A eliminação da CDU
Na passada segunda-feira, o País pôde assistir em directo à queda de mais um recorde nacional, espectáculo muito apreciado: o recorde da grosseria praticada contra uma senhora ausente no âmbito de um debate sério cujo tema era um assunto seriíssimo. O autor da proeza foi um sujeito tido por muito distinto, pertencente a uma família muito conhecida e decerto distinta, o dr. Miguel Beleza. O alvo da indelicadeza foi uma senhora do Norte que não tinha rigorosamente nada a ver com o tema em discussão e a quem o senhor doutor se referiu como «a Carolina», numa de familiaridade brejeira e mal-educada que nada fazia prever excepto, porventura, a curiosa inclinação para a piada chocarreira que naquela noite caracterizou o senhor doutor. O episódio, que terá provocado um desconforto geral, não contribuiu minimamente para esclarecer fosse o que fosse excepto, é claro, como é finíssima a estreita camada de verniz que, pelos vistos, mal recobre a civilidade do senhor doutor. Dado, porém, que de facto constituiu um recorde, mal parecia que uma coluna de comentários ao que de mais relevante vai acontecendo na TV não o registasse. Já agora, a abrir a croniqueta, não vá esquecer pelo caminho.
O caso, como sem dúvida recorda quem acompanhou o programa, ocorreu no decurso do «Prós e Contras», que fora anunciado como indo debater as eleições autárquicas do passado domingo. Bem se sabe, porém, que na vida nem sempre a realidade corresponde às promessas e expectativas, muito menos quando se trata da televisão em geral e da RTP em particular. Quanto a este programa, parecia inevitável que fosse falado o inegável êxito da CDU, que cresceu 14% no número de Câmaras conquistadas e 7% no número de votos obtidos na votação para as assembleias municipais. Digamos, para sermos generosos, que até se podia ter falado pouco neste crescimento, mas que eram eticamente obrigatórias uma referência e uma reflexão minúscula. Pois aconteceu uma omissão total: o «Prós e Contras» riscou da realidade o êxito CDU. Dirão talvez os pessimistas que não espanta ter sido assim, pois para coisas destas ou com estas parecidas é que o «Prós e Contras» está lá.
Custos: os novos e os velhos
Como habitualmente, estava no palco um punhado de sábios, é claro que nenhum deles conotável de perto ou de longe com a CDU: eram eles Proença de Carvalho, Salgado de Matos, o já referido Miguel Beleza, o sempre pessimamente encarado Joaquim Aguiar, Manuel Meirinho e Marina Costa Lobo, estes dois últimos politólogos, que é uma profissão que eu quero ter quando for grande, até porque, ao que tudo indica, não há nenhum politólogo no PCP, o que faz imensa falta para ir ao «Prós e Contras». Reforçado por dois jornalistas sentados na primeira fila da plateia, Sérgio Figueiredo do «Diário Económico» e Luís Osório agora do grupo Media Capital, o grupo de sábios aplicou toda a primeira parte do programa, inteirinha, a fazer mais um julgamento mediático dos quatro candidatos independentes e «corruptos» que, como bem se sabe, ocuparam obsessivamente os media durante a campanha. O veredicto implícito foi, obviamente, a condenação, e a alegação de Proença de Carvalho, que lembrou a obsoleta regra da presunção de inocência enquanto não haja condenação, não teve nenhum eco. Naturalmente que ninguém se atreveu a recordar a existência de mais cerca de trezentos municípios, nem isso aliás interessaria ao programa. O que pareceu imperativo, isso sim, foi esgotar aquela primeira parte sem que se falasse dos resultados da CDU, e o objectivo foi plenamente conseguido.
Faltava, é certo, a segunda parte. Mas foi fácil: o tema anunciado e supostamente agendado foi completamente esquecido e todas as dissertações havidas tiveram os graves problemas do País na área económica/financeira/orçamental como preocupação exclusiva. Todas as intervenções foram feitas numa óptica de direita e, se as autárquicas foram referidas ainda, foi para carpir uma vez mais sobre os seus custos, quase todos lamentando o desperdício de dinheiros, com clara excepção para Marina Costa Lobo. Pessoalmente, não é uma conversa que me agrade e, sobretudo, que eu considere inocente. Tal como a insistência nos tais quatro «corruptos» pode visar o descrédito global do Poder Local no espírito das gentes, a ênfase sobre os custos dos actos eleitorais pode induzir um desapreço pelas escolhas democráticas, fazendo com que se estranhe que a vida democrática tenha custos. Será caso para lembrar o que parece esquecido: que a PIDE e todos os aparelhos repressivos do fascismo não eram de borla. Será bom le
O caso, como sem dúvida recorda quem acompanhou o programa, ocorreu no decurso do «Prós e Contras», que fora anunciado como indo debater as eleições autárquicas do passado domingo. Bem se sabe, porém, que na vida nem sempre a realidade corresponde às promessas e expectativas, muito menos quando se trata da televisão em geral e da RTP em particular. Quanto a este programa, parecia inevitável que fosse falado o inegável êxito da CDU, que cresceu 14% no número de Câmaras conquistadas e 7% no número de votos obtidos na votação para as assembleias municipais. Digamos, para sermos generosos, que até se podia ter falado pouco neste crescimento, mas que eram eticamente obrigatórias uma referência e uma reflexão minúscula. Pois aconteceu uma omissão total: o «Prós e Contras» riscou da realidade o êxito CDU. Dirão talvez os pessimistas que não espanta ter sido assim, pois para coisas destas ou com estas parecidas é que o «Prós e Contras» está lá.
Custos: os novos e os velhos
Como habitualmente, estava no palco um punhado de sábios, é claro que nenhum deles conotável de perto ou de longe com a CDU: eram eles Proença de Carvalho, Salgado de Matos, o já referido Miguel Beleza, o sempre pessimamente encarado Joaquim Aguiar, Manuel Meirinho e Marina Costa Lobo, estes dois últimos politólogos, que é uma profissão que eu quero ter quando for grande, até porque, ao que tudo indica, não há nenhum politólogo no PCP, o que faz imensa falta para ir ao «Prós e Contras». Reforçado por dois jornalistas sentados na primeira fila da plateia, Sérgio Figueiredo do «Diário Económico» e Luís Osório agora do grupo Media Capital, o grupo de sábios aplicou toda a primeira parte do programa, inteirinha, a fazer mais um julgamento mediático dos quatro candidatos independentes e «corruptos» que, como bem se sabe, ocuparam obsessivamente os media durante a campanha. O veredicto implícito foi, obviamente, a condenação, e a alegação de Proença de Carvalho, que lembrou a obsoleta regra da presunção de inocência enquanto não haja condenação, não teve nenhum eco. Naturalmente que ninguém se atreveu a recordar a existência de mais cerca de trezentos municípios, nem isso aliás interessaria ao programa. O que pareceu imperativo, isso sim, foi esgotar aquela primeira parte sem que se falasse dos resultados da CDU, e o objectivo foi plenamente conseguido.
Faltava, é certo, a segunda parte. Mas foi fácil: o tema anunciado e supostamente agendado foi completamente esquecido e todas as dissertações havidas tiveram os graves problemas do País na área económica/financeira/orçamental como preocupação exclusiva. Todas as intervenções foram feitas numa óptica de direita e, se as autárquicas foram referidas ainda, foi para carpir uma vez mais sobre os seus custos, quase todos lamentando o desperdício de dinheiros, com clara excepção para Marina Costa Lobo. Pessoalmente, não é uma conversa que me agrade e, sobretudo, que eu considere inocente. Tal como a insistência nos tais quatro «corruptos» pode visar o descrédito global do Poder Local no espírito das gentes, a ênfase sobre os custos dos actos eleitorais pode induzir um desapreço pelas escolhas democráticas, fazendo com que se estranhe que a vida democrática tenha custos. Será caso para lembrar o que parece esquecido: que a PIDE e todos os aparelhos repressivos do fascismo não eram de borla. Será bom le