz que pouco pode fazer visto existir, nestes casos, um vazio legal. O mesmo que foi dito, na década de 90, pelos governos espanhóis, quando foram conhecidas as retumbantes fraudes financeiras de Mário Conde e de Ruiz Mateos. Vinte anos mais tarde, mantém-se o mesmo vazio.
Em Portugal, há idêntico cenário. Quando foram descobertas as ilegalidades da Afinsa, o ministro das Finanças procurou tranquilizar os lesados dizendo que neste ramo de negócio tudo era rigorosamente controlado pelas instituições competentes, o Banco de Portugal e a Comissão de Valores Mobiliários. No mesmo dia, o Banco de Portugal desmentiu o ministro. Nessa área não existem instrumentos legais de intervenção. Apesar das burlas financeiras atingirem, no país, mais de 800 milhões de euros por ano. Uma semana após as detenções em Espanha, as filiais portuguesas da Afinsa continuavam a movimentar livremente as suas contas bancárias!...
Os três pilares da corrupção
Os técnicos do fisco e das finanças falam da pirâmide como de um método criminoso de burla sistematizada. Os burlões atraem os papalvos, prometem mundos e fundos e depois fazem desaparecer para destino incerto o dinheiro dos pequenos accionistas. Mas esquecem, os tais técnicos, que não podem criminalizar os burlões privados e absolver um sistema capitalista que se organiza, justamente, em pirâmide. É o caso dos lobbies, dos grupos financeiros, das holdings e sub-holdings, dos nichos ou clusters, etc. Enquanto existir o aparelho saqueador da globalização, a corrupção continuará a alastrar.
Isto também é verdade em relação à Igreja, grande cultora do sistema em pirâmide. São às centenas os casos em que os capitais eclesiásticos surgem ligados aos grandes crimes de corrupção. Lembremo-nos de Mário Conde, o conhecido «banqueiro de Deus»; das alianças do Banco do Vaticano com as mafias do crime; dos interesses do clero nos escândalos imobiliários espanhóis; ou na forma permanente como grandes grupos financeiros ligados à Igreja (J.P.Morgan – «o Banco do Vaticano na USA» - Citigroup, Crédit Franco-Lyonnais, Compagnie des Eaux, Televisão do Luxemburgo, etc.) surgem baralhados com fraudes escaldantes.
A corrupção mundial apoia-se em três pilares: o poder económico, o poder político e o poder religioso. Sem sombra de ilusões.