A patranha tecnológica
Os patrões não querem trabalhadores velhos em actividade nas suas empresas. Até aos 65 anos, que remédio, está na lei! Vão maximizando o seu despedimento antes deles atingiram essa idade. O governo que lhes pague o subsídio de desemprego. E, se os descontos para a Segurança Social não chegarem, vão buscar o necessário ao bolo dos impostos ou reduzam as despesas com as pensões - patronato a pensar mas a não dizer, pelo menos em público, pelo menos perante o Povo.
Os sindicatos também não estão de acordo com a vontade do Governo em adiar a idade da reforma. Assim rezavam os media por um destes dias. Será com a intenção - lá estou eu a ajuizar das intenções! - de ficar a ideia de que os sindicatos estão a defender o lazer e a preguiça dos trabalhadores ainda em idade razoável para viajarem para os trópicos, viverem em hotéis de luxo, jogarem em casinos, andarem em cruzeiros, eu sei lá que mais?
Ou será que - seguindo o tipo de raciocínios do bloco de apoiantes das actuais políticas -, agarrados a ideias do passado, fixistas, antiglobalização, proteccionistas, os sindicatos estão com medo de que, sendo adiada a idade da reforma, os trabalhadores tenham que estar desempregados mais tempo em fim de carreira, que lhes cortem substancialmente os «privilégios» de boas pensões, etc.?
Ou será ainda que os patrões estão ansiosos pela saída das gerações de trabalhadores «caros» (?), como seriam os das últimas décadas, habituados a acordos colectivos, a serem defendidos por sindicatos, e pela sua substituição por uma legião de novos trabalhadores mais controlável, mais descartável, até porque evoluindo numa base ambiente de grande exército de reserva? Pela saída de trabalhadores, que não podendo ser facilmente despedidos, para ali estariam sem fazer nada e sem medo de nenhum chicote, para mais a desencaminharem os novos que vão entrando no mundo do trabalho?
Bom, na verdade as razões que são dadas são outras. Que os velhos - basicamente a partir dos 65 - são menos produtivos. Que estes velhos não estão abertos à mudança, à Inovação! Ah! Ah! Ah!
(Que «pratos» são estes indivíduos! Eu a lembrar-me de profissões altamente inovadoras, criativas, duras em termos de produtividade, como é a dos escritores, os quais, para além dos 65, para além dos 80, estão em grande forma. E não é apenas este ou aquela escritora. Podia dar outros exemplos, como os treinadores desportivos, ora vejam lá.)
Enfim, o teatro do costume, afixado nos media, cá para o pagode assistir. Só falta projectar aquele filme japonês do filho que leva o pai que é velho para a montanha para aí morrer e deixar de constituir um peso para a Sociedade. Visto por mim em 1970. Quem se atreveria a afirmar a sua desactualidade nesta Europa da Civilização e dos direitos, ou tortos, para todos?
Tudo isto, enquanto nas mesmas semanas do 25 de Abril e do 1.º de Maio, num país em que o Governo não baixa os braços que empunham o estandarte do Plano Tecnológico, um plano que resumiria todas as suas ambições de um futuro cantante para todos nós, que vemos nós? Que notícias sobre os nossos progressos nos chegam, quando se vai a caminho do ano e meio da sua tão benfazeja governação?
A notícia que li - veio publicada no Público de 3 de Maio - apareceu com o título «Portugal recua no ranking tecnológico». E destaca «défices na inovação, conhecimento e adopção de banda larga». Trata-se de um índice construído a partir de um total de 100 critérios que avalia «a capacidade dos países aproveitarem as oportunidades proporcionadas pelas TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação -, ou seja, a aptidão para retirar as vantagens económicas que a nova era digital oferece.» Pode-se discutir em que medida este índice reflecte o nível de desenvolvimento tecnológico - o articulista do Público, Mário Barros, até, de certa maneira o identifica com o e-Readiness do país (termo para militar que significa estado de prontidão «electronic»”) -, contudo, esta nova queda - que já é a quarta vez que se verifica - representa, pelo menos, uma prova da patranha tecnológica com que somos bombardeados todos os dias. Desta vez quem nos ultrapassou foram as Bermudas - destaca o articulista. Quem serão os próximos?
Será que a solução é deitar os velhos fora como os empresários parecem querer significar? Afinal, qual é a responsabilidade dos governantes e empresários no meio disto tudo? E dos amplificadores mediáticos? Até quando continuarão estes senhoritos a jogar à cabra cega connosco?
Os sindicatos também não estão de acordo com a vontade do Governo em adiar a idade da reforma. Assim rezavam os media por um destes dias. Será com a intenção - lá estou eu a ajuizar das intenções! - de ficar a ideia de que os sindicatos estão a defender o lazer e a preguiça dos trabalhadores ainda em idade razoável para viajarem para os trópicos, viverem em hotéis de luxo, jogarem em casinos, andarem em cruzeiros, eu sei lá que mais?
Ou será que - seguindo o tipo de raciocínios do bloco de apoiantes das actuais políticas -, agarrados a ideias do passado, fixistas, antiglobalização, proteccionistas, os sindicatos estão com medo de que, sendo adiada a idade da reforma, os trabalhadores tenham que estar desempregados mais tempo em fim de carreira, que lhes cortem substancialmente os «privilégios» de boas pensões, etc.?
Ou será ainda que os patrões estão ansiosos pela saída das gerações de trabalhadores «caros» (?), como seriam os das últimas décadas, habituados a acordos colectivos, a serem defendidos por sindicatos, e pela sua substituição por uma legião de novos trabalhadores mais controlável, mais descartável, até porque evoluindo numa base ambiente de grande exército de reserva? Pela saída de trabalhadores, que não podendo ser facilmente despedidos, para ali estariam sem fazer nada e sem medo de nenhum chicote, para mais a desencaminharem os novos que vão entrando no mundo do trabalho?
Bom, na verdade as razões que são dadas são outras. Que os velhos - basicamente a partir dos 65 - são menos produtivos. Que estes velhos não estão abertos à mudança, à Inovação! Ah! Ah! Ah!
(Que «pratos» são estes indivíduos! Eu a lembrar-me de profissões altamente inovadoras, criativas, duras em termos de produtividade, como é a dos escritores, os quais, para além dos 65, para além dos 80, estão em grande forma. E não é apenas este ou aquela escritora. Podia dar outros exemplos, como os treinadores desportivos, ora vejam lá.)
Enfim, o teatro do costume, afixado nos media, cá para o pagode assistir. Só falta projectar aquele filme japonês do filho que leva o pai que é velho para a montanha para aí morrer e deixar de constituir um peso para a Sociedade. Visto por mim em 1970. Quem se atreveria a afirmar a sua desactualidade nesta Europa da Civilização e dos direitos, ou tortos, para todos?
Tudo isto, enquanto nas mesmas semanas do 25 de Abril e do 1.º de Maio, num país em que o Governo não baixa os braços que empunham o estandarte do Plano Tecnológico, um plano que resumiria todas as suas ambições de um futuro cantante para todos nós, que vemos nós? Que notícias sobre os nossos progressos nos chegam, quando se vai a caminho do ano e meio da sua tão benfazeja governação?
A notícia que li - veio publicada no Público de 3 de Maio - apareceu com o título «Portugal recua no ranking tecnológico». E destaca «défices na inovação, conhecimento e adopção de banda larga». Trata-se de um índice construído a partir de um total de 100 critérios que avalia «a capacidade dos países aproveitarem as oportunidades proporcionadas pelas TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação -, ou seja, a aptidão para retirar as vantagens económicas que a nova era digital oferece.» Pode-se discutir em que medida este índice reflecte o nível de desenvolvimento tecnológico - o articulista do Público, Mário Barros, até, de certa maneira o identifica com o e-Readiness do país (termo para militar que significa estado de prontidão «electronic»”) -, contudo, esta nova queda - que já é a quarta vez que se verifica - representa, pelo menos, uma prova da patranha tecnológica com que somos bombardeados todos os dias. Desta vez quem nos ultrapassou foram as Bermudas - destaca o articulista. Quem serão os próximos?
Será que a solução é deitar os velhos fora como os empresários parecem querer significar? Afinal, qual é a responsabilidade dos governantes e empresários no meio disto tudo? E dos amplificadores mediáticos? Até quando continuarão estes senhoritos a jogar à cabra cega connosco?