prometeu-lhe um fim amargo de carreira
O dia mais negro do primeiro-ministro
A inevitável demissão do ministro, David Blunkett, nos primeiros dias deste mês, e o drama da votação da chamada Lei Anti-Terrorismo, que se realizou no passado dia 9, deixaram perfeitamente a nu a instabilidade que lavra no seio do governo britânico liderado por Tony Blair. Um dos artigos da referida lei alterava para 90 dias o período de que a Polícia passaria a dispor para interrogar suspeitos, obter provas contra eles e levá-los a Tribunal, ou soltá-los. Esse período, segundo a legislação actualmente em vigor, é de 14 dias, apenas. Mas a Câmara dos Comuns, revoltando-se contra a proposta de Blair e do ministro do Interior, Charles Clarke, deu lugar a uma impressionante derrota governamental cujas consequências estão, ainda, longe de poderem apreciar-se.
No momento do voto, a maioria parlamentar absoluta do «New Labour» foi pulverizada pela revolta de 49 deputados trabalhistas que, indiferentes às ameaças de Blair, se juntaram à oposição dos partidos conservador e liberal-democrata, principalmente. Outros partidos de menor importância também negaram ao primeiro-ministro o seu apoio. No fim, a proposta do Executivo “blairista” foi derrotada por 322 votos contra 291. A maioria absoluta dos trabalhistas, que era de 67 votos à saída das eleições de Maio passado, transformou-se numa minoria de 31 votos devido a que, contados os deputados presentes, os acima referidos 49 rebeldes deixaram falar a consciência, resistiram e, fazendo com que se vivesse na Câmara dos Comuns uma noite famosa, triunfaram.
A política “anti-terrorista”, a guerra do Iraque, o desgosto do povo britânico pela submissão do governo de Westminster à orientação da Casa Branca em Washington, têm diminuído o interesse dos povos das Ilhas britânicas pelos debates parlamentares nos Comuns cuja monotonia desmascara a crise da democracia no capitalismo. Outrora, as lutas parlamentares levavam os cidadãos a agarrarem-se aos aparelhos de rádio (quando a TV não tinha, ainda, entrada na Câmara) para se manterem informados do curso das votações e dos discursos dos seus deputados. Mas, agora, os britânicos deixaram de acreditar no governo, encontram em Tony Blair uma quase inexplicável personalidade que os tem defraudado permanentemente, uma espécie de aventureiro político. O movimento trabalhista, que inclui os sindicatos, conhece a indecisão. Se demite o governo, pode perder o poder, mais tarde e uma vez mais, para os conservadores. Se se mantém silencioso e aceita ser escravo de Blair, como tem acontecido até agora, trai os seus princípios históricos, perde a confiança do país, morre sem glória.
Toda a Grã-Bretanha teve esperanças em que Blair, obtida a sua terceira vitória eleitoral consecutiva, se apresentaria ao povo, engrandecido, pleno de magnanimidade, apesar da situação no Iraque. E desejoso de marcar lugar na História, como um homem que tentara marcar o seu tempo de governo com reformas estruturais nos campos da Saúde, da Educação, da Administração Pública, dos Transportes, da Irlanda do Norte, no campo, também, das relações com a União Europeia. Um político que, enfim, se apresentasse de cara mais limpa à saída do poder. Mas essas esperanças foram destruídas. A transferência da chefia trabalhista para o actual Chanceler, Gordon Brown, o re-acordar do país, o novo amanhecer na vida política e social, o renascer dos valores tradicionais do trabalhismo (os únicos que podem conduzir as nações britânicas através do novo século) continuam pendentes da vontade do primeiro-ministro e dos seus aliados.
Polícia chamada a pressionar os deputados
A Grã-Bretanha ainda não é um estado policial
A histórica votação anti-Blair do passado dia 9 vai reflectir-se, poderosamente, assim se espera, nos próximos grandes debates da Câmara dos Comuns. A vontade de luta de muitos deputados que, pela primeira vez, ousaram enfrentar Tony Blair, ficou provada. Mark Fisher, antigo ministro, disse: «A proposta do governo para que a Polícia possa prender e manter suspeitos nas celas durante 90 dias, é uma proposta para a criação de mártires. Não terá o meu voto!». Por sua vez, Paul Flynn, um dos mais destacados oponentes do governo, declarou: «Que fique provado que os deputados trabalhistas não são os “cãezinhos de estimação” do primeiro-ministro!». Também, Clare Short, anterior ministra que se demitiu como protesto contra a intervenção militar no Iraque, afirmou: «Espero que esta derrota apresse a demissão do governo e de Tony Blair. Seria bom para o país. Seria bom para o Partido Trabalhista!»
No momento em que os seus “whips” (controladores das intenções de voto dos deputados na Câmara dos Comuns) o avisaram de que seria derrotado, Blair, tomou uma decisão sem precedentes: pediu a todos os chefes da Polícia em todas as províncias do país que telefonassem aos deputados das respectivas áreas exigindo que votassem a favor da lei anti-terrorista. Mas os parlamentares consideraram que as leis do país ainda é o Parlamento que as faz e que a Grã-Bretanha, por enquanto, não é um Estado policial. Nunca se tinha visto, na verdade, a Polícia, a rogo do próprio primeiro-ministro, tentar influenciar um debate parlamentar.
Próximos debates que farão Blair sofrer
Educação: a proposta da ministra, Ruth Kelly, no sentido de que qualquer escola possa sair do controlo das respectivas autoridades locais e entrar na “selva”, vai ser combatida por grande número de deputados trabalhistas;
Saúde: os deputados temem que Blair esteja a preparar legislação que facilite, ainda mais, a intervenção do sector privado nas actividades do Serviço Nacional de Saúde; se essa legislação for apresentada, a revolta será generalizada;
Benefícios Sociais: Muitos deputados já declararam que votarão contra a decisão governamental de reduzir em, pelo menos um milhão, o número dos que, actualmente, recebem subsídios de invalidez;
Pensões: o governo tem planos para pôr fim ao conceito de que, aos 65 anos, os trabalhadores ganham direito à reforma, como sempre aconteceu, e pretende elevar aquela data limite; por outro lado, as organizações patronais desejam legislação que desobrigue as empresas de contribuições a favor do sistema de reformas do Estado – estas medidas, dizem os deputados trabalhistas, serão ferozmente combatidas;
Mísseis “Trident”: Blair deseja substituir o sistema de mísseis conhecido como “Trident” enfrentando um custo de 30 000 milhões de Euros, sem debate parlamentar, mas os deputados afirmam que tal decisão nunca será reconhecida a menos que seja discutida nos termos normais e se proceda ao voto correspondente na Câmara dos Comuns;
Energia: uma significativa secção do Partido Trabalhista tem-se manifestado contra a construção de novas centrais de energia nuclear e promete outra revolta parlamentar contra o governo se Blair insistir nesse projecto, como tudo indica que fará.
A política “anti-terrorista”, a guerra do Iraque, o desgosto do povo britânico pela submissão do governo de Westminster à orientação da Casa Branca em Washington, têm diminuído o interesse dos povos das Ilhas britânicas pelos debates parlamentares nos Comuns cuja monotonia desmascara a crise da democracia no capitalismo. Outrora, as lutas parlamentares levavam os cidadãos a agarrarem-se aos aparelhos de rádio (quando a TV não tinha, ainda, entrada na Câmara) para se manterem informados do curso das votações e dos discursos dos seus deputados. Mas, agora, os britânicos deixaram de acreditar no governo, encontram em Tony Blair uma quase inexplicável personalidade que os tem defraudado permanentemente, uma espécie de aventureiro político. O movimento trabalhista, que inclui os sindicatos, conhece a indecisão. Se demite o governo, pode perder o poder, mais tarde e uma vez mais, para os conservadores. Se se mantém silencioso e aceita ser escravo de Blair, como tem acontecido até agora, trai os seus princípios históricos, perde a confiança do país, morre sem glória.
Toda a Grã-Bretanha teve esperanças em que Blair, obtida a sua terceira vitória eleitoral consecutiva, se apresentaria ao povo, engrandecido, pleno de magnanimidade, apesar da situação no Iraque. E desejoso de marcar lugar na História, como um homem que tentara marcar o seu tempo de governo com reformas estruturais nos campos da Saúde, da Educação, da Administração Pública, dos Transportes, da Irlanda do Norte, no campo, também, das relações com a União Europeia. Um político que, enfim, se apresentasse de cara mais limpa à saída do poder. Mas essas esperanças foram destruídas. A transferência da chefia trabalhista para o actual Chanceler, Gordon Brown, o re-acordar do país, o novo amanhecer na vida política e social, o renascer dos valores tradicionais do trabalhismo (os únicos que podem conduzir as nações britânicas através do novo século) continuam pendentes da vontade do primeiro-ministro e dos seus aliados.
Polícia chamada a pressionar os deputados
A Grã-Bretanha ainda não é um estado policial
A histórica votação anti-Blair do passado dia 9 vai reflectir-se, poderosamente, assim se espera, nos próximos grandes debates da Câmara dos Comuns. A vontade de luta de muitos deputados que, pela primeira vez, ousaram enfrentar Tony Blair, ficou provada. Mark Fisher, antigo ministro, disse: «A proposta do governo para que a Polícia possa prender e manter suspeitos nas celas durante 90 dias, é uma proposta para a criação de mártires. Não terá o meu voto!». Por sua vez, Paul Flynn, um dos mais destacados oponentes do governo, declarou: «Que fique provado que os deputados trabalhistas não são os “cãezinhos de estimação” do primeiro-ministro!». Também, Clare Short, anterior ministra que se demitiu como protesto contra a intervenção militar no Iraque, afirmou: «Espero que esta derrota apresse a demissão do governo e de Tony Blair. Seria bom para o país. Seria bom para o Partido Trabalhista!»
No momento em que os seus “whips” (controladores das intenções de voto dos deputados na Câmara dos Comuns) o avisaram de que seria derrotado, Blair, tomou uma decisão sem precedentes: pediu a todos os chefes da Polícia em todas as províncias do país que telefonassem aos deputados das respectivas áreas exigindo que votassem a favor da lei anti-terrorista. Mas os parlamentares consideraram que as leis do país ainda é o Parlamento que as faz e que a Grã-Bretanha, por enquanto, não é um Estado policial. Nunca se tinha visto, na verdade, a Polícia, a rogo do próprio primeiro-ministro, tentar influenciar um debate parlamentar.
Próximos debates que farão Blair sofrer
Educação: a proposta da ministra, Ruth Kelly, no sentido de que qualquer escola possa sair do controlo das respectivas autoridades locais e entrar na “selva”, vai ser combatida por grande número de deputados trabalhistas;
Saúde: os deputados temem que Blair esteja a preparar legislação que facilite, ainda mais, a intervenção do sector privado nas actividades do Serviço Nacional de Saúde; se essa legislação for apresentada, a revolta será generalizada;
Benefícios Sociais: Muitos deputados já declararam que votarão contra a decisão governamental de reduzir em, pelo menos um milhão, o número dos que, actualmente, recebem subsídios de invalidez;
Pensões: o governo tem planos para pôr fim ao conceito de que, aos 65 anos, os trabalhadores ganham direito à reforma, como sempre aconteceu, e pretende elevar aquela data limite; por outro lado, as organizações patronais desejam legislação que desobrigue as empresas de contribuições a favor do sistema de reformas do Estado – estas medidas, dizem os deputados trabalhistas, serão ferozmente combatidas;
Mísseis “Trident”: Blair deseja substituir o sistema de mísseis conhecido como “Trident” enfrentando um custo de 30 000 milhões de Euros, sem debate parlamentar, mas os deputados afirmam que tal decisão nunca será reconhecida a menos que seja discutida nos termos normais e se proceda ao voto correspondente na Câmara dos Comuns;
Energia: uma significativa secção do Partido Trabalhista tem-se manifestado contra a construção de novas centrais de energia nuclear e promete outra revolta parlamentar contra o governo se Blair insistir nesse projecto, como tudo indica que fará.