Professores universitários rejeitam ataque ao Irão

Físicos contra a guerra

Trinta destacados físicos norte-americanos subscrevem um manifesto de rejeição a um ataque nuclear dos EUA contra o Irão. China e Rússia também condenam o uso da força.

«Os actuais arsenais nucleares têm um poder 200 mil vezes superior à energia usada contra Hiroshima»

Em carta enviada ao presidente George W. Bush e aos eleitos no Senado e na Câmara dos Representantes, os professores e investigadores universitários, entre os quais se encontram cinco laureados com o Prémio Nobel e três ex-presidentes da Sociedade Americana de Física, consideram que tal decisão é «altamente irresponsável» e pode ter «consequências desastrosas para a segurança dos EUA e para o mundo».
No documento, promovido pelo professor Jorge Hirsch - que no Outono passado dinamizou uma iniciativa semelhante quando o governo desclassificou as chamadas «mini-armas» nucleares e abriu a possibilidade da sua utilização em ataques «preventivos» -, os físicos sublinham que «o facto da administração Bush não ter negado a existência de um plano desta natureza constitui um motivo de grave preocupação» e apelam à «opinião pública para que se junte à exigência dos cientistas».
Caso o presidente Bush decida bombardear instalações energéticas em território iraniano, «o Tratado de Não-Proliferação Nuclear será seriamente colocado em causa na sequência do uso da força atómica por parte de uma nação que a detém contra outra que não possui», notam os signatários. Acresce, de acordo com o texto, o «aumento do risco dos conflitos regionais resultarem numa guerra nuclear global, com a consequente destruição da humanidade».
Os professores lembram ainda que os actuais arsenais nucleares têm um poder total 200 mil vezes superior à energia usada pelos norte-americanos contra a cidade de Hiroshima, em 1945, onde na primeira vaga explosiva morreram pelo menos 100 mil pessoas.

Potências não se entendem

A preocupação demonstrada pelos cientistas norte-americanos assume particular destaque quando, na antecâmara da reunião do Conselho de Segurança sobre a questão nuclear iraniana, agendada para a próxima semana, em Nova Iorque, a diplomacia de Washington se desdobra, por um lado, em contactos com os restantes quatro membros com direito de veto no CS e, por outro, em ameaças de imposição unilateral de sanções.
A este respeito, na recente visita oficial aos EUA, o presidente chinês, Hu Jintao, negou apoio à pretensão de Bush de recorrer à força contra o Irão ou impor sanções económicas, diplomáticas e militares a Teerão. Jintao manifestou-se, no entanto, favorável à resolução da contenda de forma negociada.
No mesmo sentido pronunciou-se o Ministério das Relações Externas da Rússia, para quem uma campanha militar preventiva é «totalmente inaceitável» e «não se poderá falar de sanções até se encontrarem provas concretas de que o programa nuclear iraniano não está a ser desenvolvido com fins exclusivamente pacíficos».
Para o próximo dia 2 de Maio está marcada uma reunião em Paris entre os EUA, China, Grã-Bretanha, França, Rússia e Alemanha mas, antes do encontro, Nicholas Burns, subsecretário de Estado, realizou um périplo com o objectivo de «amolecer» as reticências europeias e asiáticas quanto a um eventual ataque ao Irão.
Na ressaca das visitas, Burns afirmou que os EUA «não vão esperar meses» por uma solução que lhes convenha. Mais longe foi Condoleezza Rice, que revelou que se o CS da ONU não tomar uma atitude punitiva contra o Irão, então avançará «uma coligação de países dispostos» a fazê-lo.
A China e a Rússia são, para já, os mais salientes opositores a uma confrontação armada com o Irão. Enquanto a potência asiática celebrou recentemente contratos de compra de gás natural e petróleo com o governo de Teerão, Moscovo vendeu ao Irão um sistema de mísseis de defesa no valor de 700 milhões de dólares e colabora no processo de construção de uma central de produção energia nuclear.


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