No futebol há verdades a dizer
Um treinador estrangeiro que exerce o seu ofício no norte do país desatou, há dias, a dizer verdades óbvias sobre o futebolzinho que vamos aguentando cá por casa. Pois tanto bastou para que a maioria dos nossos escribas, assumindo uma unanimidade de patriotismo foleiro ou de cegueira acostumada, desancassem o homem. Compreende-se: eles vendem um produto, que é o futebol, e do produto que vendem não podem dizer mal. Também é verdade que não dizem bem, porque ao quer fazê-lo, por ignorância e inépcia congénita, só alcançam o contrário.
Claro está que não rebateram os argumentos do treinador. Claro está que não o confrontaram directamente, e para isso tiveram possibilidade nas semanais conferências de imprensa ou nos desenrascas em que os jornalistas são peritos. O que acontece é que é difícil falar com quem sabe, sobretudo, quando formadores de opinião, desportiva ou outra, se limitam a assumir-se como meros pés de microfone. A expressão não é minha, corre por aí, e parece que toda a gente sabe o que ela significa.
Houve quem escrevesse que o dito treinador, ao longo da sua carreira, ainda não ganhou nada. Argumento de peso!!! Pior, houve quem desse a entender por escrito que o holandês não devia pronunciar-se sobre coisas cá do sítio pelo simples facto de ser estrangeiro. Portanto, prestem atenção os milhões de emigrantes portugueses que temos espalhados por esse mundo fora: quando, ao fim do dia laboral, se sentarem num bar com os companheiros a beber a cervejola da praxe e do alívio, nada de comentários sobre as condições, o exercício e o mundo do trabalho. Sois estrangeiros, mesmo no espaço paradisíaco que é o da União Europeia.
Mas o que disse, afinal, o holandês?
Disse pouco, mas o pouco que quis dizer ou o disse, disse-o com propriedade. Aliás, todos os que gostam realmente de futebol – o maior fenómeno social do século XX, na opinião de um conhecido pensador – assinariam de cruz as suas afirmações.
Primeiro, declarou ele, o futebol que se pratica no nosso país é violento (não confundir com dureza). O
que é verdade. Há jogadores nos nossos campos, agora digo eu, que se habilitam a partir quatro ou cinco pernas alheias por campeonato sem que nada lhes aconteça. São de clubes grandes, obviamente. Sublinhou, o holandês, que o público é roubado, porque paga demasiado para o espectáculo que lhe é oferecido. O que é mais uma vez verdade. Disse, com a frontalidade que os nossos escreventes não gostam, que é uma barbaridade a hora a que se joga futebol no nosso país. Será mentira?
Vejamos alguém que trabalha em Lisboa e vive no Seixal, um exemplo. Sai do trabalho às seis e espera pelo jogo a que quer assistir até às 21 ou 21:30 horas. Tem que petiscar ou jantar, tem que pagar o bilhete, que nunca é barato para as bolsas de quem vive do salário, e chega a casa por volta da uma da manhã.
Referiu-se também à enormidade dos estádios, quase todos construídos com dinheiro nosso, e à escassez de público. Uma vez mais tem razão. Os portugueses, a maioria dos portugueses, gosta de ver o seu clube ganhar, mas pouco se importa com a qualidade do espectáculo. Por isso, se opta pelo sofá e pela pantalha, sabe, pelo menos, que não perde dinheiro.
O panorama é desanimador, e eu não me admiro que assim seja. Afinal, não nos podemos esquecer de quem está à frente, no nosso país, do destino da modalidade mais popular em praticamente todo o mundo. Embora nos dispensemos de citar aqui os escândalos que corroem e desacreditam o futebol profissional, porque são do conhecimento de todos, não resistimos a denunciar mais um caso, dramático para muitos atletas profissionais que se encontram no desemprego. Contrariamente ao que acontece em quase todos os países da UE, esses desempregados não se podem inscrever em clubes fora dos prazos estipulados pela UEFA. Ninguém encontra razões para tal. Talvez porque, na verdade, não haja razões. Entretanto, esses jogadores, sujeitos como muitos outros profissionais ao mercado do trabalho, engrossam o exército de desempregados e recebem o subsídio de desemprego. Ou seja, não jogam, treinam por favor deste ou daquele clube e recebem dinheiro que bem mais falta faz faria em outras mãos.
Claro está que não rebateram os argumentos do treinador. Claro está que não o confrontaram directamente, e para isso tiveram possibilidade nas semanais conferências de imprensa ou nos desenrascas em que os jornalistas são peritos. O que acontece é que é difícil falar com quem sabe, sobretudo, quando formadores de opinião, desportiva ou outra, se limitam a assumir-se como meros pés de microfone. A expressão não é minha, corre por aí, e parece que toda a gente sabe o que ela significa.
Houve quem escrevesse que o dito treinador, ao longo da sua carreira, ainda não ganhou nada. Argumento de peso!!! Pior, houve quem desse a entender por escrito que o holandês não devia pronunciar-se sobre coisas cá do sítio pelo simples facto de ser estrangeiro. Portanto, prestem atenção os milhões de emigrantes portugueses que temos espalhados por esse mundo fora: quando, ao fim do dia laboral, se sentarem num bar com os companheiros a beber a cervejola da praxe e do alívio, nada de comentários sobre as condições, o exercício e o mundo do trabalho. Sois estrangeiros, mesmo no espaço paradisíaco que é o da União Europeia.
Mas o que disse, afinal, o holandês?
Disse pouco, mas o pouco que quis dizer ou o disse, disse-o com propriedade. Aliás, todos os que gostam realmente de futebol – o maior fenómeno social do século XX, na opinião de um conhecido pensador – assinariam de cruz as suas afirmações.
Primeiro, declarou ele, o futebol que se pratica no nosso país é violento (não confundir com dureza). O
que é verdade. Há jogadores nos nossos campos, agora digo eu, que se habilitam a partir quatro ou cinco pernas alheias por campeonato sem que nada lhes aconteça. São de clubes grandes, obviamente. Sublinhou, o holandês, que o público é roubado, porque paga demasiado para o espectáculo que lhe é oferecido. O que é mais uma vez verdade. Disse, com a frontalidade que os nossos escreventes não gostam, que é uma barbaridade a hora a que se joga futebol no nosso país. Será mentira?
Vejamos alguém que trabalha em Lisboa e vive no Seixal, um exemplo. Sai do trabalho às seis e espera pelo jogo a que quer assistir até às 21 ou 21:30 horas. Tem que petiscar ou jantar, tem que pagar o bilhete, que nunca é barato para as bolsas de quem vive do salário, e chega a casa por volta da uma da manhã.
Referiu-se também à enormidade dos estádios, quase todos construídos com dinheiro nosso, e à escassez de público. Uma vez mais tem razão. Os portugueses, a maioria dos portugueses, gosta de ver o seu clube ganhar, mas pouco se importa com a qualidade do espectáculo. Por isso, se opta pelo sofá e pela pantalha, sabe, pelo menos, que não perde dinheiro.
O panorama é desanimador, e eu não me admiro que assim seja. Afinal, não nos podemos esquecer de quem está à frente, no nosso país, do destino da modalidade mais popular em praticamente todo o mundo. Embora nos dispensemos de citar aqui os escândalos que corroem e desacreditam o futebol profissional, porque são do conhecimento de todos, não resistimos a denunciar mais um caso, dramático para muitos atletas profissionais que se encontram no desemprego. Contrariamente ao que acontece em quase todos os países da UE, esses desempregados não se podem inscrever em clubes fora dos prazos estipulados pela UEFA. Ninguém encontra razões para tal. Talvez porque, na verdade, não haja razões. Entretanto, esses jogadores, sujeitos como muitos outros profissionais ao mercado do trabalho, engrossam o exército de desempregados e recebem o subsídio de desemprego. Ou seja, não jogam, treinam por favor deste ou daquele clube e recebem dinheiro que bem mais falta faz faria em outras mãos.