Manifestação com 25 mil trabalhadores
da Administração Pública

Determinação para lutar

Frente à Assembleia da República, trabalhadores de todo o País reiteraram a determinação para «recorrer a todas as formas de luta» que se mostrem mais adequadas para a defesa dos seus direitos. Em causa está a ofensiva do Governo, que reduz os salários, gera instabilidade e ameaça as funções do Estado.

A in­dig­nação e o pro­testo vão ex­pressar-se em novas lutas Ca­len­dário das pró­ximas lutas:

Cerca de 25 mil trabalhadores da Administração Pública, segundo a Frente Comum de Sindicatos, desfilaram, na sexta-feira, dia, desde o Marquês do Pombal até ao palácio de S. Bento, para protestarem contra a política do Governo, que põe em causa os seus direitos e a própria Administração Pública. Motivo de particular indignação, patente nos cartazes e faixas e nas palavras de ordem, foi a imposição de uma actualização salarial de apenas 1,5 por cento, para todos os trabalhadores do Estado, sem cumprir o direito à negociação colectiva. Com esta decisão, o Governo agrava a perda do poder de compra dos trabalhadores do sector pelo sétimo ano consecutivo.
Igualmente presentes – na manifestação e nas intervenções de Paulo Trindade, Manuel Carvalho da Silva e Francisco Brás, frente à AR – estiveram a crítica e a condenação das medidas e intenções do Governo contra a estabilidade de emprego (generalizando na Administração Pública o vínculo privado, admitindo os despedimentos por rescisão e ameaçando novamente criar um quadro de supranumerários), contra o direito à progressão nos escalões e nas carreiras, contra os direitos na aposentação e contra o sistema de protecção social.
Depois das intervenções do coordenador da Frente Comum, do secretário-geral da CGTP-IN e do presidente do STAL, foi aprovada uma resolução, na qual os trabalhadores e as suas organizações declaram o seu repúdio pela imposição de nova perda de poder de compra; previnem que, «caso o Governo insista nos ataques à estabilidade de emprego, às carreiras, à protecção social, à sua dignidade pessoal e profissional, será o único responsável pelo agudizar da conflitualidade social»; reiteram «a determinação em recorrer a todas as formas de luta que, em cada momento, se mostrem como mais adequadas para a defesa dos seus direitos laborais»; expressam «a determinação de intensificar, quer junto dos trabalhadores, quer das populações em geral, o esclarecimento e a desmistificação da ofensiva contra os direitos laborais e a importância da defesa dos valores inerentes ao conceito de serviços públicos de qualidade, como factor de progresso e de desenvolvimento da sociedade».
Os manifestantes, vindos de todos os distritos, começaram por concentrar-se no alto do Parque Eduardo VII, descendo à Praça do Marquês de Pombal pouco depois das 15 horas, em direcção ao Largo do Rato (com olhares e vozes de condenação dirigidos à sede do PS), seguindo depois pela Rua de São Bento. Das palavras de ordem gritadas, sobressaem as que afirmava que «direitos conquistados não podem ser roubados», «justiça social faz falta a Portugal» e «trabalho sim, desemprego não».
Ao cimo da Rua Braancamp, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, acompanhado de outros dirigentes do Partido, foi vivamente saudado por muitos trabalhadores. A delegação comunista integrou-se pouco depois na manifestação, em solidariedade para com os trabalhadores da Administração Pública, que «estão a ser vítimas de um ataque frontal do Governo aos seus direitos», como Jerónimo de Sousa referiu aos jornalistas.


Pró­ximas lutas

Na agenda de lutas dos trabalhadores, o Conselho Nacional da CGTP-IN, reunido a 31 de Janeiro, destaca:
• dia 14 de Fe­ve­reiro, em Es­tras­burgo, manifestação contra a «directiva Bolkestein», que preconiza o princípio do país de origem, na definição das condições de trabalho, e a imposição das «leis do mercado» nos serviços públicos de interesse geral;
• pri­meira quin­zena de Março, frente à sede da CIP, em Lisboa, acção de protesto pelo fim do boicote patronal à contratação colectiva;
• 28 de Março, Dia Nacional da Juventude, será dia na­ci­onal de luta pelo emprego, contra a precariedade, pelos direitos, pelos contratos colectivos e pelos salários.
Na resolução do CN afirma-se a necessidade de desenvolver, a curto prazo, «uma acção mobilizadora dos trabalhadores e das trabalhadoras, em torno dos seus problemas concretos e das suas reivindicações, numa iniciativa conjugada que unifique e amplie as lutas em curso».


Mais artigos de: Em Foco

Um ponto vermelho<br> no coração do Minho

Vilar de Mouros dos fes­ti­vais, do es­pí­rito de es­querda e do pre­si­dente co­mu­nista
Vilar de Mouros é daquelas freguesias que tem de ser tratada com respeito quando sobre ela se escreve ou dela se fala. Encravada no verdejante Vale do Coura, rio que a corta ao meio, a esta aldeia estão ligados milhares de portugueses de todos os pontos do País que dos festivais guardam das mais belas recordações da sua existência. Cercada por arredores politicamente adversos, Vilar de Mouros é gerida pela CDU desde 1989: é um ponto vermelho-vivo numa paisagem agarrada ao verde durante as quatro estações do ano. Carlos Alves, o presidente da Junta de Freguesia, é um comunista consciente das dificuldades que tem de enfrentar quotidianamente na gestão da autarquia, dificuldades que não ferem a sua visão optimista da vida e do futuro.