Muda o protagonista, continua a ocupação
Quatro meses após a fraude eleitoral no Iraque, o parlamento renova o mandato presidencial de Jalal Talabani e aprova a designação de al-Maliki para primeiro-ministro.
«A resistência continua a fazer a vida difícil aos norte-americanos»
Jawad al-Maliki dispõe agora de um prazo de 30 dias para formar um executivo que, pelo menos, seja capaz de serenar as lutas intestinas no interior do poder em Bagdad, mas entre as personalidades mais sonantes da autoridade vigente na capital iraquiana já é dado como adquirido que o primeiro objectivo passa por prorrogar o «pedido» de permanência das tropas ocupantes no país.
Os conflitos entre partidos que participaram nas legislativas fantoche de Dezembro de 2005, as quais não trouxeram nem a «democracia» nem a «estabilidade», como propagandearam os norte-americanos, agudizaram a partilha violenta do poder entre xiitas, sunitas e curdos pró-ocupação, situação que provocou já centenas de mortos entre a população e resultou na estagnação do governo colaboracionista.
Com a maioria de assentos parlamentares obtida pela Aliança Unida Iraquiana - coligação que congrega sete formações políticas de inspiração confessional xiita, e da qual emana al-Maliki, indicado como número dois do partido Dawa – EUA e Grã-Bretanha pensaram ter condições para manter no cargo o primeiro-ministro Ibrahim al-Jaafari, mas a oposição dos partidos sunitas e curdos, desavindos com al-Jaafari, obrigou à procura de uma outra solução tida como «menos sectária».
A renuncia do até agora chefe de governo, quinta-feira da semana passada, abriu a porta à rotação de protagonistas de uma mesma orientação política, mas poucos acreditam que o desfecho corresponda aos anseios do povo e resolva definitivamente a luta pela supremacia entre as classes dominantes, interessadas em negociar com os norte-americanos as áreas de negócio abertas pela destruição do país.
Com al-Maliki, foram ainda designados o sunita Mahmud al-Mashhadani, para a presidência do parlamento, e os vice-presidentes Jalid al-Attiyah e Aref Tayfour, representantes dos grupos xiita e kurdo na assembleia.
Ocupantes satisfeitos
Arrumada a formalidade da denominação do novo primeiro-ministro e respectivos coadjuvantes nos órgão do poder colaboracionista, os EUA vieram imediatamente a terreiro saudar al-Maliki e manifestar a confiança de Washington na formação de um executivo de «unidade nacional».
Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca, revelou à imprensa que Bush espera «ver desenvolvimentos nos próximos dias». Na mesma tónica pronunciou-se a secretária de Estado Condoleezza Rice, que considerou o facto como uma «boa notícia». Para Rice, al-Maliki também é «um homem com quem podemos trabalhar e com quem desejamos muito colaborar».
Resistência ganha força
Paralelamente à partilha do poder em Bagdad, a resistência continua a fazer a vida difícil aos militares norte-americanos.
Na manhã de segunda-feira, no Noroeste do Iraque, uma caravana do exército foi atacada à bomba, fazendo elevar para 61 o número de mortos desde o início do mês de Abril. Acção semelhante ocorreu em al-Mashtal, desta feita tendo como alvo uma patrulha da polícia iraquiana.
No mesmo dia, em Bagdad, a chamada «zona verde», onde se encontram as embaixadas dos EUA, da Grã-Bretanha, e os principais edifícios do governo títere, foi bombardeada com morteiros. Nem o forte contingente militar composto por homens, helicópteros e tanques foi capaz de travar a investida da resistência, que deixou seis mortos e pelo menos três outras pessoas feridas.
Ainda em Bagdad, o rebentamento de dois carros-bomba, um junto à universidade de Mustansiriyah, e outro no bairro de Bag al-Muadim, vitimou sete pessoas e feriu quase meia centena.
ONU denuncia detenções
Em Genebra, o representante das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou que os ocupantes mantêm detidos «ilegalmente» em prisões no Iraque quase 30 mil pessoas.
De acordo com o levantamento divulgado por Gianni Magazzeni, cerca de metade encontram-se sob custódia dos norte-americanos, enquanto que dos restantes, apenas 8300 foram presos às ordens do Ministério da Justiça.
Magazzeni sublinhou ainda que a ONU não teve acesso a estabelecimentos não identificados como prisões, facto que acrescenta razões às suspeitas que afirmam que o número de encarcerados e as condições às quais estão sujeitos podem ser bem piores que o revelado, sobretudo se se confirmarem as informações sobre os calabouços secretos no interior das bases dos EUA.
Para o responsável, a situação «nem sequer cumpre com a legislação iraquiana», pelo que, apelou às autoridades e às forças ocupantes para que «ou libertem os detidos, ou apresentem as respectivas acusações».
Entretanto, na sua edição de anteontem, o diário norte-americano The Washington Post revelou o conteúdo de um relatório oficial do exército onde se comprova a prática de tortura e maus-tratos contra prisioneiros iraquianos em cárceres geridos pelos EUA.
Segundo o documento citado pelo jornal e assinado pelo tenente-coronel Kevin Curry, no decurso das inspecções realizadas foram identificados, somente numa prisão, pelo menos 13 detidos com ossos fracturados e sinais de tortura com pontas de cigarros, como se tivessem sido «suspensos no tecto e surrados com bastões», afirma-se. Acresce que, de acordo com o mesmo relatório, o funcionário iraquiano que integrou a comitiva recebeu de diversos prisioneiros o pedido de transferência, uma vez que, denunciou ainda, estes «temem ser assassinados pelos guardas».
Os conflitos entre partidos que participaram nas legislativas fantoche de Dezembro de 2005, as quais não trouxeram nem a «democracia» nem a «estabilidade», como propagandearam os norte-americanos, agudizaram a partilha violenta do poder entre xiitas, sunitas e curdos pró-ocupação, situação que provocou já centenas de mortos entre a população e resultou na estagnação do governo colaboracionista.
Com a maioria de assentos parlamentares obtida pela Aliança Unida Iraquiana - coligação que congrega sete formações políticas de inspiração confessional xiita, e da qual emana al-Maliki, indicado como número dois do partido Dawa – EUA e Grã-Bretanha pensaram ter condições para manter no cargo o primeiro-ministro Ibrahim al-Jaafari, mas a oposição dos partidos sunitas e curdos, desavindos com al-Jaafari, obrigou à procura de uma outra solução tida como «menos sectária».
A renuncia do até agora chefe de governo, quinta-feira da semana passada, abriu a porta à rotação de protagonistas de uma mesma orientação política, mas poucos acreditam que o desfecho corresponda aos anseios do povo e resolva definitivamente a luta pela supremacia entre as classes dominantes, interessadas em negociar com os norte-americanos as áreas de negócio abertas pela destruição do país.
Com al-Maliki, foram ainda designados o sunita Mahmud al-Mashhadani, para a presidência do parlamento, e os vice-presidentes Jalid al-Attiyah e Aref Tayfour, representantes dos grupos xiita e kurdo na assembleia.
Ocupantes satisfeitos
Arrumada a formalidade da denominação do novo primeiro-ministro e respectivos coadjuvantes nos órgão do poder colaboracionista, os EUA vieram imediatamente a terreiro saudar al-Maliki e manifestar a confiança de Washington na formação de um executivo de «unidade nacional».
Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca, revelou à imprensa que Bush espera «ver desenvolvimentos nos próximos dias». Na mesma tónica pronunciou-se a secretária de Estado Condoleezza Rice, que considerou o facto como uma «boa notícia». Para Rice, al-Maliki também é «um homem com quem podemos trabalhar e com quem desejamos muito colaborar».
Resistência ganha força
Paralelamente à partilha do poder em Bagdad, a resistência continua a fazer a vida difícil aos militares norte-americanos.
Na manhã de segunda-feira, no Noroeste do Iraque, uma caravana do exército foi atacada à bomba, fazendo elevar para 61 o número de mortos desde o início do mês de Abril. Acção semelhante ocorreu em al-Mashtal, desta feita tendo como alvo uma patrulha da polícia iraquiana.
No mesmo dia, em Bagdad, a chamada «zona verde», onde se encontram as embaixadas dos EUA, da Grã-Bretanha, e os principais edifícios do governo títere, foi bombardeada com morteiros. Nem o forte contingente militar composto por homens, helicópteros e tanques foi capaz de travar a investida da resistência, que deixou seis mortos e pelo menos três outras pessoas feridas.
Ainda em Bagdad, o rebentamento de dois carros-bomba, um junto à universidade de Mustansiriyah, e outro no bairro de Bag al-Muadim, vitimou sete pessoas e feriu quase meia centena.
ONU denuncia detenções
Em Genebra, o representante das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou que os ocupantes mantêm detidos «ilegalmente» em prisões no Iraque quase 30 mil pessoas.
De acordo com o levantamento divulgado por Gianni Magazzeni, cerca de metade encontram-se sob custódia dos norte-americanos, enquanto que dos restantes, apenas 8300 foram presos às ordens do Ministério da Justiça.
Magazzeni sublinhou ainda que a ONU não teve acesso a estabelecimentos não identificados como prisões, facto que acrescenta razões às suspeitas que afirmam que o número de encarcerados e as condições às quais estão sujeitos podem ser bem piores que o revelado, sobretudo se se confirmarem as informações sobre os calabouços secretos no interior das bases dos EUA.
Para o responsável, a situação «nem sequer cumpre com a legislação iraquiana», pelo que, apelou às autoridades e às forças ocupantes para que «ou libertem os detidos, ou apresentem as respectivas acusações».
Entretanto, na sua edição de anteontem, o diário norte-americano The Washington Post revelou o conteúdo de um relatório oficial do exército onde se comprova a prática de tortura e maus-tratos contra prisioneiros iraquianos em cárceres geridos pelos EUA.
Segundo o documento citado pelo jornal e assinado pelo tenente-coronel Kevin Curry, no decurso das inspecções realizadas foram identificados, somente numa prisão, pelo menos 13 detidos com ossos fracturados e sinais de tortura com pontas de cigarros, como se tivessem sido «suspensos no tecto e surrados com bastões», afirma-se. Acresce que, de acordo com o mesmo relatório, o funcionário iraquiano que integrou a comitiva recebeu de diversos prisioneiros o pedido de transferência, uma vez que, denunciou ainda, estes «temem ser assassinados pelos guardas».