EUA, janela do capitalismo

Pedro Campos
Já se sabe, a vida na prisão não é fácil. Mas não deveria ser impossível. Em 2003, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma lei para combater o problema das violações sexuais nos cárceres do país, cuja intenção era que os encarregados da Justiça tomassem as medidas necessárias para acabar com o flagelo. Numa edição recente, o New York Times debruça-se sobre o tema num dos seus editoriais para denunciar que os responsáveis pelas prisões continuam a fazer de conta de que nada sucede e refere um caso concreto.
Num tribunal do Texas, Roderick Johnson, um marine abertamente homossexual, denunciou que, enquanto esteve preso por violação do seu regime de liberdade condicional, foi vítima de constantes abusos sexuais.
Os guardas prisionais estavam perfeitamente a par do que se estava a passar mas ignoraram sistematicamente os seus pedidos de ajuda e o único que recebeu foi chacota, apesar de saberem que ele era usado «como escravo sexual» por outros reclusos que o consideravam como sua «propriedade».
Johnson dirigiu-se várias vezes, por escrito, às autoridades da prisão denunciando os repetidos abusos sexuais e pedindo a sua transferência para uma zona de segurança. Johnson confessa que era vendido, sob ameaça de morte, por uns poucos dólares que terminavam na algibeira do seu «amo» e que as autoridades não só fechavam os olhos como ainda faziam pouco dele.
De acordo com o jornal estado-unidense, o «caso Johnson» deveria fazer com que as autoridades prisionais reconhecessem que estas situações não podem continuar, entre outras razões porque a vítima, na base da Emenda Oito – que proíbe os castigos cruéis – decidiu processar os guardas acusando-os de violar os seus direitos. Veremos em que termina tudo. Mas a publicação informa que «segundo documentos do tribunal, aos reclusos vulneráveis era-lhes dito que dessem batalha aos violadores ou que encontrassem namorados que os protegessem em troca de favores sexuais». No comments!

Praxes e mortes

Se assim são as coisas nas prisões da montra principal do capitalismo, vejamos o que se passa nas universidades.
Samantha Spady nunca chegou aos 20 anos. Quando tinha 19 foi encontrada morta em Boulder, perto da Universidade de Colorado, depois de uma noitada de praxe da fraternidade Chi Psi, fundada em 1846 e uma das mais antigas dos Estados Unidos. Foi o preço que pagou a caloira, que foi submetida ao rito iniciático de ingerir enormes quantidades de cerveja, vinho e whisky e terminou com uma intoxicação etílica que lhe resultou fatal.
Mas o caso de Samantha Spady é tudo menos um acidente isolado de sobredose alcoólica num país onde a indústria dos licores investe anualmente perto de 4 mil milhões de dólares em publicidade. Desta quantidade multimilionária, uns 30% são direccionados para penetrar o mercado jovem e convencê-lo de que beber – e embebedar-se – é estar à moda. E é preciso admitir que o marketing capitalista é de sucesso garantido. Todos os anos morrem 1700 jovens, entre 18 e 24 anos, por consumo excessivo de álcool, segundo números do Instituto Nacional de Abuso de Álcool, que funciona na cidade de Bethesda, no estado de Maryland.
Curiosamente, isto acontece num país onde, a partir de 1984, a lei determina que beber álcool está proibido a menores de 21 anos. Segundo o Congresso dos Estados Unidos essa é a idade mínima para o fazer, mas um estudo da Universidade de Michigan mostra que uma coisa diz a lei e de outra maneira se comportam os jovens: 80% dos que andam pelos18 anos já consumiram álcool, e nesta experiência as universidades desempenham um papel fundamental. A base de muitas das praxes é uma orgia etílica, onde os
caloiros são obrigados a engolir doses monumentais de licor até que percam a consciência e parte da roupa. Por vezes, como no caso da infeliz Samantha, algo mais se perde.
Muito ao estilo do american way of life…


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