Salada à moda do Vaticano ...
Enquanto não transpiram notícias da Assembleia que reúne em Roma os bispos católicos de todo o mundo, os órgãos de comunicação social vão-se entretendo com as pequenas intrigas. A começar pelas alusões a este sínodo, o primeiro convocado por Bento XVI. O tema central do encontro é «Eucaristia - fonte e objectivo da vida e da missão da Igreja». Revela-se, uma vez mais, a preocupação obsessiva que persegue, desde há muitos anos, a hierarquia católica: a quebra incessante da afluência católica às missas, nomeadamente à missa dominical. Entretanto, o mundo rebenta pelas costuras com escândalos e conflitos. Os ricos expulsam para o deserto os deserdados da sorte. Há milhões que sofrem de fomes terríveis e de doenças, como no Sudão. Mas os bispos colocam em primeiríssimo lugar o facto conhecido da fraca assistência católica aos actos litúrgicos. E o Papa «defensor da Fé» aproveita a ocasião para atacar o governo chinês e «a hipocrisia das sociedades que excluem a religião da vida pública». Como é evidente, a religião que Bento XVI tem em vista é a católica romana. Se os chineses consentissem, como os portugueses o fizeram, na assinatura de uma concordata leonina, outro galo cantaria nos poleiros da Santa Sé. As palavras deste papa merecem ser destacadas visto acabarem por revelar o fundamentalismo religioso que continua a nortear o cardeal Ratzinger: «O juízo de Deus revelado na Bíblia recairá sobre aqueles que o esquecem e ameaçam agora a Igreja na Europa, a Europa e o Ocidente em geral». É o complexo da Reconquista Armada e da Cruzada contra os Infiéis, velhinho de mais de mil anos...
A imprensa escrita também nos contou uma outra história de outros tempos. Bento XVI foi atacado por ter imposto a norma canónica que interdita aos católicos a adesão à Maçonaria. Um historiador espanhol, Martin Albo, publicou agora um livro revelador, já editado em português e com prefácio do socialista António Reis, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano. Pela leitura da breve crítica que é feita a este trabalho, parece que ele reedita a velha guerrilha pelo poder que confronta, no interior do sistema capitalista, a Maçonaria e o Opus Dei. O livro recorda, a certo passo, o Cânone 1374 do Código do Direito Canónico, de que foi responsável o cardeal Joseph Ratzinger: «Quem se inscreve numa associação que maquina contra a Igreja, deve ser castigado com uma pena justa ; quem promove ou dirige essa associação, há-de ser castigado com interdição».
A obra, evidentemente escrita na área maçónica, lembra em seguida que a Maçonaria «já entrou na fase transnacional, um caminho que poderá acentuar-se com a subida de mais patamares na construção europeia... Em Julho de 2000 foi possível assinar, em França, um Tratado entre as potências maçónicas mais importantes da Europa. A designação do organismo criado é Confederação das Grandes Lojas Unidas da Europa. Um projecto indubitavelmente virado para o Século XXI ».
Receita da mesma salada, mas «à lusitana»
Não tardou que esta velha receita de saladas fosse adaptada ao paladar português. Num artigo não assinado, publicado no «Semanário» (7.10.2005), insinuava-se que o «Aparelho Socialista pondera relançar discurso anticlerical. PS dividido no ataque à Igreja Católica». Depois, o texto desenvolvia-se ao jeito das telenovelas : a manobra socialista consiste em transformar a igreja católica no inimigo principal. Isto, na intenção de atenuar as críticas ao governo e ao PS e desviar as atenções dos sucessivos escândalos da corrupção. O que afinal o governo socialista pretende é «instalar o Estado ateu». É contra o crucifixo nas escolas e o lugar de honra reconhecido, nas cerimónias oficiais, aos bispos, aos cardeais ou equiparados. E neste texto delirante declara-se sem mais nem menos: «A situação é tão mais caricata quanto a maioria dos bispos católicos é de esquerda!»
Depois, referem-se nomes de «homens do aparelho socialista» aparentemente ligados a este pseudo-movimento anticlerical: Jaime Gama, Almeida Santos, Jorge Coelho, Vera Jardim. No caso deste último, a telenovela tinha editado noutro órgão da comunicação (DN, 5.10.05), 48 horas antes, um outro fascinante episódio em que participou VJ, o grande arquitecto da Lei da Liberdade Religiosa. Declarou então: «Por mim, não havia Concordata!». O que o dirigente socialista não esclareceu, foi que, após a promulgação da lei de que foi mentor, a concordata tornava-se desnecessária. A lei das liberdades religiosas reconhecera-a na sua totalidade. Só por isso, já não era precisa.
Mas os «republicanos, socialistas e laicos» continuam bons amigos do Patriarcado de Lisboa e da Prelatura do Campo Grande.
A imprensa escrita também nos contou uma outra história de outros tempos. Bento XVI foi atacado por ter imposto a norma canónica que interdita aos católicos a adesão à Maçonaria. Um historiador espanhol, Martin Albo, publicou agora um livro revelador, já editado em português e com prefácio do socialista António Reis, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano. Pela leitura da breve crítica que é feita a este trabalho, parece que ele reedita a velha guerrilha pelo poder que confronta, no interior do sistema capitalista, a Maçonaria e o Opus Dei. O livro recorda, a certo passo, o Cânone 1374 do Código do Direito Canónico, de que foi responsável o cardeal Joseph Ratzinger: «Quem se inscreve numa associação que maquina contra a Igreja, deve ser castigado com uma pena justa ; quem promove ou dirige essa associação, há-de ser castigado com interdição».
A obra, evidentemente escrita na área maçónica, lembra em seguida que a Maçonaria «já entrou na fase transnacional, um caminho que poderá acentuar-se com a subida de mais patamares na construção europeia... Em Julho de 2000 foi possível assinar, em França, um Tratado entre as potências maçónicas mais importantes da Europa. A designação do organismo criado é Confederação das Grandes Lojas Unidas da Europa. Um projecto indubitavelmente virado para o Século XXI ».
Receita da mesma salada, mas «à lusitana»
Não tardou que esta velha receita de saladas fosse adaptada ao paladar português. Num artigo não assinado, publicado no «Semanário» (7.10.2005), insinuava-se que o «Aparelho Socialista pondera relançar discurso anticlerical. PS dividido no ataque à Igreja Católica». Depois, o texto desenvolvia-se ao jeito das telenovelas : a manobra socialista consiste em transformar a igreja católica no inimigo principal. Isto, na intenção de atenuar as críticas ao governo e ao PS e desviar as atenções dos sucessivos escândalos da corrupção. O que afinal o governo socialista pretende é «instalar o Estado ateu». É contra o crucifixo nas escolas e o lugar de honra reconhecido, nas cerimónias oficiais, aos bispos, aos cardeais ou equiparados. E neste texto delirante declara-se sem mais nem menos: «A situação é tão mais caricata quanto a maioria dos bispos católicos é de esquerda!»
Depois, referem-se nomes de «homens do aparelho socialista» aparentemente ligados a este pseudo-movimento anticlerical: Jaime Gama, Almeida Santos, Jorge Coelho, Vera Jardim. No caso deste último, a telenovela tinha editado noutro órgão da comunicação (DN, 5.10.05), 48 horas antes, um outro fascinante episódio em que participou VJ, o grande arquitecto da Lei da Liberdade Religiosa. Declarou então: «Por mim, não havia Concordata!». O que o dirigente socialista não esclareceu, foi que, após a promulgação da lei de que foi mentor, a concordata tornava-se desnecessária. A lei das liberdades religiosas reconhecera-a na sua totalidade. Só por isso, já não era precisa.
Mas os «republicanos, socialistas e laicos» continuam bons amigos do Patriarcado de Lisboa e da Prelatura do Campo Grande.